A Lenda dos Esgotos

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Quando criança uma das lendas que mais me dava medo, era aquela sobre os monstros que viviam no esgoto, porque se você for pensar, o esgoto esta em todos os lugares, abaixo de nós e as vezes até perto da superfície, como córregos, e bueiros. Esse meu medo era mesmo irracional porque não existem monstros...

Porém outro dia eu estava vadiando na internet, e me deparei com um site de fotos aleatórias, uma delas era de um ser no esgoto, essa foto se originava de um vídeo, da qual eu pude vê-lo mais nitidamente. Ele se parecia com uma pessoa, mas com a pele toda rachada e pelos em alguns lugares do corpo. Eu primeiramente achei o fato curioso e depois tive a ideia lúcida de que aquilo era uma montagem feita com algum programa gráfico.

Em outro fim de semana um amigo meu veio dormir na minha casa, eu comentei e mostrei para ele o vídeo, e ele sentado ao meu lado na mesa do computador, me olhou com aquela cara de idiota que queria dizer "Acho que deveríamos tirar isso á prova", nem eu sei como aquela cara de banana quis dizer tudo isso, mas disse.

Eram por volta de seis da tarde quando descemos minha rua em direção a uma avenida pouco movimentada, andamos por cima de uma ponte, passamos por um bar, e chegamos ao beco onde uma grade nós separava da entrada para uma galeria de esgoto, a grade tinha uma lateral solta por onde, provavelmente alguns viciados passavam para se esconder e fumar um.

Quando passamos por debaixo do arrame e estávamos mais perto da entrada, eu quis desistir quase que instantaneamente, era um cheiro de bosta... misturado com todos os outros cheiros mais deploráveis juntos formando uma densa fumaça meio verde, não era algo muito natural, por isso achei que definitivamente não era uma boa ideia entrar ali, nem continuar ouvindo meu amigo que já estava com um pé dentro do esgoto e outro na lama. Não era uma coisa muito recomendada para se fazer em um sábado a noite.

Em questão de segundos quando eu já estava do outro lado da grade e indo em direção á rua meu amigo começou a pular e gritar cantarolando "Bundãaoo...frouxooo...cu de frangooo!!", esses apelidos são... uma longa história, mas o fato aqui é que meu amigo é mesmo um idiota, quando eu estava saindo do beco em direção á rua ouvi um barulho de tamba de ferro sendo arrastada, e em seguida o ouvi chamar meu nome. Ele havia achado um bueiro que ia ainda mais fundo naquela fossa, ele também tinha tirado a tampa, e ensaiava descer lá em baixo. Eu fiquei parado na calçada impaciente, gritando para que ele voltasse comigo para casa, e parasse que ser idiota.

Do outro lado da rua estava Ingrid, uma gostosa da minha escola, eu fiquei olhando ela andando em direção ao mercadinho... eu adoro vê-la andar. Esse tempo em que me distrai, foi o tempo do meu amigo sumiu. Quando olhei para traz ele não estava mais lá, e a fumaça mesmo sendo tão densa, ainda transparecia o que havia em volta.

Andei até o bueiro, que estava aberto, olhei para dentro, certo de que não veria nada, afinal já estava anoitecendo, mas o que vi ali dentro foi muito surreal e impactante, não só pela violência daquele ato, mas por meus antigos medos terem se tornado realidade.

Quando meus olhos se adaptaram a escuridão, pude ver um ser, um tipo de homem baixinho, muito magro com a pele quase que despedaçada, ele tinha algumas escamas na pele, e estava devorando meu amigo, que eu apenas reconheci pela roupa, já que ele não tinha mais quase cabeça, nem braços. Pelo que parecia ele fora mastigado vivo, começando pela cabeça, por isso eu não havia ouvido gritos, e agora o monstro tentava arrancar o outro braço.

E eu ali olhando a cena, como quem observa um cachorro roer um osso. Porque no fundo eu sabia que aquilo existia, mas eu rejeitava essa ideia, eu me afastei um pouco da borda, sentindo muita vontade de vomitar, mas esbarrei naquela tamba enorme de ferro... Foi quando o monstro me viu, ele me olhou ferozmente, com aqueles olhos amarelos, e sua boca coberta de sangue e carne, meu coração quase saiu pela boca quando ele pulou esticando o braço em minha direção, mas parecia ser alto demais para ele. A tampa que estava na lateral parecia bem pesada, e era. Eu a arrastei em direção do buraco do bueiro, e ouvi a criatura gritando de raiva, o barulho parecia com um grito de zumbi, mas eu não tenho muita certeza, acho que ele sentia raiva por não poder me devorar também. Eu fechei o bueiro e corri, meu amigo ficara para trás e agora eu teria de arranjar uma desculpa para explicar o porque ele não voltaria mais para casa, para os meus pais e para os dele. Estou escrevendo essa lenda urbana real para avisar as pessoas, que tomem muito cuidado, pois existem muitos bueiros na cidade... 

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