Capítulo 3

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- A rainha Meredith, - Disse o médico, que entrou na sala acompanhado de William e de Abigail, seu crachá revelava além do seu nome, também sua especialização, obstetra. - entrou em trabalho de parto.

Meus tios se levantaram, e eu permiti que Henry me apertasse mais a si, como se pudesse me proteger daquilo tudo.

- Ela está recobrando a consciência das medicações. Deve ficar acordada durante o processo.

Era a primeira vez que ela abria os olhos desde o desmaio no final da manhã, meu coração se aqueceu em parte, mas se esfriou em outra, porque lembrou do quanto que aquilo estava errado.

- Achei que ela fosse ser induzida ao coma. - Tio Robert comentou despreocupado.

- Essa é uma possibilidade para a real situação. - Explicou o doutor, pisando num campo minado de desavenças familiares.

- Então qual é a real situação de Meredith, majestade? - Tio Wallace perguntou, num tom altivo demais pra quem falava com a rainha, e isso foi um estopim para que todos dessem passos na direção de Abigail,

- Eu sou a responsável no momento. - Ela trincou o maxilar, os medições e os guardas já tinham saído aquela altura. - Pelo país e pela minha mãe. Ninguém tem o direito de me exigir nada. Vocês não podem me exigir nada. - Ela apontou o dedo indignado na direção deles. - Ou acham que podem aparecer aqui depois de anos, querendo me exigir?!? Estão aqui pela irmã de vocês ou para brigarem como crianças?
Deviam se envergonhar.

Abigail deu um outro passo a frente, ela tinha muito pra dizer ainda, mas sabia que só pioraria as coisas se falasse. Então, agindo com o máximo de controle que a sabedoria lhe permitia, ela deixou o vestíbulo a passos fortes. E eu a segui.

- Me desculpa, tá?!? - Ela se virou para me encarar, William vinha logo atrás, mas parou um pouco mais afastado em respeito. - Só que eu não consigo. Não vou aturar esse tipo de coisa enquanto... - Ela expirou, em busca de calma, escolhendo as palavras enquanto esquadrinhava meu rosto, ela não queria me chocar ainda mais, falando do risco que o nascimento de Oliver poderia representar para minha mãe, e eu só entendi isso realmente quando a vi. Quando ela  sorriu pra mim e esboçou seu melhor sorriso mesmo por cima de toda aquela dor.

- Mãe. - Sussurrei me aproximando.

- Eu sinto muito. - Disse, soltando uma das mãos da lateral da cama, para segurar a minha mão, com uma força descomunal. - Sinto muito por tudo que você teve passar. Sinto muito por tudo que ainda vai ter que passar.

- Não tem que se desculpar. - Falei a um fio de voz, tinham várias lágrimas escorrendo pelo meu rosto, outras acumuladas no canto dos meus olhos, mas eu não iria enxugar nenhuma delas. Eu iria continuar segurando a mão dela assim como prometi a mim mesma que faria, seguraria a mão dela o quanto pudesse porque ela faria o mesmo por mim.

- Quero me desculpar por isso e por qualquer coisa que aconteça.

- Não fala assim mãe. - Sussurrei balançando a cabeça, minhas palavras se enrolando com meua soluços. Mas haviam outros soluços no quarto. - Você vai ficar bem. - Olhei rapidamente para minha irmã, que enxugava o rosto com as costas das mãos em pequenos intervalos de tempo, cada vez menores.

- Ele ficar bem, é só isso que importa. - Ela respondeu, sua outra mão também estava agarrada na lateral da cama, mas ela a tirou para passar a mão na barriga de oito meses. Oito meses recém completados. Meu irmão estava prestes a nascer antes do tempo e em meio a uma hemorragia interna que não parava.

- Todos estão aqui por você. - Falei, ignorando qualquer coisa que meus tios possam ter dito, no fundo estavam ali por ela, porque a amavam acima de qualquer briga que os mantivesse em pé de guerra.

- Mas logo todos vão entender - Seus olhos voaram até Abigail, que desistiu de enxugar as lágrimas e passou a manter uma das mãos sobre o rosto. - Que todos estão aqui por ele.

- Pelos dois. - Abigail sussurrou, a idéia da ausência da minha mãe naquilo a indignava, indignava a mim também, mas eu estava chorando demais para protestar, eu só queria entender.

- Precisamos de você mãe. - Falei, soltando o ar e respirando com dificuldade, tentando enviar todo aquele choro de volta. - Não vamos conseguir fazer o que você faz. Não vamos conseguir unir a família sem você.

- Não se preocupem. - Ela sorriu, um deslizar de lábios doloroso, direcionado a mim e a minha irmã, e depois para a barriga onde ela mantinha uma das mãos. - A ajuda está a caminho

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