Fez uma semana desde a primeira madrugada de oração intensa. Fez sete dias desde que Cris viu seu melhor e mais próximo amigo perdido e largado no sofá. Fez mais de cento e sessenta e oito horas desde o primeiro abraço de amor para mostrar o Evangelho.
Neste período, Cris orou incessantemente pelo espírito de seu marido, a fim de que se faça conhecido a ele a verdade da Graça de Cristo Jesus. Tem-lhe mostrado e falado sobre os milagres que lhe aconteceram quando o véu que tinha em seu coração foi tirado; explicou-lhe sobre a barreira que é o pecado para nossa vida, já que ele nos afasta da verdade que está em Deus, porque Ele é Santíssimo; contou sobre a consequência de se distanciar de Seu Amado (morte) e sobre como Jesus amou o ser humano a ponto de passar por isso sozinho para que nós fôssemos restituídos à Vida e pudéssemos viver em comunhão.
É! A semente foi plantada. Tarde, porém aconteceu. O que lhe foi feito por meio da Graça de Cristo foi anunciado.
Por isso, Pedro sentia-se estranho naquela semana. Algo na felicidade de sua esposa lhe cutucava e demonstrava diferença desde o último culto frequentado. Não a tinha visto entrar, talvez tenha sido isto. Ainda que encontrasse uma resposta relativamente satisfatória, poucos minutos depois os questionamentos lhe entupiam a mente.
E por qual motivo ela resolveu ler na sala a Bíblia decorativa da estante? Por que ria com os olhos cheios de água enquanto cantava e lavava os pratos? Pelo prazer à limpeza não parecia, a não ser que sua compulsividade estivesse maior. Nada que argumentava consigo mesmo fazia sentido e para ele, dentre as coisas mais sem sentido em sua vida no topo da lista está a religião. Bom, ela era uma praticante assídua que via razão naquilo, que lhe custaria perguntar se foi esse o motivo de seu sorriso? Afinal, marido e mulher devem ter interesse um no outro, certo? Um relacionamento de amor não deveria ser tão deprimente.
Portanto, cansado de bater a cabeça, ele resolveu questionar à sua amada.
Enquanto lia o aparente único livro da casa, Pedro se aproximou, curioso e tímido. Cristina sorriu ao escutar a pergunta sobre o Jesus que só foi conhecido o nome por ser mencionado no fim das orações. Convidou-o para sentar-se ao seu lado, sobre o chão gélido; fechou os olhos, respirou fundo e amou aquela alma perdida disposta a ser encontrada. Sabia que havia a chance de um "não" à mensagem da Cruz e também sabia que se contasse teria muito mais chances para um "sim".
Enquanto Cris falava com lágrimas nos olhos e gestos para tentar explicar da melhor forma desde o princípio o que aconteceu a milhares de anos para que ela e toda a humanidade fossem condenados e recebessem a possibilidade de voltar à sua origem de nascidos de Deus, que perderam na queda de Adão. Pedro escutava de cabeça baixa e coração aberto para entender e, quem sabe, se sentir enfim liberto de seu triste corpo viciado e coberto com um pesado e invisível manto de tristeza.
Foi quando aconteceu o maior milagre que o mundo pode contemplar: o véu foi tirado de um coração! O pecado que lhe impedia de ver a Graça e amor de Deus pelos seres humanos foi eliminado e deu lugar à paz e plena satisfação por finalmente entender que é amado por quem governa o mundo inteiro, o único capaz de transformar a sua vida (a que ele odiava) e livrar-lhe do receio de viver lúcido num mundo perdido; na verdade, para ele já era horrível estar ciente de sua estúpida existência.
Mas aquele quadro mudou! Ele hesitou muito até estar convicto de todo o seu coração que Cristo é o Senhor, mas quando ocorreu nada o fez sequer olhar para trás e voltar às garrafas de cerveja da geladeira. Como nunca antes, sua vergonha não era por algo que fez, e sim por quem era, e ela ainda parecia uma ponte para a Salvação proposta, uma vez que lhe era a única resposta de suas perguntas e o sentido e firmeza estabelecidos pelas palavras lhe confortavam.
