1 - Olhos que espreitam

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Torres de cristal

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Torres de cristal.

Seus olhos se fecharam à luz da lua, e o brilho prateado de sua imaginação tomou formas que ziguezagueavam como flocos de neve soprados pelo vento. Um sorriso cresceu enquanto a luz de prata se erguia, formando torres, escadarias e janelas de vidro. Não, vidro não. Um castelo de cristal.

As pálpebras se abriram, deslumbradas com a intensidade da ilusão. Notou que estava no ponto alto de uma colina. Dali, a vista da cidade era um fascínio emudecido, com seus caminhos estreitos e tortuosos, subindo e descendo como pálidas faixas de pedras banhadas pelo luar.

Ela franziu o cenho; algo chiando falho em sua cabeça.

Onde estavam os arranha-céus, o concreto, o metal, o neon, o cheiro ácido da fumaça? Um verde incomum cobria todo o horizonte.

Um risinho maroto capturou sua atenção. Ela virou o rosto, vendo uma garota de aproximadamente dez anos correr ofegante colina acima, querendo se ocultar de alguém como uma brincadeira de pique esconde. A subida era cheia de pedras pontudas, e seus sapatinhos fechados escorregavam na grama úmida.

— Talisa! Onde você está?! Seu pai vai ficar bravo comigo!

Observou a garota de pele amorenada passar ao seu lado, sem enxergá-la, contendo um riso divertido.

A tal Talisa afastou os cabelos cacheados do rosto. Ela suspirou, admirando a cor escura da pele da menina. Era tão bela, tão diferente da cor desbotada do seu rosto.

Um barulho de galhos quebrados encheu seus ouvidos, e tanto ela quanto a menina giraram os corpos para trás. Por entre as sombras da noite, um menino se movia com calma e precisão, com um falcão nos ombros.

O garoto foi se aproximando, a luz da lua contornando seus cabelos cor do sol, quase dourados. Ele tinha olhos cristalinos, e ela calculou que ele não poderia ser muito mais velho do que a menina, talvez tivesse onze ou doze anos. Vestia roupas pretas, e um broche de cristal sustentava a capa que escorria por suas costas e pelo gramado da colina.

Nenhum dos dois parecia notar sua presença.

Ele murmurou palavras que sua mente embaraçou; a menina respondeu algo que foi sufocado pelo sopro pesado e carregado do vento. Os cabelos dela e os cabelos pálidos dele esvoaçavam, e ela viu quando o menino tomou as mãos da menina em um toque gentil, que foi envolvendo toda a pele, até a cor da palma se iluminar como se fosse feita de cristal.


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COLHEITA DOS ESCRAVOS

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Nuvens de metal e estrelas | 1 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora