2. Abertura

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5. Tempo Calmo

Meus pais chegaram cedo hoje, e com presentes. Já sabia que eles chegariam com algumas coisas para mim e Mary, já que pedimos coisas para a decoração do quarto.
- Bem – começou meu pai, colocando algumas sacolas em cima da mesinha de centro – A Sam estava precisando de um celular novo, então decidimos comprar para as meninas também.
- Espera aí - digo, espantada – vocês compraram três celulares de uma vez só?
- Sim – minha mãe diz, sorrindo – Por quê o espanto?
- Não saiu muito caro, não?
- Não - Márcia diz, como se realmente não fosse nada, eu não sabia o quanto de dinheiro eles tinham, mas naquele momento percebi que era bem mais do que eu pensava. Aquilo tudo, contando os celulares e todos os itens de decoração, deve ter dado uns nove mil reais, mas que merda, enquanto tem pessoas se enchendo de presentes, faltava comida no orfanato e tínhamos que economizar. Cacete, lá faltava produtos de higiene e eles aqui comprando celulares idiotas de uma vez só e parece que nem se importam com os custos.
Nós nos sentamos no sofá e abrimos nossos presentes, eram celulares iguais e aparentavam ser realmente caros.
- Eu sei que presentes não vão conquistar o coração de vocês, mas queríamos dar mesmo assim – minha mãe diz, sorrindo e fazendo carinho no cabelo de Mary.
- Estão felizes? – pergunta o meu pai.
- Muito! – diz Sam, indo abraçar os seus pais.
Cotuquei Mary e sorri para fazer ela sorrir também, e ela sorriu e fomos agradecer pelos presentes.
Depois de algumas horas, estava na minha cama, vendo o celu-lar, Spotify, Netflix, tudo de bom que ouvia as pessoas falando, na palma da minha mão.
Meu mp3 já estava na minha gaveta, mas nunca iria me livrar dele. Ele era mais importante que aquilo. Mas ambos eram pre-sentes, tinha que amar os dois.

***

Sam estava conversando com um amigo, enquanto eu estava sozinha na sala junto com Cassandra, ela me encarava, mas eu não olhava para ela.
- Então, Rose – Cassandra finalmente diz algo – Tá gostando daqui?
- Eu ainda não vi muito do lugar, mas até onde eu vi, eu achei estranhamente bom – eu respondo, olhando para ela sem jeito.
- Estranho, é? – ela sorri só com um canto da boca.
- É – eu acabo rindo – Tem coisas que ainda não sei explicar.
Cassandra se senta mais perto de mim.
- Ninguém aqui sabe bem de nada – ela diz, com um semblante sério – mas não quer disser que não podemos saber.
- Você... – eu estava hipnotizada por ela, o que ela queria disser com isso?
- Quando olhar para fora – Cassandra estava sussurrando - lembre que você tem que fingir que não está vendo nada, mas isso não significa que você não está vendo algo de verdade.
- Tá, é só isso – Sam diz para o telefone, ela fica um tempo em silêncio e depois volta a falar – Boa sorte pra você também, garo-tão!
Sam volta para a sala sorrindo, Cassandra levanta, não sem antes dar dois tapinhas nas costas da minha mão e sorrir de leve, e elas vão para o segundo andar.
Conecto a televisão com o meu Spotify do meu novo celular e coloco The Neighbourhood para tocar. Coloco a minha jaqueta que estava em cima da poltrona do papai, coloco um lençol e umas almofadas no chão, em frente á porta de vidro e me deito. Ainda faltava muito para aquelas coisas aparecerem, mas mesmo assim já sentia o mesmo medo que senti quando aquilo aconteceu. Depois disso, Sam não quis me falar mais nada, tentei ao máximo não ficar chateada.
Mary desce as escadas correndo e ao me ver no chão, se joga ao lado e começa a rir.
- O que foi? – digo, sorrindo,
- Sei lá, eu tô feliz – Mary diz – Tem que ter um motivo pra sor-rir, além de simplesmente estar feliz?
- Não, mas parece que você estava fazendo merda.
- Mas não estava, só estou... – Mary olha para fora – imensa-mente contente... Nosso sonho finalmente se realizou.
Mary me abraça e consigo ver seus olhos marejados. Era tão bom ver ela feliz depois de tanto sofrimento naquele lugar horrível, mesmo Mary sabendo achar felicidade em coisas pequenas.
- Realizamos sim – digo, também chorando.
- Rose, eu te amo – ela diz, me dando vários beijinhos na bochecha.
Começo a rir pelo nervoso que os beijinhos dão.
- Eu também te amo! – digo, também a enchendo de beijinhos.
Mary me abraça e ficamos ali, abraçados no chão, por um longo tempo, até Mary cair no sono.
Saio de fininho e subo para o segundo andar, passo pelo quarto de Sam, que está com a porta semi-aberta e a vejo dando um beijo em Cassandra, dou um passo rápido para trás. Não devia estar surpresa com isso, mas o meu coração acelera de uma maneira que acaba dificultando a minha respiração.
Passo rápido pelo quarto e tento não fazer barulho.
- Rose? – ouço Sam me chamar.
Merda, o que eu fiz para merecer isso?
Dou passos para trás até ser visível para as garotas no quarto, Cassandra me olha de cima pra baixo, Sam sorri para mim, não consigo parar de olhar para ela, mesmo querendo parar.
- Estava ouvindo The Neighbourhood? – Sam pergunta.
- Estava sim – digo, envergonhada.
- Depois a gente podia ouvir um pouco juntas, né? Estava pen-sando em fazer um jantar especial.
Olho para Cassandra e ela está com um sorriso irônico.
- Podemos sim – falo, envergonhada.
- Ok, combinado – Sam sorri, se levantando, ela vem na minha direção, me manda beijo e fecha a porta.
Fico parada um pouco na frente da porta, sem palavras. Vou até o meu quarto e abro a janela, ainda tinha tempo.
Sinto o vento no meu rosto junto com as finas gotas de chuva, o cheiro de chuva na terra era tranquilizante, ouvir "Wiped Out!" lá do andar de baixo junto com os sons da natureza, e aquela vista, aquelas árvores e aquelas montanhas, com nuvens densas escorrendo por elas, esvaziava todos os problemas que eu tinha no momento. Meu coração desacelerou. Fecho os olhos e só sinto tudo aquilo.
Ouço um barulho no andar de baixo e quebra todo o clima, saio do quarto e desço, Mary tinha acordado e estava colocando cereal para ela.
- Você me deixou sozinha – ela diz, triste.
- Me desculpa – digo, dando um beijo em sua testa – Prometo não fazer mais isso.
Pego um colher na gaveta e dou para ela.
- Obrigado – ela diz, pegando a colher e deixando dentro da ti-gela.
Mary se senta na mesa e começa a balançar a cabeça ao som da música.
- É boa, né? – digo, indo na onda dela e começando a dançar.
- Muito – ela responde, colocando um pouco de cereal na boca. 
6. Algo aqui dentro

Quando há chuva lá foraOnde histórias criam vida. Descubra agora