Às seis horas da manhã tudo começava novamente: um sino tocava e era o momento de começar mais um dia de vigilância extrema sobre todos os comportamentos, sobre todos os pensamentos. Começava toda a atenção, todo o cuidado. Dulce acordou sobressaltada devido ao barulho alto e ouviu os três garotos acordando assustados nos quartos vizinhos. Ela se levantou soltando um suspiro, pensando no longo dia que acabara de começar.
Todos os adultos da Casa 14 tinham uma suíte, o que facilitava o cumprimento de horários, principalmente pela manhã. Todas as suítes tinham um quadro de tarefas, o qual Dulce checou ao se levantar. Hoje era seu dia de preparar o café. Outro suspiro encheu o espaço enquanto ela se arrumava e se encaminhava até a cozinha.
A caixa da manhã já havia chegado, como de costume acontecia pontualmente às seis horas, com os suprimentos para a primeira refeição e ela deveria fornecer sua digital para abri-la e retirar os produtos. Ovos, laranjas, pão, leite e café para a terça-feira. Cada refeição tinha uma série de itens rigorosamente contados que pretendia suprir as necessidades dos moradores das casas, de forma que não lhes faltassem nutrientes. Dulce revirou os olhos ao pensar nessa rigidez.
Enquanto preparava o café, alguém passou por ela dando-lhe um beijo no topo da cabeça e sussurrando.
- Bom dia, Dul.
Era Christopher. Ele se sentou à mesa em silêncio, esperando que chegassem os outros moradores, porém com os olhos fixos em Dulce, que olhou pra ele com um pequeno sorriso nos lábios como forma de resposta. Algum momento depois, o cômodo começou a ficar pequeno: chegaram Anahí com seu pequeno e doce menino Manu, Christian, Poncho e seu pequeno e falante Dani. Os meninos tinham cinco anos e as regras de conversas baixas ainda não se aplicavam a eles, o que fez com que o ambiente se tornasse um pouco menos mórbido.
- E não é justo - Dizia Dani, exasperado, enquanto Poncho o ajudava a sentar na cadeira e terminava de calçar-lhe os sapatos - Eles sempre fazem isso com a gente e temos que ficar quietos!
- Você tem que ter paciência, Dani - Poncho sussurrava - Não pode ficar dando corda para esses garotos. Saia de perto, porque você não pode se meter em encrenca.
Dani parecia furioso e Dulce pensava quanta fúria cabia contida dentro de uma criança de cinco anos. Colocando o café-da-manhã na mesa, ela notou que Maite e Artur ainda não tinham aparecido. Maite estava ainda em sua suíte, lutando contra uma criança de quatro anos que não a deixava vesti-la. Artur foi diagnosticado pelos médicos do Controle há dois anos com Autismo Leve, o que fazia com que ele tivesse algumas regras próprias a seguir, e vestir-se quando não queria não estava nessas regras. Dulce abriu a porta devagar e entrou, sentando-se ao lado de Maite, que parecia desesperada com a situação.
- Artu, vamos, filho, você precisa ir ao colégio e eu preciso ir trabalhar. Temos horário, não podemos ficar assim todos os dias... - Maite sussurrava numa tentativa de acalmar e incentivar o menino, o qual continuava lutando.
Dulce olhou em volta, procurando o brinquedo favorito de Artur, um dinossauro de pelúcia. Conseguiu encontrá-lo debaixo da cama e o entregou ao menino. Ele se distraiu por um momento, dando a oportunidade à mãe de terminar de vesti-lo. Ela agradeceu silenciosamente a amiga.
A mesa de café estava completa exatamente às seis e meia. Dulce ouviu a porta batendo seguido da inconfundível voz do fiscal da casa, Andrés.
- Bom dia, Casa 14 - O fiscal entrou na cozinha começando a fazer anotações - Vejo que hoje todos cumpriram os horários. Muito bem, tenho recados.
Já era esperado. Todos os dias os recados matinais correspondiam às ordens do Controle sobre a casa, desde compromissos agendados, até relembrá-los de assistir ao noticiário obrigatório. Dulce não conseguia olhar para Andrés enquanto ele ditava as ordens, sentia uma certa aversão a essa ladainha e a todas essas privações, porém escutava atenta a fim de evitar qualquer tipo de punição sobre a casa.
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Exílio
FanfictionApós a unificação das Américas, artistas latinos considerados Influenciadores são levados a um exílio, que tem a finalidade de corrigir a moral e os costumes dessas pessoas que têm o potencial de criar opiniões. Mudanças no sistema social fazem com...