Prólogo

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      É quando se está a sós com o infinito negro mar de estrelas acima de um olhar aéreo que a questão mais profunda existente se faz incômoda em uma mente inquieta: Qual o sentido da vida?

     Se há um centro no universo, é lá onde o amor se faz sentido da vida. O amor em todas as suas formas, simplesmente o amor. Se alguém nasce, nascera porque houvera amor - com exceção de muitos, mas felizmente aqueles que não nasceram do amor, o encontram um dia; e depois de nascidos, recebem amor; quando se cresce, sente-se o amor; ao morrer, leva-se consigo tudo o que vivera enquanto amou. E nesta história, isso lhes será comprovado.


      Era tarde de domingo e verão quando Jamie Taylor e Rosalie Lawford comemoravam numa modesta festa, seu noivado. Jamie não tinha muitos familiares em Nova Iorque, mas a família de Rosalie comparecera, assim como os amigos mais chegados do casal.

      Mesas forradas com toalhas brancas e cadeiras deixavam o gramado do quintal de trás significativamente cheio e margaridas enfeitavam a vista.  Próximo à piscina, uma mesa extensa suportava a comida e bebida. Não estava perfeito, mas vaidade não importava às pessoas que estavam lá.

          Numa das mesas, Jamie e Rosalie trocavam lembranças com os amigos antigos. Aquela conversa os rendia bons risos, já que cada um contava sua versão sobre o início daquele namoro. Alguns, como Clay e Mia, tinham tanta habilidade em deixar as histórias cômicas que a cada frase faziam suas companhias rirem até que doessem suas barrigas.
Certa hora, Jamie pigarreou insinuando uma pausa e, com sua taça de vinho branco na mão, ergueu seu corpo da cadeira para anunciar um discurso. Fez, então, todo olhar da festa tornar-se para si:

      — Pessoal, pessoal... Gostaria da sua atenção, por favor!... Ei?... Olá?! Opa, agora sim — começou até que funcionasse, e logo prosseguiu:

      — Todo noivado tem um desses, não é? Não tem jeito — riu-se pondo a mão livre no bolso de sua calça boyfriend caqui — Sinto em atrapalhar suas conversas realmente interessantes e interruptíveis, mas me sinto na obrigação de lembrá-los o porquê de realmente estarem aqui comemorando o meu noivado: é porque amo essa mulher que deixou o bolo cair no seu vestido e por isso está manchado de marrom. Parece, mas não é nenhum tipo de sujeira desagradável e mal cheirosa — arrancou risadas de todos. A noiva arregalou os olhos como quem pensa "Não acredito que ele disse isso!" e junto com a expressão do olhar, fez-se boquiaberta. Rosalie escondeu o rosto atrás da palma direita, rindo quase silenciosamente enquanto movia a cabeça negativamente.

      — Amigos! Em fevereiro do ano passado, a redação do New York Post recebeu um aviso de que teríamos visitantes universitários da Columbia em uma semana. Eu juro que não estava nem um pouco animado com aquela ideia. Universitários em grupo são baderneiros, falam alto e se acham interessantes. É sério, vou lhes dizer uma coisa: vocês quando estão juntos parecem o ensino médio — dizia com humor.

      — Vá se ferrar, daqui estou vendo esse fio de cabelo branco aí! — Malcom exclamou de uma das mesas do fundo, apontando contra Jamie o indicador enquanto também segurava o copo de cerveja. Aquilo fez com que todos rissem e fizessem comentários diversos. O moreno que fazia o discurso levantou o braço livre em rendição.

     — Só estou falando, cara — defendeu-se e continuou:

      — Em uma semana, vocês e mais o resto da turma de Jornalismo daquele ano encheram quase todos os andares do NYP. Definitivamente não era um dia bom... porque mais cedo estacionei meu carro onde não podia e fui multado. Nem tinha uma placa pra avisar aquilo! Como se não bastasse, Ro me confundiu com um estagiário e quando eu perguntei o que a fazia pensar que eu estagiava... — o moreno desceu o olhar à noiva que tentava, de todos os jeitos, conter o riso.

      — Ela disse que eu estava acabado, falou das minhas olheiras e perguntou se o jornal explorava seus estagiários como parecia. Eu só a perdoei pelo insulto... Quero dizer, não por ter achado que eu era estagiário, mas por praticamente dizer que eu estava como a morte personificada, não é? Enfim, eu realmente só dei-lhe um desconto porque ela era e é a mulher mais bonita que eu já vi na minha vida. Como resposta àquela ofensa, eu disse que a contaria se saísse para um café comigo. Ela teve a consideração de se fazer de difícil só por um minuto até aceitar. Na quarta-feira daquela mesma semana, nos encontramos no café antes da faculdade e do trabalho. Conversamos até eu dizer que era redator e prometer que lhe conseguiria um estágio, dessa vez sem pedir nada em troca, é claro, porque não sou um aproveitador! — exclamou ao final da frase, ressaltando a observação. Rosalie, assim como o restante dos convidados mantinha-se atenta à história – que ela já conhecia muito bem. Seu peito aquecia cada vez mais e mais à medida que as palavras de Jamie davam vida às imagens nostálgicas em sua mente.

     — Em duas semanas de estágio, nós nos beijávamos quando ficávamos sozinhos na copa. Em dois meses, eu a pedi em namoro. Dez meses depois, concordamos que devíamos ficar noivos. Cá estamos. Não é como um romance de Nicholas Sparks, é claro, mas estou com a mulher que amo, vamos casar em um ano e teremos uma família. Pra mim, isso é melhor que qualquer obra do Sparks. Com essas palavras que eu não ensaiei nadinha, quero propor um brinde à Ro e a mim.

      Jamie ergueu finalmente a taça, trazendo toda a festa para o brinde. Rosalie levantou-se ao lado do homem e fez como todos os outros com sua bebida. Fora uma mistura de "Aos noivos!", "Ao Jamie e à Ro", "A vocês!" e "Ao casal!". Dentre um riso divertido dos dois, selaram os lábios antes de darem um gole nos vinhos. E também tinham as exclamações em comemoração, as palmas, os assobios.

      Aquele era, sem dúvidas, o dia mais feliz para Rosalie até o momento. Ela se sentia amada, em casa, estava em paz e satisfeita com cada detalhe. Tudo parecia fazer sentido e estar em seu devido lugar, mas não por muito tempo. Realmente por muito pouco tempo.

Quando SubmersaOnde histórias criam vida. Descubra agora