Quando acordei, meu computador estava desligado e eu tinha as marcas das letras do teclado na testa. Que merda!, pensei. Sem querer, minha mente segue os caminhos do mal e encontram Cheryl. Eu não sabia mais o quê pensar, não sei nada sobre ela.
Vou até o banheiro ajeitar o cabelo, coloco minha touca e uma roupa digna e saio do quarto. Sem oxigênio portátil, apenas com a minha máscara enfeitada com serpentes. Quando fecho a porta atrás de mim, encaro meu quadro do lado de fora que diz "Deixai a esperança ó vós que entrais" . Trombo com Carla no corredor:
- Toni, o quê você está fazendo do lado de fora? - ela pergunta, cruzando os braços.
- Como tá de manhã e os pacientes estão todos dormindo, pensei em dar um passeio pra respirar. Bom, se o meu pulmão deixar, não é?! - digo, rindo. Percebo sua cara séria e complemento - Tá bom! Foi mal!
- Vou liberar você... só porque está com sua máscara. Não quero você grudada com...
- Nenhum paciente que tenha fibrose cística. Eu sei. - completo.
Ela abre passagem e quando passo sussuro "valeu, te amo" em seu ouvido e ela ri. Eu já tinha meu caminho traçado: eu passaria pelo corredor aberto que dá para o outro prédio do hospital e iria até a UTI Neonatal. Para uma pessoa que descobriu, não tem nem dois meses, que tem uma doença terminal, não é nada mau ver um ser tão novinho e indefeso sofrendo pela mesma causa.
Saio da ala dos quartos e passo pelo corredor do lado de fora. Fico impressionada com o jardim, com flores que eu nem sabia que existiam. Fiquei assim também na primeira vez que passei por aqui, quando estava seguindo... FOCO. Minha meta é chegar até a UTI sem pensar naquela ruiva. Chego ao outro prédio e cumprimento Julie, que ficou nessa ala, porque Carla estava de plantão na minha. Meu coração dispara ao ver a placa em cima da porta que indicava que eu cheguei onde eu queria. Atravesso e dou de cara com aquele vidro familiar, os bebês familiares e a... doença familiar. Abaixo a máscara e encosto a testa no vidro, que fica embaçado conforme eu respiro. Percebo que um bebê está olhando para mim e por mais que ele esteja fraco, seus olhos estão esbugalhados, como se pedisse socorro. Ele estende sua pequena mãozinha até ela tocar no vidro. Fico encarando aquela situação sem saber o quê fazer, até que decido retribuir o gesto. Me emociono e, pela primeira vez em toda a minha vida, eu não me importo das lágrimas caírem. O bebê me encara mais um pouco e ri, eu dou uma risada junto.
Como um ser tão bom e inocente pode sofrer dessa maneira?
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A Cinco Passos de Você | Choni
RomanceEssa é uma história inspirada no livro do filme "A Cinco Passos de Você". Só juntei o melhor livro com o melhor casal da série Riverdale!