-Por favor- A voz áspera implorava entre gemidos de dor que não escapavam de meus lábios, pois não me pertenciam- Não me abandone… Eu imploro… não me deixe, por favor!
A frágil luz que envolvia meu corpo era aos poucos engolida pela escuridão, o seu brilho imaculado era ferozmente manchado e eu sabia que isso significa meu fim; A morte era ainda mais desagradável ao vivo, sem poder acordar e perceber que era apenas um pesadelo, em prantos ser aninhada pela pessoa que tanto ama enquanto ela sussurra doces palavras para te acalmar.
Mesmo com os olhos abertos eu não conseguia ver nada além do abismo a poucos passos de distância. O liquido quente e salgado molhava minha bochecha enquanto eu ouvia vozes em minha mente; súplicas que eu sabia ser em vão e eles provavelmente também.
-Acorda! Não brinca com isso! Ei!- Uma voz feminina começou a gritar. Eu conseguia ouvir o barulho de seus soluços se sobressaindo entre as gargalhadas femininas ao fundo.
-Eu não tenho mais ninguém- A voz masculina sussurrou entre leves gemidos. Essas palavras eram o suficiente para que meu corpo paralisado parasse até mesmo de respiração, elas eram tão frias, que como lâminas de aço destroçavam meu coração e minha alma- Não me importo mais com o que pode acontecer comigo.
-Não faça isso!- Outra voz masculina gritou e por fim tudo se silenciou.
O toque suave que eu conseguia sentir não mais existia, a luz que envolvia meu corpo por fim perdera sua guerra deixando a escuridão e o vazio me rodear… Eu havia dormido.
Senti o gosto de metal enquanto o liquido me fazia sufocar, entre tosses secas consegui novamente respirar com dificuldade. Meus ossos pareciam nada mais que migalhas, agora eu possuía total clareza de todos os meus sentidos e de toda a dor.
O sonoro choro vinha do abismo junto de vozes melancólicas suplicando por ajuda entre gritos, soluços e gemidos animalescos. O sentimento de solidão inundava meu peito, em minha mente gritos de socorro e medo da morte me causava calafrios enquanto as lagrimas escorriam, era eu mesma não conseguindo acreditar em minha própria morte.
-Eu não quero... morrer- Falei com dificuldade entre os engasgos com o sangue e o nó na garganta.
-Não tenha medo- Uma voz feminina falou próxima de mim.
Uma nuvem tão negra quanto o lugar começou a se condensar na frente do abismo, a silhueta feminina começara a não só ganhar forma como uma cor pálida quase como a de um cadáver, alguns fios soltos escapavam no seu enorme capuz noite, sua mão era adornada com prata e algumas pedras cor petróleo.
-Eu irei te levar para um lugar que você nunca mais ira sentir dor- Ela prometeu com sua voz fria, mas ao mesmo tempo acolhedora.
-Eu... Não posso ir, tem pessoas importantes me esperando... Estou com medo...
Se sentando ao meu lado, sua fina e delicada mão tocou como se fossem as mais importantes jóias do mundo os meus curtos fios manchados de sangue.
-Você não pode mais voltar, seu fim chegou e vim aqui te levar para onde mereces ir- Ela falou- Você foi muito corajosa em deixar que ele fugisse desse destino, uma garota que vale mais que o diamante nesse mundo tão cruel.
-Eu não sou... uma garota- Respondi tossindo.
-Comparada com a minha idade você é apenas um recém-nascido.
Suas mãos tocaram as minhas, a dor esmagadora foi embora como se jamais tivessem existido, o chão tinha a mesma sensação das plumas das asas de anjos, o escuro não mais me assustava, pois agora eu era acolhida por ele, amada por ele. Como pássaros livres, luzes saíram de dentro de mim levando consigo um pouco da minha existência.
Meu corpo não lutava enquanto todas as cores, aromas e sabores deixavam de ser lembranças e viravam o nada, o branco puro que voava para os céus, mas eu sabia que dessa pessoa eu jamais conseguiria esquecer, seu cheiro, seu toque, sua frieza e calor, nossos momentos juntos, nosso passado, tudo seria levado comigo para onde quer que eu fosse e não importasse o tempo, eu continuarei te amando.
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3 da Manhã
RomantizmAmelia é uma jovem de dezesseis anos com um incrível segredo, ela pode ver criaturas que passam despercebidas em meio a multidão. Quando seu pai morreu, Amelia perdeu metade das suas lembranças e não sabe o motivo, mas tudo muda quando coisas ainda...