Na manhã seguinte, não havia ninguém no quarto quando acordei. A luz quente - mas fraca - do sol passava pelos vãos da persiana, em filetes, e projetavam listras claras na parede bege.
Não demorou muito até que eu percebesse que sentia frio nos pés. Tateei as laterais da maca até achar o interruptor que permitia que o encosto se movesse para cima ou para baixo. Quando mantive meu tronco mais disposto, agora quase sentada, puxei o controle do ar-condicionado sobre o criado mudo ao lado.
Minhas costas ainda doíam bastante... Mas nada que me impedisse de aumentar a temperatura.Junto ao "beep" do controle, também ouvi o som da porta. Foi quando vi Jamie entrar com dois copos de café e suas chaves nas mãos. Estava um tanto quanto atrapalhado em seus movimentos, o que me fez sorrir minimamente. Acho que eu estava aliviada por ainda poder vê-lo. Ele deixou as chaves caírem e eu soltei um pequeno suspiro:
— Bom dia — eu disse simplesmente, mantendo meu sorriso meia-lua. Jamie, que estava agora agachado para pegar o metal, ergueu seu olhar sob o meu. Ele tinha um sorriso desconsertado estampado nos lábios — Começou o dia com o pé errado, não foi?...
— Como você está? Que bom que acordou... — levantou-se e caminhou em minha direção, estendendo-me o copo escrito "Ro" e um rostinho sorridente — O Dr. Roy não disse sobre você não poder beber café...
Soltei uma risada bem breve pelas narinas e peguei a bebida quente, trazendo-a para os meus lábios secos.
— Ninguém veio falar comigo ainda. Digo, esse Dr. Roy, eu... Não estou sabendo de muita coisa... — comentei após engolir o líquido quente. Estava gostoso, bem doce - do jeito que gostava.
— Oh, ele vem esta manhã. Acredite, lá fora está um completo caos. — ele respondeu e eu apenas arqueei minhas sobrancelhas enquanto segurava, com as duas mãos, o copo em meu colo.
— Bem... Ao que parece eu fraturei o osso da perna, não é?... — apontei com o olhar para minha perna direita engessada e pendurada num suporte.
Jamie respirou fundo e coçou sua nuca:
— E a culpa foi toda minha...
Eu, por minha vez, franzi o cenho e, apressadamente, peguei em sua mão livre — Jamie? Não foi sua culpa. A motorista do caminhão perdeu o controle. De qualquer forma, teríamos batido.
— Ainda acho que eu tenho minha parcela de culpa... — ele acariciou minha mão e, então, Dr. Roy entrou no quarto, nos interrompendo.
— Bom dia, Rosalie. Vejo que acordou e já está sendo alimentada indevidamente — dizia o homem grisalho, com bom humor.
— Eu não chamaria esse café de indevido, está uma delícia — respondi, correspondendo à sua boa energia.
— É, todos sabemos que sim. Pode beber seu café, mas em quinze minutos a enfermeira vem trazer algo que você precisa comer, está bem? — Dr. Roy dizia enquanto checava coisas que só ele entendia nas telas — E então, como vamos hoje? A anestesia que aplicamos antes da cirurgia lhe rendeu quase vinte e quatro horas de sono, depois ainda a coloquei para descansar mais um pouco. Sente sua perna doer? — agora o doutor tinha seu olhar atento ao meu e as mãos escondidas nos bolsos de seu jaleco.
— Se dói?... — acabei por soltar uma breve risada nervosa — Eu mal consigo mexer.
Passamos quase meia hora daquela manhã numa conversa muito útil. Eu só teria alta depois que conseguisse andar razoavelmente. Teria algumas sessões de fisioterapia, mas o Dr. Roy estava otimista com a possibilidade de liberar-me em menos de cinco dias. A dor era normal, fraturar um osso não é coisa pouca. Ele também mencionou que, por pouco, não tive um traumatismo craniano e que, com certeza - como um cristão de boa fé -, Deus tinha um propósito para mim. Afinal, segundo Dr. Roy, quando sobrevivemos a acidentes graves, é sinal de que o Céu está nos enviando uma mensagem.
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Quando Submersa
FanfictionApós um acidente de carro que a leva para baixo de um rio a caminho de casa, Rosalie passa a ser atormentada por estranhas visões no RMS Titanic. Isso leva-a a descobrir quem era em sua vida passada. Posteriormente a uma série de sonhos e alucinaçõe...