Ele não sabia, contudo não era só habilidade na fala; não era apenas uma estória bem contada, nem um falar suave que transpassava o seu medo, não era como as outras tentativas que fez em sua vida e no decorrer descobriu sua falsidade: era o Eterno e Fiel Jesus que Pedro permitiu entrar em seu coração e, assim como com Cris, Ele não deixa o trabalho pela metade, pois insiste, ama e persiste em amar e desejar a alma que se extravia para longe de Seus braços.
- Você entende isso? - Questionou, como se falasse com Aquele, sabendo que estava por ali, em algum lugar sob as rugas e cara de sono com o resquício de esperança do homem.
Com um aceno positivo sutil, ele concordou e em baixa voz afirmou:
- Eu entendo isso.
E trocaria tudo pelo que está aqui queimando em meu coração.
Sim, mesmo que o conhecimento não fosse gigantesco, sua fé de que a vida lhe poderia ser transformada era maior que as aflições enfrentadas, portanto, após meses em tristeza e prisão, Pedro descansou. Não era um novo padrão de moldes, era a revelação do Filho de Deus em amor encarnado para redenção dos pecadores! E aquilo gritava e era quase como se pudesse enxergar tudo o que lhe foi contado, a certeza emanava de sua esposa com a percepção que, de fato, o Evangelho tinha o poder de transformar vidas.
Antes de dormir, ele chamou Cristina com um semblante sério. Passou a noite pensando sobre isso e, independente de que perspectiva usasse para esquivar, seu coração exclamava a necessidade por Jesus; às vinte e duas horas e cinquenta e três minutos, Pedro escolheu receber a Graça ofertada total e gratuitamente na cruz que os pecadores deveriam carregar, porém o único Justo levou por todos. Sim! Ele escolheu crer em todas as bençãos que foram prometidas aos filhos de Israel e, consequentemente, aos remidos pela cruz, como Paulo escreveu e Cristina leu: "Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado;
Como está escrito:Não há um justo, nem um sequer.
Não há ninguém que entenda;Não há ninguém que busque a Deus.
Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis.Não há quem faça o bem, não há nem um só."
E Jesus ofereceu o perdão à toda humanidade. Pedro escolheu aceitar o presente.
Após uma oração de apresentação e de compreensão do milagre através da confissão de lábios antes pecadores, entretanto purificados pelo sangue do Cordeiro de Deus.
Os reluzente espinhos fatais caíram um a um, sem relutar, diante da presença do Rei; as cadeias que lhe prendiam foram destruídas e o Consolador trabalhava naquele ser ferido, mostrando-lhe o amor em que estava se lançando.
Depois isso parecia o fim, estava salvo, a prisão explodiu dentro de si! Contudo... tinha algo o impulsionando a ser diferente. A partir de sua escolha poderia viver o propósito feito por Deus, aquele que não erra e amou-os desde muito antes da criação, sendo guiado pelo Santo Espírito de Deus que ressucitou Jesus dos mortos assim como o ressucitou da morte espiritual que se encontrava. Ele percebeu a transformação que ocorreu em seu interior em tão pouco tempo, sobrenaturalmente, por meio da fé.
A compaixão procurou aquela alma no deserto de dificuldades que lhe cercava e quando achou não permitiu que a morte reinasse.
- Aleluia! - Exclamou Cristina ao anunciar-lhe a verdade do Evangelho. - Jesus nos ama!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A alma
SpiritualCristina foi batizada aos vinte e quatro anos, após ver-se amada pelo Rei da Glória e adotada como filha. Seus dias foram vividos em plena alegria quando buscava ao Senhor e os Seus mandamentos. A cada segundo seu coração clamava mais e mais pela do...