CAPÍTULO 2

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Em menos de dez minutos Caveira já estava no meu quarto. Ele morava três casas depois da minha, o que facilitava muito nosso contato e fortalecia nossa amizade.

— Como foi lá em Floripa? — Eu podia sentir a empolgação emanando da pele do meu amigo.

— Bom, como sempre — eu disse,enquanto ia desarrumando a mala.

— Bom, como sempre, bom, como sempre... Cadu, essa sua mania de falar sempre a mesma coisa irrita, sabia? Conte tudo, quero detalhes, todos os detalhes de tudo o que você fez lá.

— Todos os detalhes de tudo o que eu fiz não posso fornecer. 

— Dei uma gargalhada, insinuando que houve algo secreto naquelas boas férias. Isso deixou Caveira mais ouriçado.

— Como foi? O que aconteceu?Encontrou a... Como é mesmo o nome da garota com quem você sempre fica quando vai lá?

— A Valéria? Está namorando firme.

— Que sem graça. — Caveira fez uma cara de desânimo.

— Mas ela não é a única mulher de Floripa, né? 

— Pisquei o olho e ele começou a rir.

— Mandou bem, então. Vamos, conta!

— Não vou ficar contando detalhes sobre a minha vida em Floripa. Apenas aproveitei, curti, zoei com os amigos de lá, namorei um pouco. Tudo perfeitamente normal.

— Sei, sei...

— E as suas férias?

— Bom, você sabe, todo mundo daqui baixou lá em Guarapari. Não deu pra aproveitar tanto quanto você deve ter aproveitado, mas deu pro gasto.Eu podia imaginar um décimo do que Caveira tinha aprontado em Guarapari.Ele é o tipo de pessoa que se faz de sonsa para sobreviver e se dar bem, mas na verdade é um dos caras mais espertos que conheço.

— E o Beto? Onde ele está? Não consegui falar com ele de jeito nenhum.

— Beto? O Beto está namorando!Franzi a testa, pensando que o Caveira estivesse zoando comigo. Jamais consegui imaginar o Beto namorando.

— Mas é sério? — perguntei,desconfiado.

— Seríssimo. Tem quase dois meses já.

— Como ninguém me falou disso por e-mail?

— Ele quis fazer suspense. 

— Caveira deu de ombros. 

— Acho que nem ele esperava que durasse tanto.Balancei a cabeça, ainda espantado. A família do Beto era de pessoas muito bonitas, todos com o cabelo cor de areia e os olhos claros. Ele era considerado um dos caras mais bonitos da cidade, e aonde ia a mulherada ficava louca. As irmãs dele também eram belíssimas, o que deixava o Caveira e eu em uma situação bem difícil. No início da adolescência Beto havia feito um pacto conosco: não valia mexer com a irmã do amigo. Na época não ligamos tanto, até porque eu e o Caveira sejamos filhos únicos. Na verdade, tenho um irmão do segundo casamento da minha mãe, só que ele é homem, pirralho e mora em Florianópolis,então não conta.Mas, como eu ia dizendo, isso não nos atingiu tanto, porque não ligávamos para garotas naquele tempo, e as irmãs do Beto, mais novas que nós, eram muito chatinhas e magricelas, como toda garota mais nova. Só que elas cresceram e se tornaram duas gatas. Uma vez, Caveira tentou algo com a Emília, a irmã do meio,mas tomou um fora fenomenal e jamais voltou a tentar uma aproximação. É claro que o Beto nem sonha.Já Alice, a irmã mais nova, é outra história. Ela tem 17 anos e é, disparado, agarota mais linda de Rio das Pitangas. Já participou de alguns concursos de beleza na cidade e no Estado, e venceu todos com facilidade. Todos os caras querem uma chance com Alice, mas ela é durona e acho que nunca a vi com ninguém. Só tem um porém: ela é apaixonada por mim.Nunca havia notado até Caveira chamar minha atenção em uma festa, no ano passado. Depois, Alice começou a ser mais atirada, e me cercava com indiretas quando eu ia até a casa dela. Eu, como sempre, escapava, e começamos a nos reunir mais na minha casa ou na do Caveira. Beto nunca suspeitou de nada:sempre dissemos que nossas casas eram mais tranquilas para conversar. Na verdade, acho que a Alice só é a fim de mim pelo fato de eu ser o único cara que ela não pode ter.Caveira me acordou dos meus pensamentos com um soco no braço.

A Namorada Do Meu AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora