A primeira semana de aula foi uma tortura.
Jessie não sentou em outro lugar como disse que faria. Vez ou outra virava para trás e sorria, mas não passava disso. E eu não conseguia puxar assunto. Não me achava interessante o suficiente. afinal eu não tinha nenhuma vaidade. Meu corpo ainda era de criança, enquanto as outras meninas da classe andavam toda enfeitadas e já tinham o corpo bem desenvolvido.
Na segunda-feira cheguei mais cedo que o normal e sentei ansiosa esperando Jessie chegar. Eu estava decidida a puxar assunto. O seu olhar tinha algo que me hipnotizava, me paralisava e me deixava sem jeito. Eu só conseguia pensar em como ele era lindo. Era pardo, alto, cabelo loiro com corte surfista, olhos castanhos claros, tinha uma mania de jogar o cabelo de lado que me arrancava suspiros. E como toda menina boba da minha idade, eu já me imaginava no altar e ele me esperando.
Bateu o sino para o início da primeira aula e Jessie não havia chegado. Fiquei frustrada. Mas na hora do intervalo fui pega de surpresa. Emanuel me chamou num canto e me disse:
- Laila, tem um amigo meu querendo ficar com você!
- O que? Que amigo?
- O Jessie!
- ''Cê tá debochando de mim'', idiota!
- É sério, uai!
- E porque ele mesmo não vem falar comigo?
- Você daria uma chance pra ele?
Nesse momento eu já não sentia minhas pernas. É claro que eu daria uma chance pra ele, eu já imaginava a gente no altar! Mas como eu ia fazer isso se eu nunca tinha beijado ninguém na minha vida?
- Não sei, Emanuel! - disse saindo em direção a sala da Vivi.
Encontrei Vivi na fila da cantina e eu estava tão surpresa com toda situação que nem medi o tom da minha voz!
-VIVIIIII, me ajuda!
- O que houve criatura? Se acalma! O que aconteceu?
- Vivi, um menino pediu para ficar comigo!
- VAI PERDER O BV? UHUUUUUULLLL! - Vivi disse eufórica e gritando!
- Shhhhh! Não precisa anunciar na rádio, né?! Vivi, me ajuda. O que eu faço?
- Abraça ele, fecha os olhos e os resto acontece. A gente já nasce sabendo fazer isso!
- Nossa, não me ajudou em nada! Acho que vou dizer não! Ai meu Deus, que vergonha! E a minha mãe, o que vai pensar de mim? - Nesse momento eu só pensava em como iria desapontar minha mãe quando ela soubesse que eu tinha beijado a primeira vez.
- Laila, aqui, é só um beijo. Sua mãe não vai achar nada.
- Vivi, eu tenho TREZE anos... ela vai achar sim!
- Ela não precisa saber!
Dei de ombros e comecei a caminhar em direção a sala, pensando no que diria ao Emanuel.
Sentei na minha mesa e logo avistei Emanuel entrando e vindo em minha direção. Ele se sentou do meu lado e disse:
- E aí, o que você decidiu?
Eu estava tremendo muito. Respondi:
- Ele não veio hoje, acho que você está brincando comigo. Mas se ele mesmo falar comigo eu aceito.
- Tá bom! Disse Emanuel estendendo a mão e vindo em minha direção como se fosse meu beijar no rosto. Se aproximou do meu ouvido e disse: Eu te ajudei, agora me ajuda e vê Com menina do seu lado se ela me dá uma chance?!
- A quietinha? - Quietinha era o apelido da Rose. Por ser tão quietinha, tão calada e nas poucas vezes que falava, sua voz era tão suave e baixinha que até irritava! - Continuei: Ela nem conversa com ninguém, mas posso tentar!
- Valeu! - Emanuel ''fechou com as mãos'' e saiu.
Passei o resto imaginando se seria mesmo verdade tudo aquilo, que eu estaria traindo a confiança da minha mãe se beijasse alguém e não contasse a ela e como seria o meu primeiro beijo.
Terminaram as aulas e fui para casa ansiosa pelo dia seguinte.
Nunca fui vaidosa, mas vesti uma roupa melhor, coloquei brincos e até passei perfume - eu não costumava usar perfume se não fosse para sair- e confesso que me senti muito estranha.
Cheguei mais cedo como no dia anterior e Jessie também. Ele entrou na sala, sentou-se na mesa do lado e perguntou:
- Laila, o Emanuel te disse alguma coisa ontem?
Nesse momento eu tremi e fiquei me sentindo a maior idiota. Como um menino tão lindo iria se interessar por uma ''Maria machona'' como eu? Eu estava trincando de vergonha. Assenti com a cabeça e disse:
- Sim, mas fica tranquilo! Eu não levei a sério! - E baixei a cabeça de tanta vergonha.
- E eu posso saber porque você não levou a sério? Eu não faço o seu tipo? - Ele disse levantando meu rosto e me olhando nos olhos.
Confesso que em toda a minha vida, nunca vou me esquecer daquele momento e daquele olhar. naquele momento eu senti pela primeira vez as inquietações e fogos de artifícios do primeiro amor.
- Não é isso! - Eu disse fechando os olhos e balançando a cabeçada, completamente nervosa e doida para abraçá-lo ao mesmo tempo.
- Então, o que é? - E quando eu ia responder, o sino tocou e a professora entrou.
Apesar do nervosismo, eu estava tão feliz. parecia um sonho. Então tive a ideia de escrever um bilhete e entregar:
''Te espero na sala, na hora do intervalo para a gente conversar''
Ele se virou para mim e fez sinal de positivo com as mãos. A hora do intervalo nunca demorou tanto para chegar.
Quando o sino tocou, todos saíram. Eu fiquei e Jessie também. Ele se sentou na mesa de frente para mim e disse:
- E então?
- Nada! - eu não conseguia raciocinar, não tinha o que dizer.
- Isso significa que você não quer?
-Não!
- Tudo bem, eu respeito!
- Não! Não foi isso que eu quis dizer.
- Eu tô ficando confuso! - disse ele, jogando o cabelo de lado e me encarando.
- Você acreditaria se eu dissesse que nunca beijei ninguém? - Eu disse levando a mão rosto e escondendo de tanta vergonha.
Jessie me olhou fixamente, me deixando corada e disse:
- Claro que acreditaria, você não tem motivos para mentir pra mim.
Ele nem me conhecia e já se sentia dono das verdades sobre mim. Ai ai, era realmente o amor da minha vida ali diante de mim.
YOU ARE READING
Jessie - a história de amor que só existiu em meu coração
RomansLaila entra n ginásio e está prestes a dar o seu tão sonhado primeiro beijo. Mas não imagina como isso irá causar uma verdadeira tempestade em sua vida por 10 anos. Seu primeiro amor tem tudo para ser único e eterno, mas o universo parece não cons...