Após dois anos em Paris, meu pai fora transferido novamente, desta vez para Nice, uma pequena cidade sulista ainda mais longe de Orleans. Fiquei feliz em deixar a capital, as coisas que fiz durante nossa estadia lá... São feitos dos quais não tenho orgulho, e gostaria de conseguir esquecer, de fechar os olhos e não ser assombrada pelas minhas péssimas decisões. Neste momento, tudo o que eu queria era ter a estranha habilidade de Lysandre para esquecer das coisas. Deus, o tanto que aquele homem me fez rodar a escola em busca de seu bloquinho de notas... Me lembro que na época não havia nada que eu achasse mais irritante, e agora, não consigo pensar em nada que eu queira mais do que voltar a fazê-lo.
Sinto falta dele, do cantor talentoso, do desmemoriado, do amante de animais, do amigo que deixei para trás. Continuei pensando em Lys, pensando em como gostaria de reencontrá-lo, quando a conversa de duas garotas a minha frente na fila do pequeno mercado em que estava me atraiu a atenção.
- É um garoto muito esquisito, com seu cabelo prateado e olhos de cores diferentes – Comentou a primeira, com cabelos curtos e castanho-escuro.
- Sim, e suas roupas engraçadas, são tão antiquadas – Riu a segunda, que possuía olhos azuis como o céu.
- Até o seu nome é diferente, como é mesmo? Alguma coisa com L... Lys... – Quando ouvi o que a dupla falava, não pude me impedir de completar
- Lysandre? – As garotas se viraram para mim como um raio, chocadas
- S-Sim, é isso mesmo – Respondeu a de olhos azuis, ainda me encarando – Você o conhece?
- Podemos dizer que sim – Respondi com uma risada fraca – Poderiam me dizer como chegar à casa dele? – As duas garotas assentiram, e logo a de cabelos castanhos me disse como chegar a fazenda.
Em menos de meia hora eu já havia chegado até o endereço fornecido pela dupla, sendo ele um portão de metal com aspecto antigo com uma campainha, que eu rapidamente toquei. Levou algo em torno de cinco minutos para Lysandre chegar, e eu gostaria de poder dizer que assim que me viu, ele me abraçou e me girou, mas seria mentira, já que a verdade é que ele nem ao menos me reconheceu.
- Desculpe, está perdida? – Confesso que doeu um pouquinho quando não vi o menor sinal de reconhecimento em seus olhos, mas confesso que eu não ajudei muito mudando como mudei. Meus cabelos ruivos cresceram, e agora caiam como uma cascata de cachos grossos beijados pelo fogo em minhas costas, fiz também algumas tatuagens e Piercings, sendo os mais notáveis os muitos nas orelhas e o da sobrancelha, mas achei que os olhos heterocromicos, um azul profundo como lápis-lazúli, e o outro verde brilhante, como esmeraldas ao sol, denunciaria a minha identidade.
- Não se cumprimenta mais os velhos amigos? – Questionei, o que o fez arregalar os olhos em reconhecimento
- Andrômeda Blackbird? – Ele tentou, ainda em choque
- A primeira e única – Confirmei, o que o fez imediatamente me abraçar apertado
- O que faz aqui? Achei que fosse para Paris!
- E fui, então meu pai foi novamente transferido, para cá – Lys parecia genuinamente feliz em me ver, já que não parava de sorrir
- Como sabia que eu estava aqui?
- Duas garotas falaram algumas características muito.... Específicas, se é que me entende – Expliquei a ele enquanto entrávamos
- Vamos, temos muito a conversar – Ele me levou até a sala, onde passamos o resto da tarde conversando ao som da lareira estalando
Isso foi a dois anos, dois anos que passei ao lado de Lysandre, ajudando-o a lidar com o luto pela morte de seus pais, e ele me ajudando a lidar com o meu término. Surpreendentemente, após esse período de tempo, minha universidade fez a última coisa que eu esperava, me mandou de volta a Orleans, só que agora, meus pais tinham o dinheiro que me permitiria retornar ao meu verdadeiro lar.
- Sinto muito – Disse a Lys, enquanto ele me levava até a estação de trem onde eu deixaria Nice
- Está tudo bem, eu sei que mesmo você amando Nice, Orleans é a sua casa. – Ele sorriu, me ajudando a pegar as malas
- Prometo visitar em breve, e se precisar de qualquer ajuda, é só ligar que estarei aqui em um estalar de dedos – Ressaltei, o que o fez rir levemente
- Você já me ajudou de formas que nem pode imaginar. Só de meus cumprimentos a Rosa e a Leigh
- Isso eu te prometo – Abracei meu velho amigo, e embarquei no trem
- Até a próxima, Andrômeda Blackbird, e que os ventos te levem ao seu destino.
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A Escolha (Amor Doce)
FanfictionApós quatro anos longe, Andrômeda Blackbird retorna a cidade que um dia fora seu lar, no processo reencontrando pessoas que ela achava que jamais veria novamente, e caindo em situações tão complicadas quanto as que acabou durante sua última estadia...