Capítulo 13 - Zander

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Não tenho certeza de ter feito a decisão certa ao pedir para Barbara me encontrar. O conselho de Valentin ficou se repetindo em minha cabeça mesmo depois que ele me deixou e eu acabei enviando a mensagem antes mesmo de pensar sobre o que diria. Meu amigo estava certo ao dizer que eu não posso continuar mentindo por muito mais tempo, porém eu ainda não estou preparado para enfrentar a raiva de Barbara. Se existe um prazo de validade para o lance que nós temos, eu não quero que esteja perto de terminar. Saber que talvez ela me largue ao ouvir a verdade não faz com que eu queira contar tudo para ela hoje.

Ouço o som de pneus esmagando o cascalho atrás de mim, mas não me incomodo em virar. Sei que não é Barbara porque não é possível que ela chegue em cinco minutos por mais que esteja perto. Eu me concentro na paisagem diante de meus olhos; os prédios não muito altos que dominam o centro, com suas janelas refletindo os últimos raios solares, os carros que se movimentam por entre as ruas como se fossem formigas seguindo trilhas, e bem ao longe as mansões que nesta distância mais se parecem com pequenas casas feitas de papel. É assim que meu futuro se parece e até hoje eu não havia percebido o quanto isto me incomoda.

A vontade que Barbara tem de sair daqui é a mesma que eu costumava compartilhar antes de descobrir que esse lugar não passa de uma réplica de qualquer outro. Não importa muito estar aqui ou em outra cidade, em outro banco, ou outro país, se os meus medos continuam perturbando minha cabeça. Eu vou continuar sendo o mesmo; não é realmente o lugar em que eu estou que importa, mas sim o que eu faço aqui. É justamente isso que as pessoas não compreendem quando eu tento explicar. Não existe nada que eu faria em outro local que não posso fazer aqui mesmo, por isso não faz sentido que eu deixe minha casa em busca de algo que não estou procurando.

— Zander? — A voz suave de Barbara me faz pular, me trazendo de volta ao presente.

— Não vi você chegar... — Sinto o sorriso em meu rosto murchar assim que olho por cima do ombro para ela.

Seu cabelo está preso fazendo com que os olhos fiquem em evidência, e eu posso ver a hesitação neles. Ao invés de se aproximar de mim, Barbara estaca e cruza os braços, quase me desafiando a soltar de uma vez o que eu tanto preciso dizer. Desvio meu olhar, sentindo a primeira onda de vergonha me atingir em anos. Eu nunca fui o cara que engana uma garota, não sei como deixei que isso acontecesse.

— Está tudo bem? — Pode ser impressão minha, mas a voz dela falha como se ela soubesse exatamente o motivo de estar aqui.

Faço que sim, mas sou incapaz de erguer o rosto. Ao invés disso me concentro em estudar sua roupa, porém tarde demais percebo meu erro. Estudo a saia branca e a camiseta cor de grama, mesmo sabendo que não precisaria de um segundo olhar para reconhecer o uniforme do clube que minha mãe escolheu junto com os outros membros da diretoria. Eu a vi analisando vários modelos dessa mesma roupa meses atrás, quando decidiu trocar os antigos uniformes por algo mais moderno. Apenas para ter certeza de que não estou enlouquecendo, procuro pelo emblema de dois tacos de golfe cruzados bordados sobre o bolso da camisa, e congelo assim que o encontro. Se a Barbara está vestindo um dos uniformes significa que ela é uma das funcionárias de minha mãe.

— Desde quando você trabalha no Woods? — Minha voz sai ríspida, percebo quando Barbara se retrai. Respiro fundo e tento falar novamente, mas desisto antes porque é provável que eu acabe soando ainda pior.

— Comecei na terça... — Ela morde o lábio inferior e dá de ombros em um ar casual. Só que não há nada de normal em sua postura. Ela está escondendo alguma coisa e eu tenho quase certeza de que sei o que é.

— E você não ia me contar? — O que eu realmente quero perguntar é se ela sabe que estou mentindo, mas não tenho coragem suficiente para fazer isso e ouvir sua resposta.

Um amor fora do comumOnde histórias criam vida. Descubra agora