Capítulo 7

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SANEM

Ser assistente de alguém como Deren era basicamente se enquadrar no quesito: faz tudo. Em três horas eu nem estava mais contabilizando quantos cafés eu havia lhe levado e nem quantas pastas ela tinha me pedido. E então o caos havia se instalado quando CeyCey chegou com a notícia de que o último rolo de fotos da revelação havia tido um pequeno acidente. Basicamente o negativo havia entrado em contato com a luz e queimado, todas as fotos reveladas estavam manchadas.

Senhorita Deren enlouqueceu. Aquele editorial estava por sua conta, então tudo o que acontecia a ele era sua responsabilidade. Ela ameaçou demitir todo mundo, gritou para que eu lhe levasse mais café e sério, eu estava quase lhe levando um chá calmante porque aquela mulher estava incrivelmente louca.

Ela ligou para Can inúmeras vezes e ele não atender. As fotos tinha que estar prontas no máximo no dia seguinte, o editorial sairia na sexta, ele precisava estar pronto. Francamente, eu queria saber porque as pessoas não se programavam... Aí lembrei que eu era a bagunça em pessoa, então nem dava para julgar.

No fim das contas, a faz tudo aqui, precisou ir até a casa do ilustríssimo fotografo já que ele não atendia ao telefone, para informá-lo do apocalipse que rondava a Revista naquele dia. É claro que Can Divit, com todo o seu ódio no coração direcionado a mim, me fuzilou com o olhar quando me viu. Eu precisava daquele emprego, era só meu terceiro dia, então a necessidade me obrigou a estar ali, em sua frente.

- O que você está fazendo aqui? – perguntou naquele tom rude de sempre quando direcionado a mim.

Arregalei os olhos porque: primeiro eu não estava acostumada a sua volta, segundo a voz dele sempre, SEMPRE, me fazia tremer, terceiro eu também não estava adaptada ao seu desprezo descarado, quarto... olha, sinceramente, não havia realmente um quarto ponto não.

- Bom... Eu... Eu... – gaguejei porque ele me deixava nervosa. – É que o senhor não atenceu ao telefone e...
- O que você tem com isso? – a rispidez era tanta que precisei fechar os olhos. Era como se eu recebesse um golpe.
- Realmente não tenho nada a ver. Mas foi a senhorita Deren quem ligou, pois algumas fotos deram errado. – expliquei, tendo sua atenção. – Entraram em contato com luz branca na hora da revelação, então ficaram manchadas.
- Meu Deus! Que erro de amador. Como isso aconteceu?
- Realmente não sei te informar. – meus ombros subiram e desceram.
- O que você quer que eu faça?

Eu queria saber se custava me tratar com um mínimo de educação. Eu não era mais uma idiota de dezesseis anos. Éramos dois adultos agora. Mas engoli minha frustração e tentei não revirar os olhos. Aquela atitude dele me magoava demais, como se ele não houvesse feito o bastante antes, mas estava começando a me enojar.

- Bem, eu não quero que faça nada, Can bay. Mas a senhorita Deren sim, se quiser pode ligar para ela e vocês se resolvem, já que comigo a conversa é difícil. – acabei desabafando e falando mais do que eu queria. Odiava minha falta de freio diante do nervosismo.

Ele cerrou os olhos em minha direção e alguns segundos depois deu as costas, entrando em casa e me deixando ali na porta. Sério, esse homem precisava de algumas aulas sobre como tratar as pessoas. Ele passou os últimos seis anos aonde? Tendo um intensivo de como se comportar como um maldito homem das cavernas?

Meus sentimentos agora eram incrivelmente confusos, eu queria chorar diante de toda a sua repulsa direcionada a mim, mas ao mesmo tempo queria socar sua cara porque nem um animal vagabundo merecia um tratamento desses.

Ele voltou pouco depois, parecendo incrivelmente frustrado e apontou para dentro, enquanto soltava um suspiro. Parecia muito contrariado.

- Pode entrar. – disse. – A equipe está vindo, vamos refazer essas malditas fotos no jardim aqui. – avisou.
- Por quê?
- Olha Sanem, eu realmente não preciso te dar explicações.
- Allah! – soltei irritada.
- Não quero me deslocar até a Revista. – explicou, olhando para cima.
- Ah claro, vossa senhoria. – disse e pelo amor do Pai, alguém precisava segurar minha língua.

Entrei diante de seu olhar fuzilante e em silêncio ele veio atrás de mim. Fomos até a parte traseira da casa e ele apontou uma cadeira, onde eu sentei. Era muito incômodo estar ali com ele, sufocante talvez. Queria sair correndo, mas não podia, eu não era mais uma garotinha. Sentia seu olhar me queimando e respirei fundo.

- Sabe, eu não quero que você me perdoe, porque sei que não é capaz. – me ouvi falando, sem encará-lo. – Não precisa. Mas você poderia me tratar com um pouco de educação? – pedi, o encarando.
- Eu não sei. – ele falou. – Eu olho para sua cara e... Tudo volta. Não é fácil estar aqui com você agora, por exemplo.
- Não é fácil mesmo, Can bay. Principalmente para mim, mas custa tentar?
- Pra você é difícil, Sanem? – ele riu. – Não foi a porcaria do seu coração que foi esmagado, ok? Nem a sua família destruída.
- Acredite em mim: você não sabe nada a respeito do que eu passei nem da porcaria do meu coração. – lhe disse seriamente. – Não fale com propriedade da minha dor, você não sabe absolutamente nada sobre ela.

Ele respirou fundo, ainda me encarando. Não disse mais nada.

Meu coração era um peso doloroso e ardido. Queria chorar, mas não faria isso, pelo menos não agora. Can fechou os olhos e quebrou o contato visual, virou-se e não disse mais nada.

Também não falei, apesar das palavras terem ficado engasgadas na minha garganta causando uma sensação de ardência infinita.

- Ainda não acredito que deixaram queimar os filmes. – ele sussurrou.

Eu assenti, tentando não voltar a um passado. Não era difícil revelar fotos, o próprio Can me ensinara antes, foi um dia bom e divertido, tempos atrás que não voltavam mais. Lutei para que minha cabeça não se deixasse vagar pelas lembranças boas, porque na mesma medida que eram calorosas e acalentavam o coração, eram insanamente perigosas.

- Eu também não. – murmurei de volta.

Talvez fosse sua tentativa de me tratar com educação, mas eu não saberia dizer com certeza, tendo em vista que a conversa não fluiu, parou ali. Não dissemos mais nada e talvez fosse a certeza de que não tínhamos mesmo nada do que falar.

Rogava para que a equipe chegasse de uma vez e aquele momento passasse.

☆☆☆☆

Espero que gostem
Bjs

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⏰ Última atualização: Jun 27, 2019 ⏰

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