Flores de plástico também morrem

O que dizem hoje em dia

Dizem que sete importantes coisas aconteceram no dia 18 de Agosto.

Dizem, que O Beco estava em festa. Não a festa normal, que alguém da alta sociedade pode conhecer, e muito menos as reuniões de família que os Secretários fazem em dias de feriado. Oh, não. A festa d'O Beco envolve mais gente suja, fedida, de cara de poucos amigos e pelo menos duas facas escondidas na bota, envolve pelo menos três drogas branquelas sem o custo do imposto liberadas, mas bebidas aos preços mais altos.

Dizem, que estava chovendo. Não uma chuva qualquer, mas a maior tempestade de raios da história. Pelo menos 6 pessoas morreram naquela noite, seja porque foram descuidadas, seja porque subiram no monte mais alto da cidade com um pedaço de metal e apontaram pra cima, desafiando os céus a responderem.

Dizem, que era Lua Minguante. Que a lua parecia uma boca alaranjada sorrindo para todo mundo na Terra, zombando do que acontecia. Estava enorme no céu, com Júpiter ao seu lado não passando de um pontinho brilhante.

Dizem, que a Loteria foi dividida para 8 pessoas. Era dia de sorteio, o grande sorteio do semestre, quase meio bilhão de reais acumulados. Oito pessoas ganharam; um senhor d'O Beco, uma travesti do centro, três adolescentes do Sul, uma dona de casa viúva e dois policiais d'A Patrulha. Dizem que no mesmo instante a travesti foi assassinada, o senhor d'O Beco desapareceu e a Federação intimou a dona de casa a depor na central. Os adolescentes estão viajando até hoje e os policiais são agora chefes de comando.

Dizem, que Antonio Orleans morreu de overdose. Ele tinha ido n'O Beco mais cedo, a patrulha afirmou, comprou quase meio quilo de cocaína e duzentas gramas de ópio. Ambos de melhor qualidade, ambos com o selo das flores silvestres amarelas, roxas, rosas e azuis. Ele voltou pra casa, pagou a empregada e o jardineiro, ligou a televisão, e então foi encontrado de manhã, todo o conteúdo do pó esvaziado, a prova estava em manchas no seu nariz e terno. Sua mulher riu em seu enterro.

Dizem, que um cachorro foi salvo de uma enchente. Estava chovendo, muito mesmo, com raios, relâmpagos e trovões. O cachorro de cor caramelo, o mais vira-lata dos vira-latas, estava n'O Beco quando os bueiros entupiram, o lixo zombando deles, ele não conseguiu se segurar em nada, ninguém abriu a porta para os latidos medrosos e, quando a rua começou a encher d'água, o pulguento começou a se afogar. Até que a senhora da rua 12 ouviu, juntou uma corda no braço e enfrentou a enxurrada. Ela amarrou uma ponta no pescoço do animal e outra no portão de casa, junto do sobrinho eles puxaram o bicho, depois o secaram e alimentaram. Agora, ele se chama Edgar.

Dizem, que Atina Flores morreu no parto.

Seis desses fatos são mentiras. Mal explicados, errados, estragados pelo número de bocas as quais as palavras já passaram. Porém, e isto dentro de todos os poréns, Atina Flores de fato morreu logo depois de dar a luz.

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