Procura-se!

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A pequena Lídia estava encucada ao ver ao seu redor tanta desordem e pessoas carentes, eram muitos que mendigavam o pão que repentinamente recordou não ter
ingerido. Estava com fome, seus pensamentos não mais eram ao sofrimento alheio, e sim, na comida do palácio que havia abandonado.

Nada sabia do mundo de fora do muro que havia lhe cercado e isolado sua vivência bem longe das pessoas, ali daquele lado também havia dor.

O desespero lhe arrebatou para um lugar que seu cérebro ilustrou em meio a realidade, imaginava o vermelho das maçãs e o quão saborosas se faziam no paladar.
Tristemente só havia gente ao seu redor, mas projetava ali no meio uma mesa farta com seu desjejum matinal. A "pobre" moça estava desorientada.

- É perigoso andar por estas bandas, jovenzinha! Vá pra casa! - ele lhe atiçava, agora, com um pão que mastigava. O mesmo xereta a alertava novamente sem deixar seu porte
autoritário, como se dela tivesse o dever de obedecê-lo.

- Não diga o que devo fazer! Quem pensa que é? - e de si só saía indiferença, já lhe bastava a fome, não queria ser aperreada ainda mais pelo destino.

- Quem dirá? É certo que está caminhando sem rumo. - era ainda mais persuasivo seu falar em fazê-la pensar em desistir. Era a fome, a exaustão, o sol escaldante. Tudo dizia que ali não era seu lugar - Ouça bem, jovenzinha! Se quer fugir, ao menos se prepare para desbravar os altos e baixos da vida! É certo que há mais declínio durante este percurso que escolheu, mas você achará a montanha! Suba e seja feliz!

E rapidamente sumia ele, no meio da multidão, mas ela apressava em seguir seus passos intentando serem o norte que necessitava.

- Ei, espere! Me diz mais sobre a montanha! - fadigada quase nenhum som saía, os embalos de seu caminhar lhe fez perder as energias derradeiras. E a imagem do homem
misterioso ia se perdendo, seu corpo, desmoronando ao chão.

Gentilmente fora socorrida por um lavrador que estava passando pelo vilarejo com a intenção de comprar alguns utensílios para manusear a terra com maior rapidez, era a
época do plantio. Sua criativa mente planejava, pelo caminho, a engenhoca que concretizaria em breve, a menos que suas míseras moedas comprassem a causa. Havia parado seu percurso ao apiedar-se da jovem de boa aparência caída ao chão, a manteve em seus braços fortes e aguardava que voltasse ao normal. O sol, intenso e abrasador, fez-lhe procurar uma sombra e um peso além de seu corpo entregou-lhe a ideia de descansar por alguns minutos. Ela não acordava. O que faria com aquele delicado estorvo?

- Senhorita? - supôs não estar bem, ela não se mexia.

Não vendo outra alternativa senão acordá-la a força, pegou sua moringa de dentro do saco de pano e derramou sobre o rosto de Lídia água fria. A fez saber que havia estado
inconsciente pelo baque que a vida real a proporcionou, abriu seus olhos assustada.

- Quem é você? - sua primeira reação de medo diante o desconhecido lhe fez perder o fôlego. E além disso suas forças eram cada vez mais minúsculas, já queria seu cérebro
apagar outra vez.

- Sou Demétrio! Moro perto daqui. Você precisa de ajuda, está fraca. Não se preocupe! Está em boa companhia! - ele se dispôs a acalmá-la, sua expressão era de um cordeiro
manso, mas por ser um homem de 40 anos, pensaria ela estar sendo raptada.

- Não consigo me levantar... - dizia com dificuldade. Seus olhinhos queriam se fechar.

- Alguém lhe fez algum mal? Me diz onde mora e te ajudarei a voltar pra casa! - torcia pra que ela ouvisse suas palavras e respondesse suas questões mesmo estando tão fraca, ao ponto de desmaiar outra vez.

- Não tenho pra onde ir. Estou com fome...

Ela lutava consigo mesma, contra seu corpo mórbido. Sabia que aquele homem procurava em sua bagagem alguma comida. E prestes a rever algo comestível seu ser esperançou-se. Era pão que mastigava com agonia, ele também lhe deu água saciando sua
sede. Não tinha sido o suficiente para estancar a fome, mas ao menos ficaria de pé.

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