União

Capítulo 2

- O que você está escondendo de nós? - Tio Robert indagou, meu pai pareceu se mexer pela primeira vez desde que tinha se sentado, ele piscou e ergueu os olhos suspirando. Parecia totalmente fora de órbita.

- Estou tentando poupar minha mãe. - Abbie respondeu trincando o maxilar. 

- Vocês pretendem nos convencer a concordar com algo sem nos dar explicações, quem me garante que ainda não estão nos escondendo coisas?

- Não queremos que ninguém concorde com nada. - Pontuou Abigail, deixando bem clara sua posição naquilo. - Estamos avisando. - Ela apoiou a mão na mesa, um pouco de força e teria sido um estrondoso tapa. - Minha mãe vai ser transferida e pode precisar ser induzida ao coma.

Abigail olhou nos rostos de todos a procura de objeções, e esperou em silêncio por alguma resposta, esperou tentando ter a paciência que minha mãe inha tido por anos, enquanto se preocupava com a família, observando todos se preocuparem com tudo menos com aquela pertinência em nossas vidas.

Ela pensava naquilo sempre, minha mãe tinha passado aqueles últimos dois anos pensando em reunir a família novamente, não só porque aquela desunião era prejudicial ao país, mas também porque era importante pra ela. Ela sim, ela tentava o que nós não tentávamos fazer, ela tentava por todos naquela mesa. E pelos que estavam fora dela também.

- Ninguém me disse que chegaria a tanto.- Tio Wallace balançou a cabeça, finalmente parecendo.

- Mas chegou. - Abigail falou ao expirar. - E minha mãe não tem tempo para espera.

- Agora estamos falando de tempo? - Replicou tio Robert

- Faço qualquer coisa pra que ela e o bebê bebê fiquem bem. - Falei com cuidado, cortando o debate ruim que meu tio poderia começar. Meu pai e Abigail me olharam de relance, tia Rachel também, ela que tinha acabado de entrar na sala. - Mas fazer qualquer coisa não inclui conseguir tempo, porque isso ninguém consegue o fazer. - Soltei o ar, dizer coisas óbvias não ia ajudar, mas eu não estava dizendo só a eles, estava dizendo a mim mesma também. - Temos que aceitar o pouco que temos, e o que está acontecendo. - Um peso parecia se sobrepor na coluna de Abigail, que se inclinou em solidariedade para colocar a mão no meu ombro. Sua primeira demonstração de alcance desde que eu tinha entrado na sala.

- Eu concordo. - Pontuou tia Rachel.

- E você, de onde foi que você saiu? - Perguntou tio Harold sarcasticamente, nós lançamos um olhar de censura na direção dele, mas tia Rachel só respirou fundo e o ignorou.

- Não temos muito a fazer a não ser concordar com as decisões que forem tomadas. Essa reunião foi uma gentileza que nós deveríamos agradecer. Não é como se tivéssemos outras opções.

- Algumas coisas nunca mudam. - Tio Walllace debochou balançando a cabeça, enquanto eu enterrava a minha cabeça entre as mãos, porque dali em diante uma discussão sem fim começou.

***

- Próximo! - Pedi deslizando o papel sob a mesa, ignorando Lilian me chamando sem parar, quase num coro com o toque incessante do telefone.

- Você já assinou centenas de papéis. E antes que você possa dizer - Ela se apoiou na mesa, projetando uma sombra sob as folhas, que por acaso dependiam da luz da janela naquele ponto do escritório. - Não estou exagerando. Precisa parar um pouco, você tinha me pedido para cancelar tudo.

A observação dela se fez valer, eu simplesmente entrei em pânico quando peguei um papel de confirmação, para uma doação a uma ong de ajuda a recém nascidos...