Capítulo 10 - Recomeço

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O caminho até os Centros de Saúde foi longo. Cada carro oficial levou três dos foragidos e Dulce estava acompanhada de Anahí e Manu. Podiam ver pelos vidros uma grande diferença do México que conheciam para o México atual: antes, era um país no qual se viam cores nas ruas, pessoas alegres e música para todo o lado. Agora, isso estava banido. As regras que eles conheceram no Exílio provavelmente começaram a ser aplicadas nos países tidos como 'bárbaros', e já não havia a alegria. As ruas eram feitas de milícia, ordens providas pelos alto falantes e pouquíssimas pessoas que tinham liberdade de ir e vir.

Ao chegar no estabelecimento, foram acompanhados por um oficial até as salas de espera, onde foram recebidos por toda uma equipe. Havia médicos de várias especialidades, enfermeiros, técnicos de laboratório, psicólogos, nutricionistas. Havia também uma terapeuta ocupacional para avaliar Arturo e cuidadores para os pequenos nos momentos em que os pais estivessem sendo examinados. Tudo fora preparado com cuidado para ajudar o máximo possível o grupo que acabara de chegar.

ㅡ Bom dia. Eu sou doutor Ricardo, estarei coordenando todo o atendimento de vocês por aqui. Cada profissional já tem preparado o esquema de atenção e, qualquer dúvida, estaremos à disposição. ㅡ O doutor apontou as equipes e prosseguiu. ㅡ Cada um terá uma enfermeira encarregada de acompanhar e cuidar de vocês. Fiquem a vontade, por favor.

Dulce foi encaminhada por uma enfermeira gentil até uma das acomodações do Centro de Saúde.

ㅡ Você deve ser Dulce, não?

Ela assentiu.

ㅡ Meu nome é Lupita. Vamos começar com alguns exames. Os doutores pediram hemograma completo, exame de urina, testes ginecológicos e monitoramento de pressão arterial e de batimentos cardíacos. Você tem algum tipo de fobia em relação a agulhas?

Dulce balançou a cabeça, negando.

ㅡ Ótimo. Vamos iniciar os procedimentos, então. Qualquer dor, você me avisa, certo?

Ela permaneceu calada e imóvel durante todo o tempo. Todo o material coletado tinha sido armazenado cuidadosamente em caixas térmicas e, após alguns minutos, a enfermeira a deixou sozinha, sob o aviso de que logo seria novamente chamada para aguardar de fato as consultas, mas se sentisse algum mal estar, a campainha ao lado da maca deveria ser acionada.

Dulce estava ansiosa, sentindo aquela falta de ar comum aos momentos que não estava tranquila, porém não queria chamar ajuda ainda. Tentava pensar que ninguém tinha a obrigação de alcançar as expectativas que ela tinha sobre voltar ao México, obviamente nada seria como antes e que ela não deveria ter criado ilusões sobre isso. E cada vez mais parecia que seus pulmões ficavam menores, aceitando um volume de ar mais escasso.

Lupita logo voltou e a tirou do ciclo de pensamentos ruins e daquela acomodação, acompanhando-a a uma sala de espera bem mais acolhedora, onde ela se sentou sozinha em uma poltrona de frente para uma televisão que passava desenhos animados. Ela suspirou. Não sabia quanto tempo mais ficariam por ali, mas não ter que ver notícias sobre um país dizimado era bem mais confortante.

Enquanto assistia os personagens desastrados, imagens do passado vinham a sua cabeça: os informes que apareceram na televisão de sua casa há pouco mais de cinco anos sobre a mudança do governo, a tomada do país por um exército estrangeiro, a notícia do Exílio e finalmente o transporte até lá. Tudo era absurdo. Tudo era um experimento. Tudo era um jogo. As vidas das pessoas eram apenas brinquedos para aqueles que se colocavam como líderes da nação. E que nação era essa que não podia expressar sua cultura, seu modo de viver com alegria e livremente? Já não eram uma nação a partir do momento em que foram chamados de bárbaros. Ou sim eram uma nação de rejeitados que não recebiam tanta atenção quanto deveria. Talvez essa fosse a resposta que precisavam para acabar com essa indiferença.

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