Stuck In Your Love • l.s. abo

2. Encomenda

"É o inesperado que faz a vida incrível." Manuela Zapff

Toda aquela caminhada tinha deixado as patas de Louis bastante doloridas. Ele era um alfa de porte mediano, e por consequência, também não era um lobo tão gigante.

Só que caminhar quase três quilômetros até a floresta era como um pagamento de algum pecado. O lobo tinha sua língua fora da boca, ofegante e bastante sedento enquanto caminhava em passos curtos, pelo enorme cansaço que tinha.

Tudo bem, ele sempre entendia que todas as coisas que viesse passar de ruim eram poucas em relação a tudo que ele merecia, mas o universo podia pegar mais leve com ele, não era? Caminhar quase uma manhã inteira só porque aquela  velha maldita havia lhe chamado não era nem um pouco justo com o pobre alfa. Mas ele tinha que obedecer, afinal de contas, agora era escravo dela e das possibilidades do destino.

Louis tinha preso em seu pescoço uma coleira de couro, que na época em que ganhara era mais nova e conservada, com um pingente de pedra tendo alguma cor opaca, já que nunca percebeu uma coloração fixa ali. Em todos os seis últimos anos de Louis preso naquela forma, a pedra do colar só tinha algum efeito em seu corpo quando a velha o chamava para poder passar algum recado importante para sua jornada.

Em todas essas vezes, se tratava de uma nova possibilidade dada por ela de Louis recomeçar o que ele necessitava, tendo a tarefa de lidar com alguém que futuramente pudesse libertá-lo da situação. A pedra assumia uma temperatura quente, ao ponto de queimar o corpo do lobo, e tinha em sua cor exatamente a tonalidade dos olhos da próxima pessoa que ele se daria o convívio.

Em meio a tantas oportunidades, essa era a única vez em que a pedra havia ficado verde.

Louis não poderia achar aquela caminhada tão ruim assim, afinal, quem sabe a próxima tentativa que ele tivesse valesse a pena? 

Ele sempre se perguntava isso, todas às vezes que ia ao encontro do seu novo destino, sempre tentava colocar em sua cabeça que dessa vez poderia dar certo, que ele encontraria alguém que pudesse conviver com sua forma atual e de algum modo aceitá-la. E por consequência disso, conseguisse de algum jeito alimentar, sentimentos por ele. Sentimentos verdadeiros.

Às vezes, o alfa se sentia cansado de tentar. Em meio a todos aqueles antigos fracassos, o lobo tinha que lidar com a rejeição em relação ao jeito que ele era. A natureza dava espaço aos sentimentos de um homem, e Louis não podia se sentir pior a cada vez que uma oportunidade, dada pela velha e pelo universo, era desperdiçada porque ele simplesmente não foi o suficiente para aquilo.

Ele foi insuficiente para todas as pessoas com quem havia passado, durante muito tempo ou não. Seu atual cansaço físico não se comparava ao peso que ele carregava nas costas, ou melhor, na parte dorsal do seu corpo de lobo. 

Se distraindo em um curto momento ao avistar um lago de água limpa próximo ao seu destino, Louis caminhou até a beira e se deu a condição de beber o máximo que podia do líquido cristalino, antes de voltar a caminhar até a cabana, que não ficava muito longe dali.

— Fico feliz que tenha vindo, Louis. — A voz serena e melodiosa da velha fez o lobo querer rolar os olhos, ele até fez isso internamente, mas sabia que o ato externo não poderia dar em boa coisa. Ela era tão sonsa que lhe dava ânsia.

"Não posso dizer o mesmo." Um baixo e cansado rosnado dizia aquele seu pensamento, e a mulher por ser a única humana que entendia sua linguagem não deixou de sorrir pela resposta.

Ele continuava afiado.

— Não queria lhe fazer andar tanto, mas você sempre escolhe as cidades mais isoladas para ficar. A culpa não é minha. — Sentando em um pedaço de tronco de árvore que havia em frente a sua porta, a mulher trazia consigo um balde de água, assim como alguns biscoitos que tinha feito mais cedo. Oferecendo os mesmos a Louis, ela obteve um aceno negativo de sua cabeça. Ele não aceitaria de jeito nenhum. — Vamos lá, você não vai virar sapo dessa vez.