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20 anos

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20 anos

I've made mistakes, I'm just a man

Meu dedo brinca na borda do copo enquanto estou sentado na poltrona em frente a porta, meus olhos travados a espera que ela entre por ali a qualquer momento. Depois do show em Nova York peguei o primeiro jato disponível e voei de volta para casa.

De volta para ela.

Só para encontrar o vazio da casa que costumava ser nossa, a ausência das nossas fotos pelas paredes do nosso quarto que encontravam-se agora guardadas em uma pilha dentro do closet.

Vazio.

Ela não deixou nada, se não fosse pelas fotos dificilmente alguém acreditaria que ela viveu sob esse teto comigo. Quando eu viajei levei mais que o necessário mas deixei umas peças porque eu sabia que ia voltar, eu queria um pretexto para voltar, mas Lara pensa diferente.

Sorvo um gole do líquido âmbar que desce queimando minha garganta quando ouço o clique tão conhecido na porta de casa mas como sou um pobre diabo, é claro que não é ela.

"Cara são fodidamente oito da manhã e você tá bebendo o que? Conhaque?" David aponta para meu copo e me dirige um olhar de reprovação. "Tem hora para beber agora?" Sorvo mais um gole o encarando sobre a borda do copo e o observo se jogar no sofá depositando umas sacolas no chão próximo a mesa de centro. "Que merda é essa?" Aponto para os sacos e ele sorri rapidamente e começa a falar. "Essa merda..." ele tira alguns conteúdos dos sacos antes de continuar. "É comida". Ele volta o olhar pelo cômodo com caixas de comida vazias em todas as superfícies imagináveis e me reprova novamente. "Comida de verdade eu quero dizer".

Concordei enquanto bebia um pouco mais, virando todo o conteúdo do copo de vez e levantando para servir mais. Ao me aproximar do bar tirei a tampa da garrafa de cristal e enchi o copo até a borda, sei que não é a forma certa de beber conhaque mais quem está para se importar com isso aqui não é mesmo?

Meu melhor amigo me olhava como se eu fosse um filhote de cachorro abandonado, talvez eu me sinta como um. Me viro e volto para a poltrona erguendo o copo em direção a ele que me observa de uma maneira que me deixa desconfortável. "Há quantos dias você não toma banho?" Minhas pernas estão afastadas e estou sentado na posição mais confortável que encontro para meus músculos doloridos. "Meu último banho foi antes de embarcar". David cresce os olhos. "Ou seja, quatro dias atrás?" Dei um sorriso longe de ser feliz. "Quem está contando não é mesmo?" Olho pra baixo e vejo que ainda uso a mesma calça jeans escura que estava no dia do desembarque, apenas tirei a camisa, meus coturnos ainda estavam nos meus pés, meu cabelo agora oleoso se encontrava preso em um coque no alto da cabeça.

O alarme apita no meu cérebro quando ouço novamente o clique na minha porta porque além de David não vejo mais quem poderia ter nossa chave, além dela.

Mas se é possível que eu me sinta mais miserável, não era ela.

"Onde está minha irmã, Harry?" Carla caminha a passos duros em minha direção, joga a bolsa com força no sofá quase atingindo David, mas vejo que ela está tão furiosa que isso realmente nem chama atenção dela. "Se eu soubesse onde ela está, eu estaria aqui nessa poltrona, Carla?" Abro os braços tentando provar um ponto. Ela pondera por um momento, seu olhar furioso intercalando entre mim e David, antes de se voltar completamente para mim. "Onde Lara está porra?"

Carla avança em minha direção e me ataca com vários tapas, deixo ela vomitar sua raiva e frustração em cima de mim porque eu mereço e sei disso. David levanta e segura Carla pelo ombro a puxando delicadamente para longe de mim e sua fúria muda de direção. "Você maldito não me toque!" David a segura pelo ombro enquanto ela respira tão forte que seu corpo inteiro parece tremer com o esforço. "Carla, olha para mim". David parece implorar e ela por fim cede desviando o olhar em direção a ele. "Ele não sabe onde ela está, eu juro". Ela ri sarcasticamente e me dirige um olhar fulminante. "E eu devia dar credibilidade ao que vocês dizem? Exemplos de homens no que tange honestidade?"

Como se tivesse sido atingido por um golpe David se fasta dela e com a expressão de alguém que parece ter sido fisicamente ferido ele começa. "Eu não fui nada menos que honesto com você Carla. Eu..." Ela o interrompe com uma mão em frente a seu rosto em sinal de que ele pare de falar. "Foda-se você David, eu não estou aqui para falar da gente, o que por sinal não existe mais e muito menos falar com você. Meu assunto é com ele". Seu dedo aponta em minha direção, seus olhos suspeitosamente brilhantes com lágrimas que ela luta para não deixar cair.

"A última notícia que tive dela foi de um hospital onde aparentemente..." Ela faz sinal de aspas com os dedos. "Ela ficou internada por alguns dias antes de sumir, o quarto que ela alugou foi desocupado pouco tempo depois que ela deixou o hospital, e eles não me deram nada porque é ilegal falar sobre prontuário de pacientes e pelo telefone eles não tinham porque acreditar que sou sua imã". Por fim ela senta no sofá e segura a cabeça entre as mãos, levantando logo em seguida e jogando seus longos cabelos loiros para trás. "Ed foi o último a ter contato com ela e aparentemente não a viu após sua saída do hospital".

Bebi todo conhaque que havia no copo ao ouvir o nome do maldito bastardo, mas mantive minha merda junta porque perder o resto da minha sanidade não seria um bom negócio. Eu amo minha cunhada e resolvi amenizar um pouco do drama. "Amo você Carla, realmente amo. Mas eu preciso que você saia". Peguei os dois de surpresa que me olharam enquanto eu me colocava de pé. "Vou tomar um banho para melhorar a minha aparência de merda e vou atrás da minha mulher".

Recuperada do choque, Carla se coloca em pé também. "Ex mulher, eu soube o que aconteceu e conhecendo minha irmã, você nunca vai te-la de volta, confie no que eu digo". Olho pra meus coturnos que nunca pareceram tão interessantes até esse momento, onde tomo várias respirações em busca de controle, meu indicador e polegar apertando a ponte do meu nariz enquanto minha outra mão descansa no meu quadril e por fim eu a olho novamente. "Eu amo você, mas não fale sobre o que não sabe, você não sabe exatamente o que aconteceu ou não e nem ela. Apenas saia por favor e leve David com você".  

Dei as costas e subi as escadas sem olhar para trás confiando que eles fizeram o que eu pedi e depois de colocar a cabeça no lugar eu vou atrás da minha mulher.

Amor se você puder me dar apenas à chance de explicar, nós podemos começar de novo porque sem você eu não existo mais.


Notas:  Obrigada a quem vai continuar aqui no livro dois e muuuuito obrigada por todos os votos, comentários e mensagens que vocês tem mandado. Eu amo meus livros mas Her é especial demais para mim. 

Gratidão a todos vocês. 

Wasted Love / Rebirth - hesOnde histórias criam vida. Descubra agora