Eu apoiava o rosto entre as mãos e chorava, Lily e Henry tentavam me consolar, mas o fracasso, era só mais uma soma pesada a tudo que eu estava sentindo, e doía, doía o fato de eu ter achado que minha avó iria me ouvir.
- E eu entendo que minha mãe tenha escolhido ele. Mas ela ainda teme que ele nasça nisso, - enfatizei erguendo os olhos. - Numa família desunida. E de algum modo - Balancei a cabeça. - Ela acha que... - O telefone tocou. - Ele pode ser a resposta pra isso.
Ele estava prestes a nascer, foi o que meu pai disse na ligação, eu nem consegui responder, fiquei em silêncio, porque a chegada do meu irmão poderia significar a partida da minha mãe. Seria uma bênção antes de uma perda, e dali por diante tudo que eu podia fazer era orar.
Então orei.
Pedi a Deus, que fizesse não a vontade da minha mãe, não a minha, mas a vontade Dele. Abri mão daquilo tudo e entreguei nas mãos de alguém maior, eu finalmente estava aceitando o que estava acontecendo, e eu não era a única. O país inteiro estava comovido, orando por Oliver, ele mal tinha chegado e já estava comovendo multidões, fora do hospital e dentro dele também.
Tio Harold, tio Wallace e tio Robert lançavam olhares desconfiados ao nosso pequeno grupo, mas eu sabia que see juntariam a nós em breve. A mãe de Henry também vinha em nossa direção, cruzando o corredor entre os enfermeiros e médicos apressados, ela chorava, mas ainda conservava o sorriso que abriu quando minha mãe disse que ela seria a madrinha. Ela mais do todos nós parecia ter assentido para a decisão da minha mãe.
Já faziam duas horas que meu pai não mandava notícias, eu nem tinha me dado conta do nosso círculo de olhos fechados e um só propósito, orem por ele, minha mãe tinha mandado avisar, antes de ser sedada outra vez, para então acordar sabe se lá quando, sem ter a chance de ouvir o primeiro choro do Oliver, nem vê - lo piscar os olhos - que eu torcia pra que fossem azuis - na direção dela.
Meu pai entrando na sala era um sinal. O sorriso dele também, era um sorriso cansado, molhado por lágrimas nos cantos, mas ainda assim um sorriso, era o sorriso de quem tinha acabado de ver o filho nascer.
Nossa comemoração continuou durante nossa transferência para a sala de espera da UTI neo natal, Oliver ficaria lá somente por observação, considerando tudo que tinha acontecido com minha mãe antes de ele ter vindo, e porque querendo ou não ele só deveria chegar dali duas ou três semanas.
Henry ainda me beijava com um sorriso quando a equipe pediátrica se aproximou, e nos separamos para ouvir sobe meu irmão, meu irmão, segundo elas provavelmente não iria demorar pra podermos conhecê - lo pessoalmente, segurar ele. Até lá, teríamos vista privilegiada, embora apertada já que todos queríamos nos aproximar do vidro para vê - lo.
Uma aura de felicidade quebrando a monotonia do hospital, todos sorriam, quase ninguém se sentava, pessoas que nunca tinham me abraçado na vida me abraçaram, estávamos tão mergulhados no conceito de família que demoramos a perceber minha avó entrando na sala com passos imponentes.
Eu temi e tremi. Ela poderia estragar tudo se quisesse, só sua presença já tirou o sorriso de quase todos os rostos, e pouco a pouco iríamos nos lembrar que estávamos comemorando o nascimento de uma pessoa que amávamos enquanto outra morria. Não dava para eu ficar ilesa do sentimento de culpa, afinal eu tinha ido atrás dela, mas de algum modo eu ainda tinha esperanças, por ela e pela minha mãe.
- Eu vi vocês consentirem com a decisão de Meredith. - Ela disse, o olhar sombrio estremecendo os fihos, de repente todos eles pareciam despidos de suas poses de altivez e determinação, eram só crianças assustadas perto dela. - Ela acreditou nessa criança antes mesmo de ela nascer. E eu vejo o resultado dessa fé dela. Porque depois do que eu fiz - Ela balançou a cabeça, com pesar. - não achei que fosse ver vocês reunidos novamente. Mas ele conseguiu fazer isso, porque Meredith acreditou nele, abriu mão de si mesma como eu nunca fiz. Mas abri mão do meu orgulho para acreditar em vocês novamente, eu quero voltar a acreditar na união de vocês.
Com lágrimas de felicidade nos olhos, eu fui a primeira a lançar os braços em volta do pescoço da minha avó, abrindo uma oportunidade para um emocionante abraço com coletivo, que parecia impossível até pouco tempo antes. Minha mãe, ela mesma chorou poucos dias depois, quando fomos vê - la, quando ela saiu do coma e conheceu o Oliver pela primeira vez. E mesmo assim, apesar de eu ver que ela queria aproveitar cada segundo com ele, ela deixou que eu segurasse.
Ele era leve e frágil, tinha aquele cheiro de bebê, cheiro de vida, e olhos azuis! Assim como os meus. Ele era lindo. Era uma bênção, pequeno para alguém que já tinha feito algo tão grande. Com a reunião da família, a unidade entre os condados, governados pelos meus tios, estava restaurada. Abigail sorria ao concluir isso, e sempre que tinha oportunidade me abraçava e beijava minha testa, e depois desviava os olhos para Oliver tão envolvida por aquela ternura do nosso irmão recém nascido quanto eu.
- Conseguimos. - Meu pai dizia, também beijando a testa da minha mãe outra vez. Ela ainda estava debilitada, mas se recuperava a cada dia, a hemorragia e os inícios de colapsos tinham lhe custado muito, mas ela continuava abrindo sorrisos alegres, deitava seu olhar sob Oliver.
- Ele conseguiu. - Dizia, a sabedoria pairando em seu redor. - Ele trouxe nossa união de volta.
E então ela sorria na direção da porta, onde meus tios e tias e primos e minha avó faziam fila para entrar, para se abraçarem outra vez, para abrirem espaço para mais e mais perdão. Para aproveitarem daquela união.
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União
Short StoryAnne sabia que para sua mãe, o nascimento do seu irmão seria uma verdadeira bênção. Mas a rainha Meredith não queria trazer mais um filho ao mundo para que ele crescesse numa família tão despedaçada como a dela, repartida e sem conserto, repleta de...