Capítulo 3

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SANEM

Meu coração está dando saltos em meu peito e não sei exatamente o que fazer para acalmá-lo. Ver Can depois de seis anos nunca esteve em meus planos.
Aliás, ver Can Divit em algum momento da minha vida depois daquela fatídica noite, era algo que eu não esperava que fosse acontecer. Nunca mais.
Contudo, lá estava ele. No mesmo prédio que eu e isso me deixava nervosa de uma forma que eu não conseguia controlar, eu estava tremendo quando bati na porta da senhorita Deren. Eu não estava completamente sã naquele momento.
Queria chorar, como há muito não fazia. Queria chorar e aliviar a dor em meu peito. Eu queria externar em lágrimas toda a dor que estava sentindo naquele instante.
Mas eu não podia.
Eu precisava permanecer intacta, porque era meu primeiro dia no trabalho. Vamos lá, Sanem, você consegue. Eu me disse, tentando me incentivar. Me disse tentando me convencer, para que eu conseguisse seguir.
Só que era tão difícil...
Soltei um suspiro. Ele sequer pareceu notar a minha presença e não havia nada mais doloroso que a indiferença de Can Divit. Ele poderia ser frio como o vento gélido do ártico e te fazer sentir como se fosse um simples pedaço de papel, que em qualquer momento você rasga, amassa e joga fora, quando não te serve mais.
Ele fez eu me sentir como um pequeno e absoluto nada.

- Entre! - a voz da senhorita Deren soou, me fazendo voltar a realidade.

Engoli em seco as lágrimas, sentindo a minha garganta arder e o meu peito fumegar. Eu só queria sair correndo dali e não voltar nunca mais.
Mas eu não podia.
Eu não era uma garotinha, não mais.

Entrei na sala bem arrumada e moderna. Sorri, gostando do ambiente, apesar de achar que faltava cor no local. Olhei em volta e então meus olhos pararam na figura que estava sentada a mesa. Ela me encarava com as mãos apoiando seu queixo. Seus olhos castanhos eram incisivos e ela era uma daquelas mulheres que você sempre nota quando chega a algum lugar. Sua presença era poderosa.

- Senhorita Deren, bom dia. Eu me chamo Sanem, serei sua auxiliar de agora em diante. - tentei sorrir.

A mulher revirou os olhos num gesto claro de descontentamento. Minha presença ali não lhe agradava, era óbvio. E eu até poderia lhe entender, havia derrubado café nela mais cedo.

- Peço perdão pelo incidente de mais cedo, não vai mais se repetir. Eu estava um pouco nervosa e um tanto animada, acabei me atrapalhando e não prestei atenção e... - parei de falar quando vi sua mão erguida.

Eu tinha o hábito de falar muito e rápido quando estava nervosa. E aquele era um típico momento de nervosismo.

- Cale-se, sua voz está me dando nos nervos. - vociferou, abaixando os olhos para os papéis que tinha em sua frente. - Vá pegar um café para mim.

Ela mandou e eu ainda estava parada em sua frente tentando processar suas palavras. Então ela voltou a me encarar e seu olhar dizia de maneira clara para eu sumir de sua frente.
Dei as costas e saí dali imediatamente. Quando fechei a porta me perguntei se havia sido um bom negócio ter saído da cafeteria onde eu trabalhava até dois dias atrás. Certamente não estaria com uma bruxa como minha superior e com certeza não encontraria Can Divit nem pelo amor de Allah.

Suspirei, olhando em volta, me perguntando onde raios eu encontraria café para o dragão atrás daquelas portas.

- Oi! Bom dia! - falei com um homem que passava naquele instante ali e ele parou, para me sorrir de maneira simpática.
- Bom dia, posso ajudar?
- Sim, com certeza sim. Onde eu acho café? - inquiri e ele riu.
- Vem, eu vou te mostrar. Temos uma sala que é refeitório, lá tem chá, café, água e alguns biscoitinhos grátis a disposição. - piscou e eu sorri. - A propósito, sou Cey Cey, diretor criativo.
- Ah... Ah! Sou Sanem, meu primeiro dia aqui hoje, sou assistente da senhorita Deren.
- Oh, por Allah! Pobrezinha. - lamentou.

É, talvez eu não fosse a única a achar a mulher a reencarnação de alguma bruxa má.
Sorri e enfim ele me mostrou o local onde ficava o café.
Talvez, de todo, esse trabalho não viesse a ser tão ruim assim.

Depois de preparar o café, com algumas dicas de Cey Cey, levei para a minha chefe que sequer agradeceu. E ela me mandou fazer um milhão de coisas, desde tirar xerox a ir em vários setores com documentos, textos e fotos.

Apesar dos pesares, me senti útil e viva. Senti-me bem naquele ambiente e eu só esperava que eu não viesse estragar tudo.

Depois de levar uns textos para serem corrigidos no setor de redação, saí de lá não querendo sair, era onde eu queria estar. Mas era cedo demais para almejar algo grande naquele momento, por isso fechei a porta com um sorriso e o coração aquecido. Cada fibra do meu corpo parecia em chamas e era a sensação de que eu estava no local certo, finalmente.
Quando me virei para ir até a xerox, Can passava no corredor há alguns passos de mim. Conversava com um homem que apontava para um papel e ele assenti.
Meu coração, que até então estava vivo, voltou a rachar. Acreditava que essa seria sempre uma sensação que eu teria quando o visse. Meu corpo que se sentia vivo, pareceu adormecer gradativamente, a cada passo dele.

- Sanem! - o grito da senhorita dragão soou alto e em bom som.

Can desviou seu olhar quando ouviu o grito. Seu olhar imediatamente pousou em mim. Cinco passos nos separava. Cinco segundos durou seu olhar e o tempo que eu suspendi minha respiração. Mas ele voltou a ignorar minha existência, desviou o olhar como se eu fosse a parede de vidro atrás de mim e eu voltei a respirar, quando ele deu as costas e voltou a andar.

- Sanem!!! - a outra voltou a gritar e eu recobrei a consciência, saindo correndo em direção a sua sala, notando que Can ia embora naquele instante.

Talvez Can Divit sempre seria o meu coração partido para sempre. E entre nós dois nunca haveria nenhuma palavra trocada, realmente. Não estávamos permitidos a nos dizer absolutamente nada.

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Olá, e aí? Estão gostando? Espero que sim.
Bjs

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