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Diante dos fatos aqui descritos do que aconteceu naquela noite, posso dizer que brincar com o desconhecido pode ser uma ideia muito boa, e ao mesmo tempo, bastante tola. É brincar com fogo, é enfiar o braço num balde cheio de piranhas carnívoras, é cutucar um ninho de vespas.
É andar por um sítio na noite mais escura do ano.
Henri foi rápido e se vestiu, não com pijama dessa vez, mas com roupas mais cotidianas, principalmente com algo que não fizesse barulho, então, usou uma calça jeans que considerava leve, e uma camisa longa de manga.
Estava saindo do aposento quando a voz de Robin ecoou em sua cabeça: Se tivéssemos pelo menos alguma prova concreta... e Henri permaneceu em silêncio por alguns segundos. Ele se dirigiu até sua mesa de cabeceira, abriu a gaveta e de lá tirou uma câmera pequena e prateada e colocou-a no bolso direito da calça.
Sem fazer nenhum barulho, nem um mínimo som, ele saiu de seu quarto, fechou a porta o mais silenciosamente possível e andou pelo o corredor do segundo andar. Desceu as escadas, tomando o máximo de cuidado e levando um tempo maior para andar sorrateiramente. Os ossos de sua perna se estralaram. Ele chegou ao primeiro andar, andou até o final do corredor e abriu a última porta da parede esquerda, girando a maçaneta lentamente, entrou, e fechou a mesma com um ranger baixo. Só Henri ouviu.
O cômodo atrás daquela porta era nada mais e nada menos do que a sua oficina; apalpou a parede à direita da porta, ele acendeu a luz do cômodo após achar o interruptor, e a olhou, com cautela, seus olhos passaram por todo o ambiente.
Ela era uns centímetros mais baixo do nível do chão da casa, contendo três degraus abaixo da porta. Henri desceu-os com cautela. O local cheirava a serragem e madeira misturada com poeira. Na parede à sua frente havia uma enorme placa de madeira cheia de ganchos, com diversas ferramentas de todos os tipos e de todas as cores de cabos possíveis penduradas: chaves de fenda, alicates, tesouras, serras, um facão, tudo. Abaixo desse painel enorme de ferramentas penduradas, havia um balcão branco, com portas de armários e a parte superior de madeira clara, limpa, lisa, com algumas caixinhas em cima encostadas na parede, fechadas, contendo porcas, parafusos, pregos, tachinhas, entre outros acessórios, todos novos e limpos. Na extremidade direita do balcão havia três gavetas.
Henri foi até elas e abriu a segunda gaveta, retirando um par de luvas de couro pretas. Vestiu-as, e olhou para sua mão enluvada, abriu a terceira e pegou sua lanterna preta e pesada, o suficiente para poder nocautear alguém. Henri se virou e olhou para a parede atrás dele.
Ao lado da porta, haviam três armários presos na parede, colados ao teto também, abaixo deles havia uma mesa de madeira, com uma cadeira encostada sobre ela. Ele olhou o canto da oficina, na parede ao lado da porta, onde havia mais um balcão com duas portas de armário e três gavetas na extremidade direita, se dirigiu até elas e abriu a primeira, retirando de lá uma touca negra, com furos para o nariz, olhos e boca, geralmente usada por assaltantes ou esquiadores, mas que Henri usava-a eventualmente para se proteger de eventuais farpas de madeira ao trabalhar na oficina.
Ele vestiu a touca, cheirando a pó e um pouco de mofo. Ele apalpou a pequena câmera que carregava no bolso.
Ele abriu então, da forma mais silenciosa possível, o portão de garagem da oficina, suficientemente para ele passar por baixo. Por sorte, o portão era automático (podendo ser aberto manualmente) e nada velho, então não produziu ruídos altos na noite. Robin, um andar acima, se mexeu na cama, mas continuou dormindo. Ele apalpou a câmera em seu bolso, ainda conferindo se estava lá.
Henri saiu no ar noturno e escuro, com o cheiro mato e um toque de dama-da-noite presentes no mesmo. Ele caminhou calmamente na terra, deixando a casa atrás de si, indo até o seu pomar. Ele cruzou a frente da casa, olhou de relance para a varanda e o Jeep de Robin estacionado à frente, e continuou seu caminho.
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VERMELHO MADURO - Vencedor do Wattys 2019
Horror[VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2019 da CATEGORIA TERROR/PARANORMAL] Em uma pequena cidade rural do interior, conhecida pelo seu baixo índice de criminalidade e violência, Henri, um renomado ex-psicólogo, decide comprar um sítio nos arredores da cidade...