A explicação

3 0 0
                                    

Àquela altura, Cris ria alegremente porque via de novo que a vida tem uma razão, sentido e verdadeira alegria, achados naquele que a amou de uma forma inimaginável! Já nem se importava se viveria ali para sempre, tinha a Bíblia, o amor de seu amado Deus, alguém em quem derramá-lo e disposição para aprofundar-se em conhecer e obedecer.

Queria fazer igual ao Filho e, pelo êxtase, esqueceu-se até do amigo que a olhava tenso, esperando alguma resposta.

Ao descobrir o rosto, um semblante assustado lhe admirava, também em lágrimas, perdido em lembranças que lhe afogavam mais que qualquer oceano palpável.

- Você sabe o que isto significa? - Cris perguntou, mesmo sendo-lhe óbvia a resposta.

Aquele negou com um balançar de cabeça e uma cara debochada que demonstrou uma expectativa nunca sentida por entender o que foi escrito, e era maior que seus limites e espinhos. Pacientemente aguardou a moça recompor-se o suficiente para explicar-lhe o que leu.

- Este livro retrata os eventos que acontecerão quando a volta de Cristo estiver perto. - Começou. - Esta é uma das cartas às igrejas "pré-apocalípticas", a de Laodiceia. Eles se viam felizes, mas sua felicidade era momentânea e circunstancial, não era causada pelo prazer e total satisfação que a Salvação oferecida por Jesus traz. Portanto, na verdade, eles não eram felizes, estavam entorpecidos pelas bençãos, obras e coisas boas que lhes aconteciam por isso eram inconstantes na convivência com Deus, já que se viam completos apenas fingindo ser dEle; a mornidão que foi o motivo para Deus querer vomitar essas pessoas. Porém, por amor, ele deu o melhor conselho para que pudéssemos voltar para fazer a Sua vontade, e também nos deu a opção de escolher se seguiremos o caminho de vida!

Aquele encarava com um ar confuso as palavra daquela que recebia estímulos que deixavam claro a mudança de algo no cubículo; mesmo dentro dele, Cristina conseguiu se sentir livre, aliás! Através dele conseguiu! Sincera e finalmente, Aquele sentiu que poderia sair dali.

- Você entende isso?

Com o olho disperso, sob água, ele discorria sobre o que tinha ouvido.

Vomitar? Inconstância? Qual o sentido lógico estabelecido por tantas palavras que invadiram o seu palácio silencioso, bagunçando totalmente suas perspectivas perdidas; seus nortes estavam desequilibrados, a certeza já não lhe era conhecida a anos, mas nada lhe soou tão absurdo quanto aquilo. Dentre os que pousaram ali de passagem e assustaram-se, este definitivamente foi o mais... Real?

É. Tinha uma mulher em prantos diante dele porque leu dizeres das Escrituras Sagradas em que acreditava, ela já tinha sentido momentaneamente a mesma prisão visível que ele, mas, pela tal fé viu-se livre dos espinhos que sufocavam o amor em seu espírito.

Aquele não entendia, mas sabia que era verdadeiro, dentre tudo e todos, independente das correntes e dos limites, sim! No Livro que transbordava de um sentimento indescritível mesmo com as milhares de palavras que conhecia estava o que precisava. Como uma pequena plantinha germinando em seu coração, a esperança surgiu. Ele, incapacitado pelos espinhos, recebeu de graça a oportunidade de escolher o curso de sua vida.

Após soluços incontroláveis e o ardor do coração não lhe causar perda do sentidos de seu corpo mortal enquanto seu espírito era vivificado, Cris ergue os olhos novamente. Aquele se desconfigurava, esticava e contraía, brilhava, até sua forma virar algo conhecido, menos assustador, apesar de já ter-se habituado com o que via nas últimas horas.

- Pedro? - Questionou assustada.

Arregalaram-se ambos os olhos, tremeram as mãos, os lábios já não conseguiam segurar-se próximos. Seu marido olhou seus dedos e o corpo que tinha voltado a possuir; os pés reapareceram, a camisa surrada de seu time favorito, o olho tornou-se dois, e assustados, cobertos de lágrimas salgadas. Aquele lembrou quem era, sim! Há esperança! E ele a achou, ou melhor, ela surgiu para seu coração perdido.

Se o susto lhe permitisse fazer algo além de encarar o ambiente ao seu redor Pedro diria: "Ache-me". Foi o seu cântico por todos os dias em que esteve ali e agora podia finalmente ter uma expectativa maior do que as ofertas de seu cativeiro pois, pelo testemunho de Cris (aquela a quem sempre via aflita, mas que a Palavra conseguiu mudar o quadro) teve uma pontinha de paz por saber que a liberdade estava verdadeiramente pertinho.

Um estrondo invadiu o cômodo e o seu impacto provocou terremotos potentes que lançaram seus hóspedes no chão bruscamente e começou o desmoronamento. Em seus corações o mesmo pensamento: "hora de ir". Entretanto, antes que seu momento de lucidez e esperança acabasse, antes que o sorriso reluzente e raro saísse de seu rosto, Pedro pediu num sopro:

- Me conte sobre Jesus.

A almaOnde histórias criam vida. Descubra agora