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Robin chegou no dia seguinte com os filhos às 12h30. O dia estava nublado e com ventos frescos.
Ela chegou em seu Jeep moderno e preto com as rodas sujas de lama, graças às estradas de terra, e estacionou o carro na frente da varanda de Henri. Assim que desligou o motor, a porta dos passageiros da direita se abriu e Tatianne, sua neta, saiu de lá correndo e dizendo:
— Vovô! Vovô! — Ela disse, correu e subiu a varanda que nem um furacão até chegar em Henri, que estava ali em pé, parado, esperando a filha e os netos. Tatianne (Tati para quem a conhecia bem), tinha seis anos e era uma garota alegre, de cabelos ondulados castanhos, olhos escuros e pele bronzeada, que agora ostentava um sorriso banguela por causa da troca de dentes. Tatianne abraçou as pernas de Henri, e ele, sorrindo e rindo, se abaixou para abraçar a neta.
— Você está grande, Tatianne! — Henri comentou, alegre.
Tati se desprendeu do abraço do avô.
— E você está com cabelo branco!
— Ainda não, completamente. — Henri a corrigiu, após passar a mão no cabelo, vaidoso.
Ele se levantou e colocou a mão no ombro de Tati, ficando em pé ao lado do avô. Roberto foi o segundo a sair do carro, pela porta da esquerda, com dois headphones pendurados no pescoço e os olhos grudados no celular em suas mãos, era um garoto de 12 anos, robusto e com cabelo encaracolado. Ele guardou o celular no bolso quando pisou no primeiro degrau da varanda e olhou o avô.
— Vô Henri — ele estendeu a mão e Henri apertou com um sorriso no rosto.
— Como foi a viagem, Roberto? — Henri perguntou.
Roberto deu de ombros.
— A paisagem é bonita. — Ele respondeu simples, e resolveu ficar atrás de Tati.
O coração de Henri palpitou após ver a próxima pessoa a sair do carro, pela porta do motorista.
Sua filha, Robin.
Sua primogênita, o orgulho de Henri, fruto de seu amor com a sua antiga esposa.
Hoje, Robin era uma mulher formada, bem sucedida e profissional, igual ao pai, com dois filhos e mãe solteira e com os trinta e poucos anos de idade (quase quarenta) não deixando nenhuma marca em seu rosto.
Ela tinha cabelos castanho-escuros, herdados de Henri, e uma pele branca, cortesia dos antepassados dele também, mas o que havia herdado da mãe era o que mais lhe destacava: olhos azuis profundos, que, quando olhavam para você, exibiam uma aparência severa. Ninguém conseguia sustentar o olhar por muitos minutos, exceto Henri, que fora o mesmo que a ensinara este truque para poder ver a verdade por trás das pessoas.
Robin usava um casaco azul escuro, calças pretas e bota de couro escura também. Ela andou até parar na frente do seu carro, encarando o seu progenitor em pé em cima da varanda. O olhou com aqueles olhos frios da mãe, e Henri a olhou com cautela e curiosidade. Parecia estar se divertindo.
— Robin. — Ele disse ao descer da varanda, deixando seus netos lá em pé.
Robin o olhou nos olhos.
— Pai. — Ela disse.
Os dois se encararam, sem nenhum abraço. O vento fez as árvores e vegetação ao fundo dela tremular e dançar.
— É bom vê-la novamente.
Ela desviou o olhar para os sapatos, e botou as mãos nos bolsos do casaco.
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VERMELHO MADURO - Vencedor do Wattys 2019
Horror[VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2019 da CATEGORIA TERROR/PARANORMAL] Em uma pequena cidade rural do interior, conhecida pelo seu baixo índice de criminalidade e violência, Henri, um renomado ex-psicólogo, decide comprar um sítio nos arredores da cidade...