Caminho em silêncio mas é gostoso, calmo, gentil, seguro, algo que não tem dúvidas do que é do que nasceu para ser; O silêncio.
Sem discordar a Sra. Carla deixa Ícaro sair um pouco comigo, diria até que ela ficou super animada de ver o filho sair de casa para variar, só nós pediu para não demorar muito, mas como amanhã já entra o fim de semana então não tem aula é uma desculpa a mais para não chegar tão cedo.
- Onde está seu pai? - Pergunto para puxar assunto
- Ele trabalha em uma seguradora de imóveis - Ícaro informa tímido - Deve chegar em casa daqui a pouco.
- Aham. - faço. - Você tá bem? - pergunto preocupada
- Não consigo enxergar muito bem a noite. - Ícaro diz com uma sombra de riso e desgosto na voz.
- Eu te ajudo. - digo com um sorriso pegando ele pela mão, não dou chance dele recusar, o puxo pela calçada não tinha percebido mas o parque da cidade fica aqui perto - Vem, anda mais depressa.
Ouço ele rir baixinho, tem muitas pessoas circulando dentro do parque é Finís afinal, sempre vai ter alguém no parque ou na praia com toda certeza, no centro na entrada tem uma fonte com bancos fazendo um retângulo, de um lado um tipo de jardim, do outro mas a frente um espaço com grama que as crianças usam de campinho de futebol, mas para dentro é que começa uma especie de mini-reserva com trilhas, mata mais fechada, tudo bem cuidado, com vendedores de algodão doce, sorvete, balões e de tudo um pouco circulam chamando a atenção das pessoas que visitam o parque para sair um pouco do meio do concreto.
Arrasto Ícaro para meu lugar favorito, no caminho compro pipoca para a gente e refrigerante para ele, deixo o movimento frenético de pessoas um pouco para trás encontro um banquinho com a vista para o lago mas a frente em volta de árvores mais distantes se forçar a vista se pode ver uma cerca que limita o caminho para os visitantes, como minha pipoca em silêncio.
- Obrigada por vir comigo. - solto sem jeito
- Eu convidei... Então você que veio comigo. - ele aponta, não evito sorrir, é tão fácil ser verdadeira quando é com esse garoto tímido sem jeito.
- Não costumar sair muito não é? - Digo com uma sobra de riso
- Por que?
- Sua mãe... Ela quase te forçou a vir... - começo a rir baixo
- É.… Acho que já estou acostumando meus olhos a escuridão. - A voz dele sai dura, meu sorriso morre de uma vez
- Como assim?! - pergunto assutada.
- Esquece... - Ícaro fala sem emoção, vejo ele esfregar os olhos com força.
- Não... Eu quero saber Ícaro... Você me deixou preocupada agora.. - digo com pressa, por um instante ele encontra meus olhos e lá fica vejo seu olhar tão firme, profundo, mesmo em pouca luz vejo o tom castanho deles me forço a continuar o olhando, seu cabelo crescido cai fácil na testa o seu óculo se firma no seu nariz, seus lábios estão finos em uma expressão dura, seu queixo levemente largo se contrai em irritação, meu coração pulsar forte de uma vez me assustando, o que foi isso?! - O que quer dizer? - me forço a falar olhando para o horizonte noturno, meu rosto esquenta quando sinto ele soltar o ar perto de mim.
- Você literalmente não precisa saber Sabrina. - Ícaro fala duro, firme, me pergunto para aonde foi o nerd e tímido.
- Qual é Íck! - digo irritada me movo a encara ele sentado ao meu lado.
- Não me chame assim. - Ícaro diz firme
- Então me conta!
- Droga! - Ele diz zangado, Ícaro se levanta do banco com raiva, assisto ele jutar a grama crescida resmungando, ele tira os óculos tentando de alguma forma não quebrar. - O que quer que eu diga!? em?! - ele grita, não o respondo evito o olhar, pelo meu silêncio ele se acalma, respira fundo e volta a se sentar no banco com os braços apoiados nos joelhos ele brinca com a armação do óculos - Desculpe por isso... É que... Não sei como dizer...
- Tudo bem, - digo gentil toco o ombro dele em apoio mas logo recolho minha mão de volta - Começa do começo.
- Certo eu... Só que eu não gosto de falar sobre isso... - Ícaro informa cansando - Quando eu tinha... Sei lá cinco anos, eu vivia esbarrando nas coisas... Meus pais me levaram ao médico... E.. É - o garoto encara a terra tentando resumir sua historia - Eles falaram de Glaucoma. - Deixo que a voz dele soe no ar, sei quase nada sobre esse assunto - Naquele tempo... Eu tinha pouca visão periférica, agora ela é nada, é como olhar pelo um túnel... A noite é pior. - ele explica sem saber se precisa - Tenho que fazer uma cirurgia de córnea... Mas não tenho doador.
- Mas.... Você está na fila de espera não é...
- Eu e outros milhões de pessoas... - Ele respira cansado, o vejo secar o rosto sem jeito - Estou nesta fila a muito tempo Sabrina... Anos... É só uma questão de tempo para não ver mais...
- Eu queria poder ajudar. - digo com vergonha.
Ele escolhe o silêncio, o som das vozes das pessoas pelo parque se faz presente aos meus ouvidos, o som dos motores dos carros nas ruas parece um fundo musical.
- Quando tempo... Para perder... - não encontro as palavras para perguntar.
- Não tem como saber.… Posso ir perdendo aos poucos dia após dia... Como posso simplesmente acordar... E... - Ícaro não continua ele deixa que o silêncio fale.
- O que gostaria de ver... Antes... Que isso aconteça? - reúno minha coragem para perguntar.
- Eu não sei - ele rir pelo canto da boca sem me olhar, ele cruza os braço no peito sentando relaxado no banco, isso me relaxa - Devia quere ver algo?
- Acho que sim... Deve ter alguma coisa que queira conhecer, ver. - dou de ombro sem jeito
- O que gostaria de ver... Se estivesse em meu lugar? - Ele me devolve a pergunta
- Acho que um céu repleto de estrelas estaria na minha lista. - digo desenhando o céu com a mão - Daqui de Finís não dar para ver...
- Acho que... Esse pode ser o primeiro da lista. - Ícaro fala com um sorriso triste - Claro se você... Quiser fazer isso comigo...
- Vou adorar. - digo rápido animada - Começa amanhã a noite, vamos ter que ir a um lugar fora da cidade... Tudo bem pra você?
- Sem problema. - ele diz sem ânimo - Onde exatamente?
- Eu pego você na sua casa.
- Aqui no parque. - ele corrigi
- Okay. - aceito - Vamos listas quantos pontos?
- Até que aconteça a noite eterna. - Ícaro fala com seu sorriso triste, estendo minha mão em um aberto ele concorda aceitando. - Não vai custar...
- Se permita viver isso, Okay? - perço preocupada - Aprecie.
- Vou apreciar cada instante. - a voz dele entra como uma faca no meu peito eu não entendo o porquê.
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Votem estrelinhas!!
Comentem corações!!
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O Brilho da Lua
SpiritualSabrina Jim pediu para Brilhar, desejou com todo o seu ser ter um Brilho, mas não um comum ou qualquer Brilho. Pediu o Brilho da Lua, um brilho que não é próprio mas de algo bem maior que ela. Quando sua mente enfim para de focar no que Ela tem que...