3 - Chuva de fogo (Parte II)

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Através dos arcos das janelas de diamantes negros derretidos, Aram contemplava os braços da noite que enlaçavam o território Héscol

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Através dos arcos das janelas de diamantes negros derretidos, Aram contemplava os braços da noite que enlaçavam o território Héscol. O céu estava muito mais escuro, e alguns raios atingiam o topo das montanhas. Faltava pouco para a chuva de fogo.

— Eu me lembro de quando você era pequeno... Sempre nos esgueirávamos para nosso esconderijo secreto, para contemplar o Igneus Imber.

Aram olhou por cima do ombro. Sua mãe estava parada atrás dele, usando um robe de seda que deixava sua pele ainda mais pálida, mas que avivava os cabelos cheios e vermelhos como se eles fossem feitos de labaredas ardentes.

— Você deveria estar na cama. Não deve se esforçar.

— Estou cansada de seguir as ordens daquele médico rabugento. — E tocou os cabelos claros do filho. — Por que você não está celebrando seu aniversário? Não é todo dia que se faz vinte e três anos.

De braços cruzados, Aram se mantinha recostado a uma coluna que partilhava a mesma cor das janelas.

— Não estou no clima de celebrações.

— É por causa da missão de Altair? Você está temendo pela segurança do seu irmão?

Aram precisou segurar um grunhido azedo; aquele era o último dos seus pensamentos. Mas a doença misteriosa de sua mãe já a consumia demasiadamente, e ele não queria lhe brindar com mais tormentos.

— Sim. Estou preocupado com Altair.

— Nossos antepassados eram da realeza. Vamos tomar de volta o que é nosso. — Ela passou os braços em torno do pescoço dele, abraçando-o por trás. — Quero ver as luzes de neon da Capital que seu pai prometeu me mostrar, assim como o pai dele prometeu, e o pai do pai dele prometeu.

Sua mãe falava aquilo com tanta suavidade que Aram às vezes se esquecia de que seria necessário um banho de sangue violento para aquela promessa se concretizar.

— Quero cumprir esta promessa que há gerações nos assombra, mãe. Quero ir para a Capital. Quero mostrar que sou digno desta família.

Ela hesitou.

— Aram...

— Arabela, querida, por que não está em repouso? Este vento não vai lhe fazer bem.

Os dois desviaram a atenção dos relâmpagos que agora engoliam o céu para fitarem Mauro e Altair.

— Estou bem. Cadê a Amália?

— Treinando com os cadetes em um lugar protegido do Igneus Imber. Ela sabe honrar com seus deveres e responsabilidades.

Aram fingiu ignorar a alfinetada do pai e o sorriso presunçoso de Altair, embora os ossos revirassem em ácido e fúria.

— Pode se retirar, Aram? — Mauro indagou. — Altair e eu precisamos conversar a sós com a sua mãe.

Contendo um resmungo desgostoso, assentiu e se virou. No céu obscurecido, o prelúdio da chuva de fogo ganhava voz.

Nuvens de metal e estrelas | 1 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora