Cap.1
Meu nome é Carlos Silva. Tenho 17 anos. Desde o nascimento moro em Porto Alegre. Estudo desde a infância no mesmo colégio. Convivo com basicamente as mesmas pessoas a anos. Nunca houve variações. Meus amigos quase sempre foram os mesmos. Na verdade a minha vida até ali havia sido muito monótona, sem grandes mudanças. Não que isso fosse ruim, na verdade era muito bom ter sempre os mesmos amigos, eu não me sentia sozinho em nenhum momento, não tinha que me situar novamente em um local desconhecido. Mas não nego, as vezes eu me sentia extremamente desanimado, por ter que fazer as mesmas coisas de sempre.
- Animado para o primeiro dia de aula filho ? - minha mãe perguntou.
- Mais ou menos né. Só estou ansioso para rever meus amigos, porquê de resto, acredito que vai ser a mesma coisa de sempre.
MINUTOS DEPOIS
Como sempre, na entrada nada de novo. As mesmas pessoas, os mesmos rostos, as mesmas vozes. Fui cumprimentado as pessoas que me cumprimentavam, afinal depois de tanto tempo estudar ali conhecia muita gente. Fui até o refeitório, aonde encontrei meus dois melhores amigos, Diogo e Leona sentados.
- Carlos ! - Leonardo gritou, saindo da mesa para me cumprimentar - você chegou cedo, que milagre é esse ?
- Sei lá. Senti que íamos ter alguma novidade boa por aqui e então vim mais cedo - eles sabiam da minha orientação, assim como todo mundo.
- Pois seus sentidos estão mal calibrados, não há de novo por aqui.
- É... Eu já imaginava - falei, pegando o meu celular para me olhar. Eu gostava da minha aparência. Tinha cabelos lisos, longos até o ombro, pele bem branca, olhos castanhos bem claros, rosto bem bonito. Por genética eu quase não tinha espinhas no rosto.
- E aí, alguma novidade ? - Diogo perguntou, me cumprimentando.
- Não, nenhuma... Fui pra Argentina nas férias, voltei... - parei de falar quando vi uma pessoa entrando pela porta. Alto, malhado, bronzeado, cabelos até o pescoço, olhos pretos, rosto muito bem desenhado. Era lindíssimo
- Meu Deus do Céu ! - eu e minha amiga pronunciamos ao mesmo tempo, vendo aquilo. Era um Deus Grego e másculo entrando pela escola.
- Quem é ele ? - perguntei.
- Eu não sei... - nós dois olhamos para Diogo.
- Não olhem para mim assim, eu também não sei quem é... - sorri.
- Sabia que teriam novidades hoje... - o garoto olhou ao redor, parecia desvirtuado, e então continuou andando para dentro do prédio.
MINUTOS MAIS TARDE
Entrei ao lado dos garotos na sala de aula, que seria a mesma do ano passado. Sentei-me no meio da sala como costumava fazer, e não demorou muito para entrarem a professora de Matemática. O que eu estranhei foi quando a diretora entrou, seguida dele, o garoto lindo que me roubou o ar na entrada.
- Olá garotos - falou ela.
- Olá diretora - todos falaram, em coro.
- Teremos grandes novidades este ano aqui neste colégio. Pra começar, nós temos um novo aluno, Eduardo Garcia - ele apenas acenou a todos, parecia tímido. Porém, quando olhou para mim, tremi - Alunos, o nosso colégio fez uma parceria com um Grupo de Apoio a Pessoas com Problemas Auditivos e nos comprometemos a aceitar 50 novos alunos com problemas auditivos, e integra-los a sociedade comum dos jovens. Os professores que darão aula para vocês este ano sabem a língua de sinais, e vocês terão esta disciplina na Grade Curricular. Peço que recebam bem o único representante desse grupo novo aqui na sala de vocês - arregalei os olhos. Então ele era surdo e mudo... Como seria para ele estar ali ? Ele veio e sentou-se na única cadeira vazia, a minha frente na sala. Ficou quieto, acuado, sem dizer nada. A partir de então, o primeiro professor entrou. E começou a falar algumas coisas, fazendo ao mesmo tempo a linguagem de sinais, o que me deixou intrigado e ao mesmo tempo risonho, já que era engraçado ver o professor fazendo aqueles gestos. Fiquei curioso. Como ele iria se enturmar, sendo que só ele e os professores falavam a língua de sinais. Tenho certeza que quase ninguém teria disposição para aprender apenas para se relacionar com ele...
MINUTOS DEPOIS
As aulas foram passando, todas da mesma forma. Os professores eram todos novos, e sabiam a língua de sinais. Chegou o intervalo, o sinal tocou. Eu peguei as minhas coisas, me levantei. Olhei para ele, de costas, continuava lá, quieto, calado. Me deu pena vê-lo ali, sem ninguém para dar-lhe atenção. Foi então que decidi me comunicar com ele. Peguei um papel, escrevi nele. "Oi. Não quer ir para o Pátio ?". O cutuquei e quando ele virou, o olhei nos olhos. Ele sorriu, recebendo o papel. O leu, e então sorriu, me olhando. Pegou uma caneta e escreveu no papel, me devolvendo em seguida. " Quero !". Definitivamente, o olhando de perto, ele era lindissimo !
Continua
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Amor Mudo
RomansaImagine conhecer um rapaz que não escuta e nem pode falar ? E se você se apaixonasse por ele ?