4. Quebrando Regras

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15. Olhares

Era sábado e Miranda me chamou para ir ao supermercado com ela. Eram nove da manhã, mas mesmo assim eu estava bem animada, fazia tempo que eu não saia somente com Miranda, e ela era uma pessoa incrível, que eu queria do meu lado.
Eu me lembro de quando ainda éramos pequenas e a gente corria pelo orfanato como loucas, como da vez que estávamos tão eufóricas que acabamos quebrando um dos milhares de vasos espalhados pelo prédio e escondemos os pedaços, só depois de um ano descobriram que ele tinha sumido, mas nunca descobriram que foi a gente. Também lembrei sobre o nosso primeiro beijo aos doze anos, estávamos nervosas, mas aquilo não parecia algo errado. Crescemos juntas e agora podemos continuar assim.
Eu estava dentro do carrinho enquanto ela empurrava, na minha mão tinha a lista de compras que ela pediu para eu verificar sempre que colocava algo dentro do carrinho. Olhei para ela, erguendo a minha cabeça, que sorriu para mim de uma forma boba. Fui pegando algumas coisas das prateleiras próximas de mim enquanto ela pegava algumas coisas mais acima.
- Você nunca foi tão prestativa como está sendo hoje – ela diz, com um sorriso no rosto.
- Para! – digo, rindo indignada – Eu fui muito útil pra você no orfanato, você nunca reclamou.
- Eu só estava brincando, mas falando sério, obrigado por sempre estar do meu lado, fico feliz que tenhamos parado na mesma cidade.
- Pois é, mas não diria que estou feliz aqui nessa cidade. Aqui é estranho, cheio de segredos e... monstros.
Quando eu disse essa palavra, as pessoas olharam de cara feias para mim, mas eu não desviei o olhar, odeio que me encaram, mas dessa vez não vou tolerar.
- Eu sei que pode ser difícil, mas temos que ficar aqui, pra onde iríamos sem esse lugar? Eu nunca mais quero ir pra um orfanato – Miranda diz, parando o carrinho e mexendo com carinho no meu cabelo.
Além da falta de recursos em algumas épocas do ano, não éramos tratadas bem, as coordenadoras, a maioria delas, nos tratavam como se fôssemos gado, na verdade, acho que nem gado deveria ser tratado assim. Não tínhamos amor, carinho ou o mínimo de respeito, qualquer coisa errada éramos punidas com trabalhos de limpeza ou punição física. Ainda consigo ouvir o barulho das cintas nos meus sonhos. Gritei, briguei e cheguei a ir para cima de uma coordenadora quando ela quis castigar a Mary por não fazer a lição.
- Eu também não - digo depois de pensar um pouco - mas eu só queria que nos contassem o que porra está acontecendo com a merda dessa cidade e não agissem de maneira estranha quando falamos sobre isso – olho para todas as pessoas que me olharam antes com cara feia.
Miranda se aproxima de mim.
- Você vai achar um jeito de descobrir tudo, eu sei que você vai – ela diz no meu ouvido.
Eu não falo mais nada, só fico pensando nisso, preciso de respostas o mais rápido possível.

16. Festa do pijama

Já se passou uma semana deste que comecei no colégio da cidade, e Sam disse que seria uma boa idéia se Ally e Keila viessem na nossa casa para fazermos uma festa do pijama. Eu não estava muito confortável com isso, mas aceitei mesmo assim.
Mary estava pulando de um lado para o outro quando as garotas chegaram antes dás 14h, e elas passariam a noite aqui.
- Eu tô falando – diz Keila, abraçando Mary – A gente deveria ter ido pro shopping.
- Mas eu não estou a fim de pegar nenhum ônibus – Sam diz, prendendo o cabelo.
Eu já vi alguns ônibus pretos passando em frente a minha casa, mas nunca liguei tanto para eles.
Tomamos sorvete enquanto Keila contava de uma ex dela que morava na Argentina, Ally contou sobre um ex-namorado que era bem chato, que até me deu sono só dela contar, Sam só ria das histórias, e eu acabei contando da Miranda.
- Miranda sempre foi super gentil comigo – começo – Mas confesso que tive medo do que ela faria quando a gente terminou, mas hoje em dia está tudo bem.
- Aquela coisa velha foi ela que te deu, né? – pergunta Ally.
- O Mp3? Foi sim, eu não chamaria de coisa velha, mesmo sendo. Eu acho que é algo muito importante pra mim.
- Você saiu com ela hoje, não saiu? – Sam pergunta, lavando a tigela que ela usou pra tomar sorvete.
- Sim, fomos no supermercado – respondo, com um pouco de sorvete na boca – por que a pergunta?
Sam fica em silêncio por um momento.
- Nada – ela responde e sobe para o quarto.
Vejo que Ally e Keila se olham.
- Que porra foi essa? – Keila pergunta.
- Eu... – digo, rindo – não sei.
Horas depois, nós jogávamos Uno no meu quarto. Espelhamos as almofadas por todo lugar e os cobertores estavam largados para amaciar o chão que sentávamos. Consegui ganhar três vezes de quatro rodadas, nessa rodada, Sam perdeu e foi pra trás de mim, colou seu corpo no meu e me ajudou a com o jogo.
Lana Del Rey tocava no meu novo notebook, Mary dançava na frente do espelho enquanto jogávamos porque rodadas atrás ela se irritou porque perdeu e jogou o bolo de cartas na minha cara.
O meu celular toca e vejo que Jhonny me ligava, me desgrudei de Sam e levantei.
- Jhonny? – digo.
- Tá sozinha? – ele pergunta.
- As garotas estão aqui, estamos fazendo uma festa do pijama.
- Ah, mas a ligação tá no alto-falante?
- Não, por quê?
- Ótimo, vai no computador e coloca no mapa.
- Mas por quê?
- Só coloca logo – Jhonny diz, respirando fundo.
Vou até o notebook que está em cima da mesa.
- Não deixa as garotas verem, elas ficariam putas comigo se soubessem o que quero te mostrar – Jhonny diz, preocupado.
Viro a tela do notebook para que as garotas não vissem.
- Tá, entrei – digo.
- Se lembra que eu te falei sobre as áreas restritas? – Jhonny perguntas, se referindo ao primeiro dia de aula.
- Lembro.
- Elas ficam no lado oeste da cidade - Jhonny diz – Agora coloca a localização da cidade e veja a floresta no lado oeste.
Faço o que Jhonny pede, mas não entendo o que ele quer mostrar.
- Eu não estou entendendo – digo.
- Olhe as árvores, preste bem atenção, de cima pra baixo.
Presto bastante atenção...
- Rose... – diz Jhonny.
E finalmente consigo ver.
- Elas não são reais, são recordes colados em cima do mapa. Eles querem esconder algo da gente.

17. Destruída pela vegetação

Quando há chuva lá foraOnde histórias criam vida. Descubra agora