CAPÍTULO 3

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Não dormi muito bem naquela noite,nem na seguinte. Evitei encontrar a Juliana e vi pouco o Beto, mesmo assim não conseguia tirá-la da cabeça. Sei que era isso que eu tinha que fazer, mas realmente não conseguia. Quanto mais eu tentava não pensar nela, mais pensava.

No dia seguinte, Caveira foi lá em casa e mostrei as fotos da viagem.

Não fiz nada nos outros dias da semana e não parava de pensar em Juliana. Cada vez que a imagem dela vinha à minha cabeça, aquela dor aguda no peito aparecia e eu sempre terminava me sentindo o pior dos amigos. Na quinta-feira, fui com meu pai almoçar no Senzala, um restaurante rústico que serve a melhor comida mineira de Rio das Pitangas. Costumávamos almoçar ali quando a Ruth, minha babá e agora uma espécie de governanta lá de casa, não fazia almoço. Ela ia até nossa casa três vezes por semana, para saber se está tudo bem,como dizia. Com a ausência da minha mãe e dois homens em casa, temia que aquilo virasse um caos. Eu me servi do buffet completo e sentei de frente para o meu pai.

— Animado para a volta às aulas?
— É, pode-se dizer que sim. — Forcei um sorriso.

Ficamos em silêncio, comendo por alguns minutos até ele franzir a testa, pousar o garfo no prato e me olhar sério.

— O que aconteceu em Florianópolis? Eu o encarei um pouco espantado.
— Como assim?
— Você voltou estranho.
— Não aconteceu nada.

Tentei ignorá-lo e voltei a comer, mas ele continuava parado me olhando. Essa mania de querer saber tudo da minha vida e se intrometer nos meus assuntos particulares me irritava. Sempre nos demos bem, mas nunca fui aberto a ponto de trocar confidências com meus pais.Com o Beto e o Caveira já era difícil. Nunca fui de falar muito, principalmente dos meus sentimentos.


— Alguma coisa aconteceu com você,Carlos Eduardo. Esta semana você estevemuito quieto.— Eu sou quieto. — Dei de ombros. 
— Sim, é verdade, mas estes dias esteve mais. Não o vi encontrar seus amigos; geralmente quando você volta das férias quase não para em casa.
— Pai, não aconteceu nada, OK? Vamos almoçar.


Ele balançou a cabeça, um pouco inconformado, e eu fiz cara de quem não queria prolongar o assunto. Ele voltou a comer para logo depois abrir um sorriso.— Olha quem está entrando.


Antes que eu visse quem era, meu pai já havia se levantado e cumprimentava umcasal. Olhei e reconheci na hora os velhos amigos dos meus pais, Ivone e Manuel,pais da Juliana.


— Meu Deus, Cadu? Como você cresceu! — comentou Ivone.


Eu me levantei e a abracei, cumprimentei Manuel e olhei para trás. Ela estava ali parada, linda em um vestido amarelo. Era Juliana, sorrindo para mim. Senti meu peito pegar fogo e ao mesmo tempo gelar, enquanto minhas pernas ficavam bambas. Eu era um perfeito imbecil, não parava de babar pela namorada do meu amigo.

— Vamos, sentem-se conosco — convidou meu pai.

Ivone e Manuel não fizeram a menor cerimônia e foram logo juntando outra mesa à nossa. Meu pai cedeu o lugar dele para Juliana e começou um papo animado com os pais dela. Eu continuava em pé, feito um bobalhão, olhando para Juliana,que se aproximou da mesa. Rapidamente, sem saber por quê, corri e puxei a cadeirapara que ela se sentasse.


— Que cavalheiro. — Ela sorriu. —Um perfeito mosqueteiro.Arregalei os olhos e comecei a rir. Eu me sentei em frente a ela. O gelo havia sido quebrado.

A Namorada Do Meu AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora