Aconchego

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Zeldris não admitiria pra ninguém. Nem mesmo seu irmão caçula.

Aquela sessão de tortura contra Meliodas não lhe fazia bem.

Mas, ao mesmo tempo, ele sentia como se o vazio em seu peito estivesse confortado. Mas poderia estar torturando qualquer coisa e sentiria aquela saciedade momentânea.

Claro, ele também tinha que evitar pensar na mãe deles. Zeldris havia visto o olhar de desapontamento dela apenas uma vez na vida, e sequer havia sido direcionado a ele. Não tinha certeza se conseguiria ser durão se ela o olhasse aquele jeito.

Meliodas sentiu quatro de seus corações sendo perfurados, e decidiu se entregar a inconsciência. E sentiu um calor conhecido envolver seu corpo, como um abraço.

Os dez demônios ficaram cegos com aquela luz rosada extremamente forte. E Meliodas desapareceu junto com ela.

Do outro lado da muralha, ninguém conseguia entender o que havia acontecido. Mas Hawk, de repente, se retorceu nos braços de Ban, até poder correr ao Chapéu de Javali, sendo seguido pelos Pecados, Arthur e Elizabeth.

Uma mulher, que tinha um cheiro delicioso de calda de açúcar e frutas vermelhas, usando uma longa capa branca, estava ajoelhada ao lado da cama de Meliodas.

Ela limpava cada um dos ferimentos, e dava pra ouvir soluços bem baixinhos.

Hawk correu para o colo da mulher, choroso.

-Perdão, Lady Stella...-O porquinho fungou.-Eu não protegi o Meliodas...

-Está tudo bem, Hawk...-A mulher fez um carinho no pequeno, que respirava rápido e alto. Elizabeth viu a marca de quimadura que ela tinha no braço direito, como se tivesse colocado até o cotovelo em um tonel de óleo fervendo.-Ele vai ficar bem...

-Stella...-Merlin se abaixou ao lado da mulher, com uma expressão diferente.-Onde esteve?

-É uma longa história...-As duas deram as mãos, e a mulher olhou para a maga. Agora todos viam o rosto de traços selvagens e expressão gentil.-É bom vê-la, minha amiga.

- Quer ajuda? Sei que sempre gostou de cuidar dos meninos sozinha, mas...

-Obrigada.-A ruiva deu um sorriso de lado.-Eu posso cuidar do meu filho...-Os outros na porta entraram em choque. Exceto Arthur, que sem dúvidas achou aquela cena muito fofa.-Mas ficaria feliz se pudesse preparar uma poção pra mim...

As duas trocaram algumas palavras em língua demoníaca e Merlin se retirou. Enquanto Mama Hawk se erguia e começava a andar. Elizabeth foi a única que ficou no quarto, uma vez que Diane, King e Slayder foram auxiliar a maga no preparo da poção, enquanto Ban e Arthur foram preparar o jantar.

A princesa viu que a mulher havia parado de soluçar, mas pequenas lágrimas negras ainda caiam no lençol. As vezes manchavam a pele de Meliodas, mas ela logo as limpava.

-A senhora... É realmente mãe do Meliodas?

Ela parou o carinho que fazia no rosto do rapaz, e voltou o rosto marcado para a princesa, com um sorriso triste.

-Acho que só Meliodas pode responder sua perguntar.-Ela voltou ao que fazia antes.-Ele ser meu filho não significa que eu seja mãe dele.

Ela deitou o rosto no peito já curado, Mas não começou um choro desesperado. Apenas Elizabeth viu o capitão acordar e abrir um sorriso dolorido.

-Não diga... Bobagens... Mamãe...

•~🌸~•

-Você sabia que a mãe do Meliodas ainda era viva, Ban?

A pergunta veio de Diane, que ganhou um dar de ombros do pecado da ganância. Eles haviam acabado de jantar.

-Pra ser sincero... Eu nem sabia que ele tinha mãe.

-Hum?- Todos na cozinha deram um pulo ao ouvir o resmungo do capitão.-E de onde você acha que eu nasci, Ban?

-Eu só nunca tinha parado pra pensar nisso, Capitão. Onde está a...

-Minha mãe foi se sentar um pouco.-O loiro se espreguiçou, mas Hawk percebeu a preocupação que acendeu nos olhos verdes.-Ela ainda não viu os meus irmãos... Principalmente o Zeldris... Mesmo Estarossa sendo o único de nós que de fato foi gerado por ela... Sempre achei que a relação dela com Zeldris era a mais intensa. Eu acho que ela precisa chorar um pouco por ver os filhos sendo cruéis entre si... Isso machuca a natureza da mamãe.

-Ela é do clã dos demônios, Meliodas?

A pergunta partiu de King, que estava sentado perto da janela, em profundo silêncio contemplativo há um bom tempo.

-Não. Originalmente minha mãe pertencia ao clã das deusas.

Merlin deu um pigarro, antes de se levantar.

- Não é verdade, Meliodas. Sua mãe nunca fez parte do clã das deusas. Mas acho que seu pai nunca falou a respeito disso. Bem, eu vou me deitar também. Arthur, você também deve descansar.

-Tem toda razão, Merlin!-O rapaz se levantou, sorridente e estendendo o braço para a maga.-Eu a acompanho.

Os dois se despediram e se foram logo todos haviam se acomodado para dormir. Eles teriam uma longa viagem. Sem contar que podiam encontrar os Mandamentos a qualquer hora.

•~🍒~•

O orvalho se depositava suave na relva aquela manhã, como um beijo delicado entre as gotas e as folhas. O cheiro de grama molhada era delicioso, mas todo aquele cenário fazia Zeldris se encolher.

Ele estava escondido dos demais, mantendo sua aura ameaçadora para que eles não se aproximassem, enquanto ele permanecia em posição fetal, com a testa descansando nos joelhos. Demônios não costumavam chorar, o que de longe significaria que eles não sentem dor. Eles apenas não a expressavam facilmente, como os humanos podiam fazer.

-O que foi, Zeldris?

Um discreto Gloxinia se sentou em frente ao líder, trançando os cabelos acaju longos com paciência. Zeldris não ergueu o olhar, apenas suspirou pesado.

-Quero ver minha mãe... Gloxinia...

-Lady Stella está com Meliodas... Mas você já sabe disso. Desde que ela o salvou de Estarossa.

- Eu não tinha certeza...

-Tinha sim.-O ex-rei das fadas se acomodou nas asas, sorrindo.-Deve ir ver sua mãe, Zeldris. E não deve levar Estarossa com você.

Aquilo fez o moreno erguer o rosto, confuso.

-Mas... Minha mãe deve querer, mais do que tudo, ver Estarossa. Ele é o filho dela.

-Sua mãe não dispensou um olhar pra ele quando resgatou Meliodas. Ela quer ver você.-Ele se ergueu.-Eu vou distrair os outros. Sua mãe está a Noroeste daqui. Seja rápido.

Gloxinia se foi pra perto dos outros e Zeldris alçou voo. Com certeza não seria ele a perder a oportunidade de ver a mãe. Faziam três mil anos...

Okãsan No KokoroOnde histórias criam vida. Descubra agora