N.A : baseado em uma história BEM real. Choremos.
As mãos suavam, junto com o desconforto que o assento vermelho do restaurante japonês causava, a meia luz do outro lado da mesa, ela via os olhos verdes que ela tanto desejou estarem voltados para ela, quase cobertos por um cabelo escuro que crescia rápido demais.
Ele era tão lindo.
Olhou ao redor mais uma vez, para encontrar novamente a garçonete os encarando fixamente, e tentou um meio sorriso.
"Droga, até eu tenho pena de mim mesma agora."
Porque do outro lado dos temakis e sushis, o cara dos olhos mais verdes do mundo, tinha as íris atentas a tela do seu celular, pela milésima vez, Maria Júlia tentou usar um hashi como se deve e puxar um assunto. Poderia ser qualquer um, até como o irmãozinho dele era uma gracinha, sobre a viagem dele para Machu Picchu, sobre como andava a faculdade, até sobre música, poderia ser até a última vez dele no barbeiro. Ela estava desesperada, qualquer coisa servia.
- Ei - ela começou, desistindo largando o hashi, tentando chamar a atenção do rapaz - Ou, tá me escutando?
Ele levantou a cabeça. Finalmente. Fi-nal-men-te.
Isso vez uma pequena chama de esperança brotar no peito de Maria Júlia.
- Oi, desculpa, você estava falando sobre...? - e eu abriu um meio sorriso.
Maria Júlia suspirou, ela não podia desistir, não agora que ele tinha reparado nela, não agora, que depois de meses, ele tinha a convidado para sair, e afinal, todos merecem uma chance, todos sem exceção.
- Se você soubesse que vai morrer daqui 24 horas, o que você faria?
Não tinha como falhar, depois de uma hora e meia dúzia de palavras trocadas, ela faria ele conversar, nem estava interessada mais no depois, agora o objetivo era pelo menos uma conversa de verdade.
Silêncio
Depois de tanto tempo se encarando, Maria Júlia podia contar todos os cílios que que ele tinha, que aliás eram maiores que os dela, ou talvez Maria Júlia seja um tanto quanto ansiosa. E detalhista também.
- Eu... não sei, aproveitaria o máximo que eu pudesse.
Ele deu de ombros
Tanta expectativa, para nada. Maria Júlia não queria isso, é claro que aproveitaria, quem não? Ela queria mais. Muito mais. Um plano concreto, bungee jump, assaltos a banco, montanhas russas, sequestros e verdades na cara de algumas pessoas. Ela queria profundidade, e não respostas genéricas, se não fosse o movimento tão natural que o peito dele subia e descia, ela podia jurar que acabara de ter um encontro com o Ken paraguaio, um boneco.
Ela pegou um dos temakis com as mãos, já não ligava mais. Perdeu a paciência.- Mas como você aproveitaria?
Maju não caia sem lutar
- Sei lá, tentaria voltar com a minha ex, falaria que eu te amo pra garota que eu tô afim, sei lá, não faço ideia.
E ele pegou o celular novamente.
Maria Júlia se sentia frustrada. E de barriga fazia, quem disse que peixe cru mata a fome de alguém?
Ela se levantou num rompante assustando o cara/ Ken falso pegando a bolsa para pagar metade da conta.
- Na boa, você é até legal, mas não tem como, se fosse pra sair com alguém que não tá nem um pouco interessado eu nem tinha vindo, e eu nem gosto dessa merda de peixe cru, toma ,paga aí, tô vazando. - disse já saindo da mesa
- Ei, Mariana, calma, a gente nem terminou de comer, meu.
Finalmente ele tinha reparado na presença dela, já não era sem tempo.
- Meu nome é Maria Júlia, mano. Se liga, eu hein.
E saiu do restaurante japonês, puta,com fome, e com todas as expectativas jogadas no chão e pisadas no momento em que ele errou o nome dela, ou antes disso, quando ele respondeu todas as perguntas com um " aham"
A garçonete loira de rabo de cavalo, dava risada quando ela saiu pela porta do restaurante tentando não voltar lá e xingar o garoto.
- Se você não tivesse feito aquilo, eu faria.
Babaca do caralho. foi isso que a avó disse quando ela chegou em casa contando tudo, e ela quis morrer, quando mais tarde do stories do Instagram, existia um foto do assento vazio, com a legenda " Porque hoje, são todos superficiais?" ela quis morrer.
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Todas as Palavras Que Não Foram Ditas
Teen FictionTudo que eu sempre quis dizer, mas só consegui escrevendo.