- Eu sei quem sou eu! - a voz da jovem Natalie Walker havia se alterado mais uma vez. Sua testa franzida e sua sobrancelha levemente arqueada denotavam o quanto ela havia sido atingida pelas palavras de sua interlocutora que agora observava em silêncio, o estranho movimento que fazia o vultoso piercing no septo da garota. - Você não me conhece! Não pode dizer nada sobre mim!
Audrey era uma mulher de expressão rígida porém de uma beleza admirável. As linhas de seu rosto eram sutis e delicadas ao mesmo tempo que retilíneas e afiadas como uma faca de abrir cartas. Seus olhos castanho amendoados eram um par de lumes astutos e calculistas que dificilmente quebravam a ligação visual com sua oponente. E não estavam diferentes naquela discussão.
Era o olhar do predador para o carniceiro que o desafia.
- A resposta continua não. E não é comum da minha conduta repetir as minhas palavras finais. A sua organização deveria saber respeitar isso. Está dentre as suas pautas não é mesmo? O não de uma mulher significar não.
- Você nem ao menos sabe o que é o feminismo! Deveria procurar estudar mais! - o tom de Natalie desta vez era de deboche. Ela se pôs de pé para demonstrar que queria assumir o comando daquela discussão.
Audrey já esperava por isso. Em todos os anos que passara como uma das cabeças da Hidra, maneira que costumava se intitular em seu íntimo, jamais houve um intervalo maior do que quinze meses onde algum membro de movimentos políticos revolucionários não procurassem usufruir de algum modo, do poder daquela organização.
A Urania.
Uma elite, formada principalmente de mulheres, e que detinha um controle quase imensurável de todo o mercado que envolvesse, de alguma forma, a beleza feminina. O mundo da moda, a mídia, e até mesmo Hollywood estava permeado de membros.
As reuniões, as ações tomadas e mesmo a própria existência da organização era um mistério obscuro e bem protegido. Tanto a ponto de serem comparados ao Grupo Bilderberg.Audrey sabia muito bem que o projeto de poder dos grupos de grandes massas desordenadas como a terceira onda do feminismo, eram nada mais do que um tentáculo asqueroso do projeto globalista, do qual o próprio grupo Bilderberg fazia parte. Eram nada mais que os cupins de estimação usados para corroer as bases da civilização ocidental. E que mesmo líderes como aquela garota com metade do cabelo raspado, diante dela, não tinham ideia de que eram simples peões num jogo de xadrez.
A Urania tinha ambições não muito diferentes, porém muito maiores do que as deles, isto em um nível que eles não abordavam. O transcendental.
Quebrar o Ocidente para transformá-lo em gado? Isso era muito pouco.Audrey fez um movimento quase imperceptível com o indicador da mão direita, mesmo sem movê-la de sua posição inicial sobre o braço da cadeira de couro marrom. No mesmo instante dois homens corpulentos, que antes eram estátuas de cera atrás de Natalie, agora a afundavam de volta em sua cadeira, com suas pesadas mãos nos ombros da garota.
- Mas o que é isso?! Como ousam tocar em mim? Machos escrotos! - a garota se debatia em vão. Parecia cada vez mais descontrolada.
- Agora que eu ouvi todas as asneiras e afrontas estúpidas do seu personagem, você já pode tirar essa máscara com a qual pensa que se protege e parar de falar como um "soldado" do seu movimento. - Audrey havia se levantado graciosamente e dado a volta à mesa oval que separava as duas, para olhar para Natalie a partir da posição que ela estava certa de ser a adequada.
De cima.
- Dispa-se desse véu de ignorância e me diga com todas as letras o que, realmente você veio sugerir.
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O Círculo de Lilith - Coleção Flertes Perigosos
TerrorOs caminhos de quatro garotas se cruzam com as armações nebulosas de uma seita demoníaca e cada uma delas se vê em um nível diferente de poder, segredo, e ameaça. Flertar com o sobrenatural nunca pareceu tão excitante para elas, mas não quer dizer q...