O acaso e um reencontro

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Já tinham se passado vários meses sem ao menos uma notícia de Jessie. Eu estava tranquila, mas em todos os lugares que eu ia, sempre observava as pessoas na esperança de vê-lo em algum lugar. 

Era agosto, mês do meu aniversário e em uma noite antes de dormir, pedi como presente uma oportunidade de encontrar com meu amor ao menos mais uma vez. Parece que alguém me ouviu! 

Meu aniversário caía em um domingo e nesse dia fui convidada a ir para a cidade vizinha, no lançamento do CD do primo de uma amiga em sua igreja. Que por sinal era meu amigo também e eu acompanhava suas composições. 

Meus pais nunca foram liberais, mas como conheciam a família, eles permitiram. 

Eu tinha um mini rádio portátil, estava no auge. Levava para todos os lugares. E na viagem não foi diferente. Sentei em uma poltrona no meio, bem ao lado da janela e liguei o rádio. 

No exato momento em que liguei tocava ''Nada vai tirar você de mim - SNZ'' e meu pedido foi atendido. Colei o rosto na janela pensando em Jessie e pela janela o vi sentado em frente a uma oficina. Era ele! Aquele charme para jogar o cabelo de lado era inconfundível. Era o meu amor ali, alguns metros de distância. Minha vontade era pular do ônibus, pedir para parar, descer, gritar, fazer sinal de fumaça, qualquer coisa. Mas tudo o que eu fiz foi ficar olhando fixamente pra ele enquanto ia me afastando cada vez mais. 

- Cris! - Chamei minha amiga para sentar ao meu lado. - Cris, eu vi o Jessie! Coloca a mão aqui no meu peito, eu acho que vou desmaiar. Era ele Cris! Será que ali era a casa dele? Será que ele mora ali ou estava passeando? Será que alguém pode me dar alguma informação? 

- Talvez nem era ele, Laila! - Cris disse sem dar muita importância. 

- Eu sei que era, jamais me confundiria!  - Disse com uma voz áspera e um pouco chateada. Voltei o rosto para a janela e passei o dia inteiro pensando em como eu iria fazer para conseguir vê-lo novamente. 

O domingo demorou passar. E embora fosse  meu aniversário, nada de extraordinário aconteceu. Antes de dormir, agradeci por ter visto ele e estava bem determinada a ir naquele local para encontrá-lo ou ter alguma informação. 

Segunda-feira, 09 de agosto. Determinada a ir atrás do meu amor, resolvi mudar o caminho da escola para casa, para passar em frente o lugar onde o vi. Por sorte era meio próximo da escola. Eu tremia muito, não sabia o que ia dizer ou como reagiria diante dele, não sabia se iria encontrá-lo, se conseguiria alguma informação. A única certeza que eu tinha era de que Jessie estava naquele local quando o vi e que eu tinha que ir até lá. 

Quando estava uns cinquenta metros do local, eu o vi novamente. Não consigo explicar o que senti naquele momento. Eu estava feliz, ansiosa, insegura, com medo... um misto de todas as sensações possíveis. Fiquei pensando se passava na frente como se fosse um acaso, se falava que o vi no dia anterior e resolvi passar para saber como ele estava. E fiquei pensando também na possibilidade de ele não querer me ver. Afinal, ele morava próximo da escola, sabia onde me encontrar e sumiu. Eram tantas coisas na minha mente e acho que essa foi a primeira vez que eu corri atrás do ''não'' de Jessie para seguir minha vida. 

Respirei fundo e segui adiante. Ao chegar em frente a oficina eu parei e gritei: 

-Jessie?! - a voz quase embargando de tanto nervosismo. 

- Laila? O que você faz aqui? - Respondeu ele, demonstrando surpresa e vindo em minha direção.  

Eu sentia que o mundo iria parar naquele instante. 

- Não vou pegar na sua mão porq... - nem deixei ele terminar de falar, peguei na mão dele e o interrompi. 

- Você trabalha aqui, Jessie? Quanto tempo! Porque você saiu da escola? Nunca mais apareceu! 

(Quantas perguntas eu tinha para fazer e quão nervosa eu estava) 

Então ele respondeu: 

- Essa oficina é do meu pai, eu moro aqui! O que você tem feito de bom e o que está fazendo sozinha ''por essas bandas''? 

Ele ficou parado em minha frente, me olhando com o mesmo olhar encantador e doce de sempre. Ele era tão lindo, eu mal conseguia respirar perto dele e a ânsia de enconá-lo era tão grande que eu me esqueci completamente do quanto aquele bairro era perigoso para uma adolescente desacompanhada. 

Tentei pensar numa boa desculpa, mas eu estava muito aflita para conseguir mentir. Por mim teria beijado ele logo quando o vi, teria dito que o amava e o pedido em namoro, não sei. Então respondi: 

- Passei por aqui domingo e te vi, então resolvi vir aqui hoje para saber notícias de você. Você sumiu, seus amigos sumiram, eu fiquei preocupada. - Ele me olhava com tanta serenidade que me desconsertava toda. Mas continuei - E também queria te pedir desculpas pelo papelão que fiz aq... - ele me interrompeu: 

- Não se preocupe. Eu é que avancei o sinal, não respeitei o seu tempo. Tá tudo bem! Mas me diz, onde você mora? Eu te acompanho até em casa! É perigoso andar sozinha essa hora por aqui. 

- Não precisa! - Disse por fora, mas por dentro a vontade era que ele me sequestrasse. 

- Precisa sim. Espera só eu lavar as mãos e vestir uma camiseta? - Ele disse me fazendo um carinho no rosto e eu me arrepiei toda. 

- Tudo bem, eu espero! 

Logo ele veio e seguimos adiante. Eu caminhava lentamente, como se não quisesse que aquele momento terminasse. E na mente eu pedia o tempo todo para o tempo não passar. 

Jessie - a história de amor que só existiu em meu coraçãoWhere stories live. Discover now