De repente, ninguém mais dança. A música para. Todos sentem que a música parou, mas parece natural. A música simplesmente para em algum momento. Não há revolta, não há tristeza. Há vazio, há silêncio. Há muitas pessoas paradas, mas não separadas. Permanecem todas na mesma posição que quando dançavam, sem movimento. Como se o tempo tivesse parado, mas o tempo ainda está correndo, ainda está passando.
Antes sem movimento, a pessoa passa por entre os pares. Eu passo por entre os pares. Todos parados, ela em movimento. Eu em movimento.
Ela age como se nunca tivesse ficado em movimento antes. A face não muda em nada, não expressa emoção. Ela apenas se move, sem saber o que fazer. Me pergunto se ela pensa, ou se apenas está vivendo daquela forma, como tivesse sido programada.
A cena se cria. A pessoa passa por todos os pares. Cada par é diferente do outro. Antes eram silhuetas. Não mais. Têm rostos, formas. Não jeitos, não identidades. Eles se parecem mais com pessoas que antes. A cena se criou.
Não sei mais se sou aquela pessoa. Talvez antes eu fosse, agora não. Ela também pode não ser mais ela. Pode ser uma versão dela. Um passo de cada vez. A música começa a tocar. Ela para. Todos voltam a dançar.

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Indefinido
PoetryVocê já teve a sensação que, na sua cabeça, há um ciclo? "Indefinido" é a narração de uma daquelas coisas que ficam se repetindo, e repetindo. E que nunca vão embora. Mas e se alguma coisa quebrasse esse ciclo e te mostrasse que nada daquilo que v...