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20 anos

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20 anos

I watched you break me and now you blame me

O frio londrino pode castigar, mas acho que nada pune mais que a solidão. Enquanto o sol se esconde atrás de nuvens carregadas e cinzas, eu me encontro encostada no batente da janela com os braços em volta do meu corpo observando e esperando as primeiras gotas de água despencarem do céu.

Observar o caos lá fora para entender um pouco a bagunça aqui dentro.

O primeiro estrondo rompe em clarões no céu e eu me encolho um pouco e aperto meu casaco em torno de mim e finalmente o céu chora.

Mas eu não. Nesses meses minhas lágrimas secaram.

As primeiras semanas foram difíceis e eu tive a plena certeza que não ia sobreviver a cada vez que eu encarava um espelho e me deparava com uma Lara pálida, meus lábios sem cor, enormes rodas escuras em torno dos meus olhos verdes que encontravam-se opacos, não brilhavam mais.

Sobre tudo que eu achei que sabia sobre o amor, tudo que aprendi eu nunca esperei aprender que o quanto mais alto ele te leva pior será a queda e muitas vezes não há recuperação para os destroços que vão sobrar, apenas juntei meus pedaços e aos poucos me ergui.

Os primeiros dias passei sentada no chão, braços em torno das minhas pernas e escolhi emudecer, não falava nada, as palavras presas na garganta, até que fui encontrada e eu podia ver o desespero nos olhos da minha irmã, mas nada poderia ser feito a respeito.

Eu sinto muito Carla.

Ela cuidou de mim como se eu fosse essa coisa frágil que poderia quebrar a qualquer instante, com qualquer contato mínimo, mas eu já estava quebrada ela não poderia me proteger disso, embora eu sei que ela faria se pudesse.

Ela faria tudo.

A chuva cai sem piedade lá fora e meu coração se aperta dentro do peito, ainda mais, como se isso fosse minimamente possível. Sou retirada dos meus devaneios quando sua voz macia chega aos meus ouvidos. "Ei, fiz chocolate quente". Virei apenas a cabeça para trás e ainda com os braços em torno de mim, num gesto instintivo de proteção, sorri pequeno e gesticulei com a cabeça em agradecimento.

"Tem pedaços extras de chocolate, se você demorar demais vão derreter e não ficar cremosos como gosta". Quando ela está nervosa ela fala demais. E dessa vez meu sorriso é mais aberto o que a faz sorrir e estender a caneca parando ao meu lado e observando a chuva junto comigo, como fazíamos quando éramos pequenas.

"Ele me liga o tempo inteiro procurando por você Larinha". A menção a qualquer coisa que me leve a pensar nele me destrói. "Continue ignorando". Sorvo um gole do chocolate quente, a bebida doce me faz fechar os olhos e suspirar, é quase como um abraço.

Ela abaixa os olhos e encara o chocolate quente como se pudesse arrancar alguma informação dali. "Você pretende contar a ele?" Um calafrio percorre meu corpo e dessa vez não foi causado pelo frio ou os trovões e raios lá fora. "Não. Nunca". Sei que ela não aprova minha atitude, mas eu não consigo falar sobre isso.

"Mana eu acho que..." Não permito que ela continue a falar quando me viro devagar e vou em direção ao sofá bebendo mais do meu chocolate quente e sento com as pernas cruzadas em cima do sofá encarando a lareira que crepita bem diante dos meus olhos. "Não Carla, você não precisa achar nada sobre isso por favor". Dirijo um olhar de súplica em sua direção e por fim ela dá de ombros e senta ao meu lado, agora somos nós duas observando as madeiras crepitarem. "Ele foi um grande amor sabe?" Sinto minha voz me trair e embargar quando começo a falar. "Foi ou é?" Lanço um olhar de lado para ela e continuo. "Ele é, ele sempre vai ser. Realmente ele se fez inesquecível". Bebo mais tentando engolir o caroço que começa a se formar em minha garganta.

"Eu não acho que ele te traiu Larinha... a gente conversou e..." Me viro para ela depois de depositar a xícara vazia na mesa de centro. "Ele não ter me traído não muda as coisas que aconteceram porque eu achei que ele fez. Não muda nada que veio depois". 

 Ela suspira e por fim parece se dar por vencida e termina de tomar seu chocolate em silêncio que dessa vez eu resolvo quebrar. "Eu vou voltar, passaram-se quase três meses". Carla engasgou com a bebida me fazendo dar tapinhas em suas costas. "Tem certeza que você está pronta para isso?" Eu suspiro e volto a posição inicial. "Eu não vou saber até tentar". Sua confirmação tímida com a cabeça me fez ver que realmente já está na hora.

Está na hora de voltar para minha vida.

Sem ele. 


Notas: Irmandade né bebes? 

Eu amo as minhas meninas. 

O que será que espera Lara?

Votem e comentem.

Gratidão. 

Wasted Love / Rebirth - hesOnde histórias criam vida. Descubra agora