Capítulo 8 - Implorar

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Estava descendo do ônibus na rua da faculdade quando meu celular bipou indicando uma mensagem. Provavelmente era Júlia inquieta com nossa saída de mais tarde. Estava louca para conhecer o amigo de Alex. Digamos que aquela saída estava um tanto esquisita (eu e ela e Alex e um amigo)... Parecia encontro de casais. E estava quase me arrependendo disso. Achei que fosse ser algo mais casual.

            “Eu estava certo. Com ele você aceitou sair. Alex te conquistou?”

            Como?! Tive que reler a mensagem porque não conseguia acreditar no que tinha acabado de ler. Só podia ser Vincent, mas como ele conseguira meu celular?

            “Quer roubar as técnicas dele?” Enviei e não pude deixar de sorrir. Vincent parecia realmente disposto a seguir as minhas regras.

            “Você ainda nem conheceu as minhas técnicas. Garanto que não preciso roubar as de ninguém. Você vai me implorar que eu as use. Várias e várias vezes.”

            Misericórdia! Sentei no banco de pedra da faculdade porque, naquele momento, minhas pernas fraquejaram. Estava começando a gostar daquele jogo de palavras.

            “Então as use. Ainda não vi nada.”

            “Sophie...”

            Nossa! Eu queria subir pelas paredes. Sophie. Ouvia-o dizendo meu nome como fizera em sua sala mais cedo. Mas eu não podia ceder. Como ia simplesmente me render ao chefe do gabinete onde estagio? Isso ficaria péssimo para o meu TCC caso vazasse e, como confiar nele? E se eu me apaixonasse? Se eu o quisesse mais e mais? E se ele me tratasse mal mais uma vez na frente dos seus amigos?

            Nunca me fiz tantas perguntas. E se... e se...

            Sophie seja a mulher corajosa que você é. “E se” que se dane.

            “Encontre-me naquela boate em frente à praia e bem próxima ao Copacabana Palace. Sei que tem lista, mas você dará um jeito de entrar. Leve seus amigos.”

            “Como quiser.” E em seguida, chegou mais uma... “Sophie.”

................................

        Estávamos no táxi, eu e Julia, seguindo para a praia de Copacabana. Nós já estávamos acostumadas a sair nos finais de semana então não tinha me custado muito aceitar o convite de Alex. Mas qual seria a reação deles ao ver que Vincent também ia? Será que ele realmente ia?

            — Nem acredito que você convidou o assessor. Não deu para perceber que esse Alex está arrastando as asas para você?

            — E você quer que eu fique com os dois? – olhei-a. — Nada mais justo que eu decida com os dois ao mesmo tempo. – sorri sentindo um pouco de calor só ao pensar nas palavras de Vincent. “Implorar que eu as use várias e várias vezes.” Ai.

            — Péssima ideia. O Alex te convidou. Esse cara só quer saber dos amigos. Vai ver você é até uma aposta. Já pensou nisso? Se eu fosse você ficaria com o outro na frente dele.

            E se Júlia estivesse certa? Por que aceitara tão facilmente levar os amigos? Pedi isso porque queria ter certeza de que ele não me trataria mal na frente deles novamente, mas e se por trás disso existisse uma aposta?

            — Sinceramente? – ela olhou-me espantada. – Preciso beber porque você me deixou com muitas dúvidas. Mais do que já estava.

            Ficamos em silêncio durante o restante do caminho. Na verdade Júlia continuou falando, mas não consegui prestar atenção. Qual a decisão certa? Deveria dar uma chance a ele ou não? Por que eu estava tão confusa? Devia logo evitar aquilo.

            Era o que eu vinha tentando fazer... E parece que inutilmente.

            Quando chegamos à movimentada rua da zona sul da cidade, Alex e seu amigo já nos aguardavam na calçada. Exatamente no lugar onde havíamos marcado.

            Cumprimentamo-nos e conheci Leonardo, o seu amigo que também estuda Comunicação. Era uma sorte Júlia ser tão simpática e ao mesmo tempo um azar porque tratou logo de se ‘comunicar’ (flertar) muito bem com o convidado e consequentemente sobramos eu e Alex. Fomos para a fila.

            — Você está linda. – ele me falou.

            — Alex! – reclamei e lhe dei um safanão no braço.  — Não tive tempo de me arrumar e você já me viu hoje. – ele sorriu divertidamente.

            — Mas isso não te deixa menos linda.

            — Obrigada então. – sorri e abaixei o rosto, envergonhada pelo modo como ele mantinha seus olhos em mim.

            — A primeira dança pode ser minha?

            — Isso é uma boate e não um baile. Mas pode ser sim.

            E foi então que meus olhos o notaram caminhando pela calçada na direção de onde estávamos. Minhas pernas podiam fraquejar, há qualquer momento, tamanha a beleza que aquele homem exalava. Usava uma blusa com decote em V deixando um pouco do seu peito à mostra. Bem lisinho por sinal. E os cabelos. Desarrumados como eu imaginara desde a primeira vez em que o vira. Do mesmo modo que estava em sua casa. Nossa! Eu queria tanto tocar nele.

            — Sophie. – Alex pegou minha mão e acordei do transe. Ele me puxou um pouco para frente. — A fila está andando. Onde está com a cabeça?

            — Sophie? – Vincent parou bem perto de nós. Seus amigos já estavam na escada prestes a entrar sem enfrentar nenhuma fila e olhavam curiosos para o assessor. — Qual é mesmo seu nome? – ele virou para Alex. — Alex, não é? Quase não trabalhamos juntos. – colocou as mãos no bolso da calça.

            — É verdade. Os trabalhos da Sophie parecem coincidir mais com os seus. – Alex respondeu e quase abri a boca de espanto.

            — Talvez ela esteja mais focada. – ele virou o rosto na minha direção. — Não sabia que estariam aqui também. Entrem conosco. Sem fila. – ELE olhou-me com aquele sorriso lindo no rosto.

            — Ei Vincent! Vamos logo cara! – o loiro reclamou do alto da escada e decidiu aproximar-se. — Trabalhando a essa hora, cara? – ele veio debochar.

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