Os últimos suspiros de Demétrio diziam ser de Isaac a missão de cuidar da moça.
Era o mínimo depois de tanto tempo longe com promessas de voltar em melhores condições financeiras.
O jovem Isaac, ainda em choque, estava sentado no banco de madeira digerindo os fatos. Não sabia que seu paizinho, que ainda apresentava vigor, desenvolvera uma doença cardíaca após ter saído de casa. A língua do povo mais uma vez o condenava dizendo ter Demétrio morrido de desgosto pelo seu sumiço.A culpa lhe recaída. Já havia passado dois dias da triste despedida, onde recolheram seu pai num caixão cheio de farpas. Tudo fruto da pobreza.
Lídia tentava animar várias vezes o filho do falecido Demétrio. Mas sabia que era seu momento de dor, pela mesma experiência havia passado anos atrás. Quando seu pai morreu uma parte de seu brilho de menina havia ido com ele. Agora mais Demétrio, fingia que tudo era irreal. Assim era melhor para sua sanidade.
A moça naquele momento começava a si perguntar sobre o percurso da vida. O valor dela em sua época, e também o porquê de sua existência no mundo contrário a sua imaginação.
Talvez a rainha tivesse razão. Melhor é ocultar sua presença do mundo de fora, trancada no quarto tinha tempo pra sonhar.
O povo sofria de várias formas. E agora ela também partilhava desse sofrimento diferente de sua solidão. Algo que antes a afligia provando de uma dor menor. Agora sofria para os outros e para si mesma.
- Você terá que me dizer quem é e de onde veio. Vou te levar pra casa! – parte de seus problemas seriam resolvidos com a moça bem longe de si. Isaac secou as lágrimas.
Voltava a ter voz ativa e um porte imponente que havia aprendido ao conviver com a nobreza.
- Não posso voltar pra casa – disse com receio que ele se alterasse. Lídia, na maioria do tempo, ficava sozinha no quarto para não causar atritos. Eles não haviam entrosado um com o outro.
- O que pensa em fazer? Não posso deixar você aqui como se fosse alguma coisa minha – estava frio e impaciente, mas prometeu para si que não seria amargo com a moça depois dela haver tentado animá-lo com suas doces palavras nesses últimos dois dias.
- Eu prometi ajudar Demétrio e ele havia concordado. Posso continuar com a mesma proposta – pedia por misericórdia pelo seu olhar.
- Não preciso de ajuda! Por favor, diga-me onde você mora...
- Não posso voltar, não posso...
Chorava pelo medo da rejeição, das consequências e por causa de suas incertezas.Nada estava colaborando para ter ela momentos de alegria e paz.
Não podia olhar para Isaac que nada tinha que ver com seu fardo. Ele era um jovem impiedoso que havia abandonado o próprio pai, não podia esperar por sua bondade.Era melhor fugir dali.
E foi assim que Lídia, trajando as mesmas vestes de louca, saiu de casa sem rumo certo. Mas Isaac a impediu de ir longe demais. Ela não tinha porte para correr veloz como ele.
- Me diz, onde você mora? – puxou o braço de Lídia. Agora impaciente quis deixá-la solta, mas a voz de Demétrio era viva em sua mente lhe relembrando de sua promessa em cuidar da moça.
- Por que se importa? – seus olhinhos estavam molhados.
- Eu não me importo, garota! Mas Demétrio sim, onde quer que esteja agora. Sou a sua proteção, por consideração a ele.
- Você não vai me proteger se me levar de volta pra casa!
- Que tal um asilo para os loucos? Ou se preferir andar errante saiba que estarei livre de minha obrigação! – estava certo que não era louca. E por que insistia em parecer uma?
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A caixinha dos sonhos
RomanceE se você fosse treinado a não sonhar? Numa época distante, Lídia, uma menina prestes a desabrochar para viver a vida, decide pular para fora da caixa e se divertir com as aventuras do mundo real. Depois de muito tempo trancafiada pela madrasta, a g...