5 - Sombras dançantes

729 122 285
                                    

"Meu reflexo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Meu reflexo... O espelho está se quebrando. Está aqui. Está muito perto".

Lira arfou baixo, abrindo os olhos e puxando a faca escondida embaixo do travesseiro. O roço de um arrepio pairava por sua pele, como se alguém estivesse próximo de seu rosto, acariciando seus cabelos.

Ela se sentou na cama, a faca apontada para o nada. Seu coração estava disparado, envolvido por uma sensação de apreensão que fazia a respiração sair chiada do peito. Não havia ninguém no quarto da hospedaria além de si mesma.

Uma luz pálida e cinzenta se espalhava pelo cômodo; prelúdio do amanhecer fechado.

Lira moveu a cabeça lentamente, inquieta, analisando os cantos; quase gritou ao olhar pela janela. Do outro lado do vidro, havia uma garota negra, olhando em sua direção.

O sangue bombeou veloz nos ouvidos. Lira comprimiu o cabo da faca e encarou a intrusa enquanto engatinhava sobre a cama. Parecia a mesma garota do seu sonho na colina, só que mais velha, com os cabelos mais cheios e fartos.

Aproximou-se sem abrir o vidro, sem soltar a faca.

A garota não se moveu. Atrás dela, uma cortina de neblina e fumaça encobria o rompimento do dia.

— O que você quer? — indagou, espreitando o semblante dela.

A mão da garota se ergueu, encostando-se espalmada ao vidro.

Tomada por um impulso, Lira ergueu a própria mão, acompanhando o gesto, a palma se encaixando a palma dela; somente o vidro fino e gelado as separava. Foi um instante efêmero, mas infinito, que lançou uma corrente trêmula em suas veias, engolindo a luz nascente e a substituindo pelo brilho das estrelas.

E então, suas mãos se afastaram.

O coração de Lira acelerara de um jeito diferente. A garota não havia dito uma só palavra.

— Ei, está frio aí fora — Lira disse assim que o torpor passou; e abaixou a cabeça, procurando pela trava da janela. — Você não...

Mas, quando olhou de volta, a garota já havia desaparecido.

O quê?!

Ela não poderia estar enlouquecendo. Incrédula, abriu a janela, e foi golpeada pelo vento uivante. Abaixo dela e para os lados, havia apenas os telhados das construções irregulares coladas ao muro da hospedaria. Esticou a cabeça. Teve impressão de enxergar uma sombra se movendo à esquerda.

Prendendo a faca no cós da calça, Lira subiu no parapeito. Como a garota havia andado tão rápido? Com um impulso, pulou, fincando os pés de mau jeito sobre as telhas. O material não aparentava muito resistência. Tomando cuidado para não pisar em nenhum ponto irregular, Lira caminhou sobre a cobertura, envolvida pela palidez da neblina.

Nuvens de metal e estrelas | 1 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora