3 da Manhã

Criatura

Faltava pouco para dar onze horas da noite, fechei as paginas do livro de romance que estava a devorar antes que o sono não permitisse que mais nenhuma linha fosse completada, o coloquei na cômoda ao lado da cama.

Desliguei o abajur, me embrulhei como uma lagarta entre a coberta e fechei meus olhos preparada para dormir por aproximadamente cinco horas sem qualquer interrupção, pois a partir das três da madrugada os pesadelos começariam.

O sono foi calmo, um descanso para a alma que não sabia o que aconteceria dali em diante. Quando acordei e vi que eram as exatas malditas horas, liguei o abajur, abri o livro e fiquei lendo mais alguns parágrafos quando um barulho seco de madeira sendo pressionada por um peso me assustou.

Olhando para a janela vi a sombra de uma figura me encarando do outro lado do vidro, por reflexo puxei minha coberta protegendo meu rosto. Não era a primeira vez que estava cara a cara com uma criatura do outro lado da linha, mas jamais alguma delas havia entrado em minha casa ou sequer em meu aposento.

O baixo barulho de seus passos eram o suficiente para se imaginar onde ele se encontrava, uma localização imprecisa que me deixava em total alerta junto de sua presença medonha. Quando não ouvia mais nada além da minha respiração, desejei com todas as forças que minha vida fosse apenas um pesadelo de uma adolescente comum, que aquele dom amaldiçoado nunca tivesse existido.

Segurando minha coberta com tanta força em meus dedos, senti o leve puxão que era feito do outro lado, ele a segurava e tentava a tirar de mim. Uma luta foi feita e quando minha derrota anunciada só possuía um pequeno espaço de ar que separava meu rosto das garras da criatura.

Escutei o chiado produzido pela sua respiração, o calor que o ar fazia quando acariciava meu rosto, o som do vento entrando pela janela, uma gota solitária de água caindo na pia do banheiro, o barulho do ponteiro do relógio... Sua risada abafada... toque da sua mão em meu rosto... um toque medonhamente confortável... Os seus passos em direção a porta... os batimentos acelerados do meu coração, as cortinas se mexendo, o pequeno som da luz.

Abri os olhos, observei a luz voltando a ganhar energia, as paginas onde estava perdida entre as outras, minha coberta somente alguns centímetros de distancia do meu corpo, as mechas do meu cabelo grudadas ao meu suor... a marca da lagrima enxugada de uma maneira rápida...