Poesias alheias

O que te contaram sobre estar morto

Acorde, penteie o cabelo
Escove os dentes
Vá para o enterro
O enterro de quem?
conte até cem

Meu amor, tem que ser bonita
Fazer dieta pra perder uns quilinhos
Ou você quer ficar pra titia?
Aproveita e já raspa uns pelinhos...

Se fizer tudo certo
Siga o caminho
Olhando de perto
isso é coisa de menininho
Tem que saber como se portar
Pra família não envergonhar
Né?

Agora só falta crescer
Achar sua metade
Sem estarrecer
Pode ser que desgaste
Mas pra todo mundo vem
Não será diferente pra ti, meu bem

Se topar com um gay
Trate com respeito
Só não quero filho meu
Andando desse jeito

Olha que cabelo lisinho!
Não estão estonteantes?
Se você se cuidar
Chega lá num instante
Mas estou falando pro seu bem
Pra relaxar, conte mais cem

Tá acabando a escola
Logo faculdade
Não pode jogar bola
Já não é pra sua idade

Depois já vem casamento
Casa
Vento
Filho no ventre
Mulher na pia
Uma verdadeira distopia

Só não te contaram
que mesmo antes do casório
Uma tragédia aconteceu
O seu velório

Bonecas têm medo de ficar só
A garganta vai dar um nó
Ou vai se abrir pra comida voltar
Porque disseram que não pode engordar
Mesmo para o ser humano mais lindo

Aí vem mais um pingo
A complacência zomba
Querida, você tem que beijar
Ir em festas, se soltar
Se encaixar é uma honra

O segredo é condescendência
Até você morrer
Te envolver de eloquência
Para enfim se convencer

Não se preocupe
Tudo acaba bem
Não viu naquele filme
Sobre o além?

Aquilo que é bem contado
Que tá na boca do povo
Que é a fórmula para tudo, menos para o novo
Desmembra até só ter sobrado
Uma alma transparente
Com destruição iminente
Pronta pra fazer a piada com a titia

Oh, mas não me leve a mal!
Só falo pro seu bem, afinal...

~AdoroPotatto