15. Olhares
Era sábado e Miranda me chamou para ir ao supermercado com ela. Eram nove da manhã, mas mesmo assim eu estava bem animada, fazia tempo que eu não saia somente com Miranda, e ela era uma pessoa incrível, que eu queria do meu lado.
Eu me lembro de quando ainda éramos pequenas e a gente corria pelo orfanato como loucas, como da vez que estávamos tão eufóricas que acabamos quebrando um dos milhares de vasos espalhados pelo prédio e escondemos os pedaços, só depois de um ano descobriram que ele tinha sumido, mas nunca descobriram que foi a gente. Também lembrei sobre o nosso primeiro beijo aos doze anos, estávamos nervosas, mas aquilo não parecia algo errado. Crescemos juntas e agora podemos continuar assim.
Eu estava dentro do carrinho enquanto ela empurrava, na minha mão tinha a lista de compras que ela pediu para eu verificar sempre que colocava algo dentro do carrinho. Olhei para ela, erguendo a minha cabeça, que sorriu para mim de uma forma boba. Fui pegando algumas coisas das prateleiras próximas de mim enquanto ela pegava algumas coisas mais acima.
- Você nunca foi tão prestativa como está sendo hoje – ela diz, com um sorriso no rosto.
- Para! – digo, rindo indignada – Eu fui muito útil pra você no orfanato, você nunca reclamou.
- Eu só estava brincando, mas falando sério, obrigado por sempre estar do meu lado, fico feliz que tenhamos parado na mesma cidade.
- Pois é, mas não diria que estou feliz aqui nessa cidade. Aqui é estranho, cheio de segredos e... monstros.
Quando eu disse essa palavra, as pessoas olharam de cara feias para mim, mas eu não desviei o olhar, odeio que me encaram, mas dessa vez não vou tolerar.
- Eu sei que pode ser difícil, mas temos que ficar aqui, pra onde iríamos sem esse lugar? Eu nunca mais quero ir pra um orfanato – Miranda diz, parando o carrinho e mexendo com carinho no meu cabelo.
Além da falta de recursos em algumas épocas do ano, não éramos tratadas bem, as coordenadoras, a maioria delas, nos tratavam como se fôssemos gado, na verdade, acho que nem gado deveria ser tratado assim. Não tínhamos amor, carinho ou o mínimo de respeito, qualquer coisa errada éramos punidas com trabalhos de limpeza ou punição física. Ainda consigo ouvir o barulho das cintas nos meus sonhos. Gritei, briguei e cheguei a ir para cima de uma coordenadora quando ela quis castigar a Mary por não fazer a lição.
- Eu também não - digo depois de pensar um pouco - mas eu só queria que nos contassem o que porra está acontecendo com a merda dessa cidade e não agissem de maneira estranha quando falamos sobre isso – olho para todas as pessoas que me olharam antes com cara feia.
Miranda se aproxima de mim.
- Você vai achar um jeito de descobrir tudo, eu sei que você vai – ela diz no meu ouvido.
Eu não falo mais nada, só fico pensando nisso, preciso de respostas o mais rápido possível.
16. Festa do pijamaJá se passou uma semana deste que comecei no colégio da cidade, e Sam disse que seria uma boa idéia se Ally e Keila viessem na nossa casa para fazermos uma festa do pijama. Eu não estava muito confortável com isso, mas aceitei mesmo assim.
Mary estava pulando de um lado para o outro quando as garotas chegaram antes dás 14h, e elas passariam a noite aqui.
- Eu tô falando – diz Keila, abraçando Mary – A gente deveria ter ido pro shopping.
- Mas eu não estou a fim de pegar nenhum ônibus – Sam diz, prendendo o cabelo.
Eu já vi alguns ônibus pretos passando em frente a minha casa, mas nunca liguei tanto para eles.
Tomamos sorvete enquanto Keila contava de uma ex dela que morava na Argentina, Ally contou sobre um ex-namorado que era bem chato, que até me deu sono só dela contar, Sam só ria das histórias, e eu acabei contando da Miranda.
- Miranda sempre foi super gentil comigo – começo – Mas confesso que tive medo do que ela faria quando a gente terminou, mas hoje em dia está tudo bem.
- Aquela coisa velha foi ela que te deu, né? – pergunta Ally.
- O Mp3? Foi sim, eu não chamaria de coisa velha, mesmo sendo. Eu acho que é algo muito importante pra mim.
- Você saiu com ela hoje, não saiu? – Sam pergunta, lavando a tigela que ela usou pra tomar sorvete.
- Sim, fomos no supermercado – respondo, com um pouco de sorvete na boca – por que a pergunta?
Sam fica em silêncio por um momento.
- Nada – ela responde e sobe para o quarto.
Vejo que Ally e Keila se olham.
- Que porra foi essa? – Keila pergunta.
- Eu... – digo, rindo – não sei.
Horas depois, nós jogávamos Uno no meu quarto. Espelhamos as almofadas por todo lugar e os cobertores estavam largados para amaciar o chão que sentávamos. Consegui ganhar três vezes de quatro rodadas, nessa rodada, Sam perdeu e foi pra trás de mim, colou seu corpo no meu e me ajudou a com o jogo.
Lana Del Rey tocava no meu novo notebook, Mary dançava na frente do espelho enquanto jogávamos porque rodadas atrás ela se irritou porque perdeu e jogou o bolo de cartas na minha cara.
O meu celular toca e vejo que Jhonny me ligava, me desgrudei de Sam e levantei.
- Jhonny? – digo.
- Tá sozinha? – ele pergunta.
- As garotas estão aqui, estamos fazendo uma festa do pijama.
- Ah, mas a ligação tá no alto-falante?
- Não, por quê?
- Ótimo, vai no computador e coloca no mapa.
- Mas por quê?
- Só coloca logo – Jhonny diz, respirando fundo.
Vou até o notebook que está em cima da mesa.
- Não deixa as garotas verem, elas ficariam putas comigo se soubessem o que quero te mostrar – Jhonny diz, preocupado.
Viro a tela do notebook para que as garotas não vissem.
- Tá, entrei – digo.
- Se lembra que eu te falei sobre as áreas restritas? – Jhonny perguntas, se referindo ao primeiro dia de aula.
- Lembro.
- Elas ficam no lado oeste da cidade - Jhonny diz – Agora coloca a localização da cidade e veja a floresta no lado oeste.
Faço o que Jhonny pede, mas não entendo o que ele quer mostrar.
- Eu não estou entendendo – digo.
- Olhe as árvores, preste bem atenção, de cima pra baixo.
Presto bastante atenção...
- Rose... – diz Jhonny.
E finalmente consigo ver.
- Elas não são reais, são recordes colados em cima do mapa. Eles querem esconder algo da gente.
17. Destruída pela vegetação
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Quando há chuva lá fora
Viễn tưởngRose e sua irmã são adotadas e vão morar em uma nova casa. Mas existem regras que elas têm que cumprir, como não sair de casa em dias de chuva. Mas sombras rondam a casa e elas, juntas com Sam, vão se arriscar para descobrir a verdade sobre tudo iss...