Torta de Cereja

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O cheiro da relva, logo após o sereno da madrugada, fez dois dos garotos acordarem, antes do cheiro de calda de açúcar preencher a casa, junto com um cantarolar suave, tão doce quanto a calda.

-Meliodas? Zeldris? Acordem, meninos. O café está pronto.-Os irmãos se olharam antes de virar e cobrir a cabeça. A mulher que entrou no quarto era muito alta, fora do comum, típico de uma raça como a dela. Os cabelos avermelhados estavam presos em um coque para que ela pudesse cozinhar, e os olhos azuis brilhavam de forma intensa. Um sorriso delicado enfeitava o rosto de traços finos. Ela se sentou na cama de Zeldris, tirando o cobertor e deixando um beijo delicado no rosto do garoto.-Vamos, meu amor... Hora de acordar. Estarossa já está na cozinha. Você é mais velho, tem que vigiar seu irmão enquanto a mamãe cozinha.

-Hum...-O moreno fez charme, rolando na cama antes de se acomodar nos braços da mulher.-Bom dia, Okãsan...-O menino bocejou.-Eu vou ver o Estarossa enquanto a senhora acorda o Meliodas...

-Obrigada, meu amor.-A mulher assistiu o rapaz levantar e lavar o rosto, antes de ir para a cozinha, já conversando com o caçula. Então se deitou na cama ao lado, percorrendo os ombros do filho mais velho com o nariz.-Meu príncipe?

-Bom dia, Okãsan...

-Por que está triste? Hoje é um dia tão especial... Vocês vão poder ficar com a mama o dia todo... Você quer voltar ao palácio?

-Não!-O garoto foi rápido em girar nos braços dela, se agarrando e enterrando o rosto no colo macio.-Eu quero ficar! Eu queria nunca mais voltar...

Meliodas ouviu o suspiro triste da mulher, que o apertou ainda mais nos braços.

-Me perdoa, filho... Mama queria poder fazer mais...

-Não é culpa sua. Eu posso comer dois pedaços de torta?

A ruiva afastou um pouco o menino, dando um sorriso triste enquanto arrumava os cabelos loiros revoltados.

- Pode comer quantos quiser, meu príncipe.

Os dois foram até a cozinha, onde Zeldris tentava convencer o pequeno Estarossa a comer um pouco de ovos mexidos e torradas antes de comer torta.

-Okãsan!-O pequeno bateu as mãozinhas na mesa, tirando uma risada da mulher. Estarossa nunca havia estranhado a altura de sua mãe, apesar dos outros demônios o fazerem com frequência. Zeldris achava que por ter sido gerado no ventre dela Estarossa dificilmente teria algum tipo de receio da mãe dele.-Zeldris quer ovo...

-Oh, e já não conversamos sobre desobedecer seu irmão? Zeldris quer cuidar de você. E sabe muito bem que não pode comer doces quando quer.

-Doce não...-O pequeno estendeu os braços para a ruiva, os olhos, tão azuis quanto os dela, marejaram.-Dói... Quero leite...

-Está com cólica?-Ela o ergueu nos braços, o aconchegando no colo, massageando o ventre do pequeno com cuidado.-Filho! Por que não disse pra mamãe? Está com dor há horas.

-Por que o papai disse pra ele não contar.-Zeldris entregou, ganhando os olhos azuis.-Ele chamou o Estarossa de fraco quando ele reclamou de dor ontem... E o proibiu de contar a você.

Meliodas viu a raiva truculenta que se acendeu no olhar da mãe, e chutou a canela do irmão discretamente, aproveitando que ela se distraiu ao colocar Estarossa para mamar. Não era mais necessário, mas o leite dela ajudava a se recuperarem das feridas. Como Estarossa era o mais novo ainda podia se dar ao luxo de se aconchegar no seio da mãe.

Os dias que passavam só com a mãe eram os melhores. Não eram colocados para competir, nem pra provar a força ou para treinar até a exaustão. Eles apenas... Ficavam brincando, comendo, ajudando a mãe com a casa... Até a guerra estourar, há três mil anos.

E mesmo tanto tempo depois era impossível ver as sakuras floridas ou pingando frutas, e não pensar naquele sorriso cheio de mel e palavras açúcaradas.

Okãsan No KokoroOnde histórias criam vida. Descubra agora