Cheryl

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     Mais uma vez internada no Hospital Internacional EverWoods, devido à uma forte dor de cabeça e crise de tosse que tive na noite anterior. Parece que tem algum neurônio martelando minha cabeça com muita força, de tanta dor! Eu já meio que me acostumei com a ideia de vir pra cá toda vez que tenho essas coisas, aqui é como minha segunda casa.
     Minha mãe só vem aqui de vez em quando, porque o trabalho ocupa muito tempo dela. Enquanto edito minha foto pra postar no Instagram, alguém bate na porta e, pelo horário, imagino quem seja.
     - Oi, oi! - uma frestinha da porta se abre e revela Carla, enfermeira da minha ala que me conhece desde que entrei aqui pela primeira vez, quando tinha sete anos.
     - Oi, Carl! Me diz que trouxe meu milkshake de morango. - digo, olhando para o punhado de remédios que ela trouxe pra mim em uma cesta.
     - Como eu iria esquecer? Você me lembra disso a cada cinco minutos, Cheryl!
     Rio, tímida.
     - Eu trouxe anotado os horários e o nome do remédio que você tem que tomar, okay? Não pode esquecer!
     - Relaxa, meu app vai ajudar! Fica tranquila.
     - Hm, acho bom. - ela diz me olhando de lado e indo em direção à porta - Aliás, quero que espere o tratamento acabar mas... Kevin já está neste andar. Quarto 302.
     - O QUÊ? Quero ir agora! - quase grito, pulando da cama.
     Ela volta e diz, me empurrando:
     - Qual foi a parte do "quero que espere o tratamento acabar" você não entendeu?
     - Tá bom, tá bom! Eu mando uma mensagem.
     - Se cuida! - ela me manda um beijo e sai.
     Pego meu celular e escrevo:
     "Já está no 3° andar, por quê não me avisou?"
     Imediatamente o aparelho apita com a resposta de Kevin:
     "Foi mal, cheguei cansado da cirurgia e nem me liguei. Vc tá bem?"
     Digo:
     "Tô. Só dor de cabeça e tosse, mas vai passar logo! Espero!"
     Ficamos conversando, até ele ir dormir. Kevin era meu melhor amigo e tinha a mesma doença que eu: fibrose cística. Ele teve de passar por uma cirurgia de emergência porque, de repente, a função pulmonar dele despencou. Foi para 30%. E isso me preocupa, pois, dos meus dois pulmões, só tem 40% funcionado. Por ele ter a mesma doença que eu, ele me entendia, toda vez que passamos mal, desabafamos um com o outro.
     Me encosto na cabeceira da cama e encaro o retrato que eu e meu irmão, Jason, tiramos no natal do ano retrasado. Passamos em Nova Iorque e, quis o destino e a meteorologia, deixar aquela noite a mais fria de todas. Eu estava toda encapada, parecia que eu estava me protegendo no meio da guerra, mas quando se tem FC, não se arrisca nada. Jason me pegou no colo e pelo o que parecia, eu estava desesperada, porque saí com uma cara de bunda horrível. Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos que vieram do meu irmão gêmeo. Levanto, vou até o banheiro e prendo meu cabelo ruivo num coque, coloco o tênis e saio.
     Passo pela recepção que agora bate na minha cintura e aviso para Julie que vou dar uma volta.
      - Onde está sua máscara? - ela pergunta.
      - Merda! - reviro os olhos e volto para o quarto. Pego a máscara cheia de cerejas desenhadas em cima da mesinha do lado da porta e, aí sim, vou embora. Quando eu chego perto da porta de saída do corredor onde fica os quartos, vejo uma garota em frente ao quarto 301. Ela era morena e tinha mechas rosas no cabelo, usava um tênis-bota de couro na altura do tornozelo e uma blusa xadrez amarrada na cintura. Será que é paciente nova? Não importa! Volto a andar em direção à porta e finalmente saio daquele corredor tóxico.
    

A Cinco Passos de Você | ChoniOnde histórias criam vida. Descubra agora