Dulce despertou subitamente naquela noite sentindo que algo ruim estava acontecendo. O coração estava disparado e ela sentia uma espécie de aperto no peito, não podia respirar e, quanto mais tentava fazer com que o ar entrasse em seus pulmões, mais difícil era de fato fazê-lo. Ela se sentou, apoiando-se na cama, assustada, percebendo que as lágrimas começaram a cair e que isso não aliviou a falta de ar.
Pensou que era uma segunda punição. Só podia ser. Recebia uma punição para toda a casa e agora era punida por deixá-los sem comida. Cada vez era mais difícil respirar. Como pode nem ao menos tentar explicar ao policial que acalmar Artur era o procedimento correto, mesmo que estivesse no meio da rua, mesmo que precisasse falar em espanhol? O ar não entrava mais. As lágrimas corriam mais rápido.
Ela tentou alcançar o interruptor, mas alcançou uma mão. Assustou-se ainda mais, antes de ouvir uma voz familiar.
- Dulce, o que foi?
Era Christopher. Ele segurou sua mão e alcançou o interruptor que Dulce procurou em outro momento. O homem parecia preocupado e retribuiu a expressão dela aproximando seu corpo e rodeando-a com os braços. Ele a segurou como eles costumavam fazer com Artur quando ele chorava. Era uma técnica confortante, porém não estava ajudando Dulce, uma vez que ela não conseguia respirar.
Christopher a segurou forte enquanto entoava algumas palavras de incentivo como "está tudo bem", "você não está sozinha", "deve ter sido um pesadelo". Ele a soltou em algum momento, e apoiou as mãos dos dois lados de sua cabeça, mirando firmemente seus olhos, porém com alguma ternura e preocupação estampadas em sua feição.
- Você precisa me ouvir - ele dizia entre as tentativas de respiração de Dulce e seus soluços desesperados - está vendo como eu respiro? - Ele demonstrava, inspirando calmamente o ar, e expirando pela boca, no mesmo ritmo. - Tente me acompanhar, Dul. Vamos, comigo.
Inspirava.
Expirava.
Dulce olhava seus olhos, ainda assustada. Ela sentiu a pressão em seu peito se dissolver pouco a pouco enquanto tentava acompanhar a respiração de Christopher. No começo, as falhas tentativas de fazer o ar entrar fizeram com que seu choro se tornasse mais angustiante. Em pouco tempo, essas tentativas deram espaço a longas tragadas de ar seguidas de sua expulsão. Dulce continuava fitando os olhos de Christopher enquanto ele respirava com ela.
Christopher voltou a abraçá-la, tentando mantê-la em calma. Os pensamentos culpabilizantes ainda preocupavam Dulce, porém sua atenção foi desviada quando Christopher lhe perguntou ternamente, ainda com ela em seus braços:
- O que aconteceu, Dul?
Ela respirou fundo. Talvez lhe devesse uma explicação, agora que ele a tinha ajudado. Talvez ele lhe devesse uma explicação por estar em seu quarto a essa hora. Lentamente ela se afastou, voltando a recostar a cabeça do travesseiro e percebendo que ele também voltara a se deitar.
- O que faz aqui, Chris?
Dulce era a única do grupo que usava esse apelido para Christopher, já que o conhecia desde a infância. Por isso, se sentia no direito de deixar as formalidades de lado e responder sua pergunta com outra pergunta, desviando o assunto.
- Vim te procurar mais cedo. Você não parecia bem e seu quarto é de fato mais aconchegante que o meu. Acabei ficando por aqui. - Dulce sorriu levemente ao escutar as desculpas de Christopher. - Desculpe, eu devia ter saído e voltado para o meu quarto.
- Tudo bem. - Ela fez uma longa pausa antes de continuar - Estou com medo, Chris.
- Por conta das punições? Vai ficar tudo bem, saberemos lidar com isso.
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Exílio
FanfictionApós a unificação das Américas, artistas latinos considerados Influenciadores são levados a um exílio, que tem a finalidade de corrigir a moral e os costumes dessas pessoas que têm o potencial de criar opiniões. Mudanças no sistema social fazem com...