Hora de contar

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É segunda-feira, como sempre há aula na escola Raimon, mas para Gustavo não é apenas um dia normal. Nada mais pra ele era como antes. Sua cabeça ainda está uma bagunça. Desde sábado eles não falava com ninguém de seus amigos.
Com o comportamento estranho do filho, os pais de Gustavo Genda foram questioná-lo se algo tinha acontecido. Ele não sabia o que responder, o que dizer para os pais, não sabia se contava ou se deixava para depois, mas uma certeza ele tinha... Não iria conseguir esconder. Depois de uns segundos pensando no que iria dizer, apenas disse: "Eu vou ser pai...".
De início o pai de Gustavo achou que era brincadeira e falou para Gustavo deixar de brincadeiras, que não tinha graça, mas sua mãe sabia que aquilo não era brincadeira. Os olhos do filho não deixava dúvida que ele estava falando a verdade.
Quando o pai caiu na real que não era uma brincadeira, ele se enfureceu. Gritou com o filho, o chamou de irresponsável e muitas outras coisas. A mãe tentava se acalmar e acalmar o marido, mas sem sucesso. Gustavo chorava, sua mãe também, seu pai gritava. Os ânimos estavam muito exaltados.
Quando o pai se cansou de gritar, saiu da sala e foi para o quarto, batendo a porta com força após entrar.
Alí estava, só Gustavo e sua mãe, tentando parar de chorar. Ela o abraçou demonstrando que estava com ele, fazendo com gestos o que não conseguia dizer no momento com palavras. O filho novamente desabou em lágrimas. Gustavo nunca havia chorado tanto em sua vida.
Quando parou de chorar, começou a perguntar o que ele devia fazer. Ela não sabia ao certo o que dizer, mas tentou ajudar dizendo aquilo que parecia o certo: "Não a abandone. Não a deixe sozinha nesse momento. E se lembre que eu estou aqui ao seu lado para o que precisar... E o seu pai também, ele só está nervoso agora."
Eles continuaram conversando, tentando ver o que devia ser feito. Depois de quase uma hora nisso, eles se questionaram sobre como os pais dr Bruna iam reagir, já que, nessa situação, o lado que mais sofre é o da mulher. Já estava tarde eles foram cada um para seus quarto. A mãe ia tentar conversar com o pai depois.
Bruna ainda não havia contado e Gustavo não sabia quando ela ia contar, ou se ao menos gostaria de contar. Ele decidiu que deveria ligar para ela, mas faria isso no dia seguinte.
Na segunda-feira, o clima estava pesado. Gustavo não conseguia olhar para os pais, principalmente o pai, mas algo que surpreendeu foi logo o pai falar para ele não ir para a escola no dia. Gustavo não foi contra a ideia, ele não era de faltar, mas, no momento, ir para a escola só ia confundí-lo mais.
Gustavo foi para a casa de Bruna, eles já haviam conversado rapidamente. Depois de muito conversar, Gustavo questionou qual era o desejo dela naquilo, já que o corpo era dela, ela devia decidir isso. Sim, eles pensaram em aborto, mas no fim das contas Bruna não quis, ela havia descido que não, Gustavo apenas concordou.
Agora ela tinha que contar para seus pais, e pediu para Gustavo estar com ela no momento. Primeiro iriam contar para a mãe dela e depois para o pai. Como os dois eram separados, fazem isso com os dois juntos não ia dar certo. Fariam isso na terça-feira, depois da aula.
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Chegou a terça-feira e estava na hora de contar aos amigos. Gustavo ainda não se sentia totalmente pronto para isso, mas sabia que uma hora ou outra teria que contar e ficar enrolando só ia deixar os amigos mais preocupados.
Quando chegou na escola Raimon e encontrou seu melhor amigo Samuel Sakuma, teve que respirar para falar com ele. Samuel sabia que havia algo errado, desde sábado depois da ligação ele estava estranho e distante. Havia perguntado, mas Gustavo não quis contar, então, ele apenas respeitou a escolha do amigo, mesmo estando preocupado.
- E aí, Gustavo! - diz Samuel tentando parecer animado - Tu sumiu ontem, mano. Fiquei preocupado.
- Oi, cara. - diz Gustavo - Eu estou com uns... Problemas, mas depois eu explico isso, quero contar pra todo mundo de uma vez.
- Vai contar no intervalo, então?
- Isso... Vamos para a sala agora. - diz Gustavo - O que teve ontem?
- Para sua sorte, teve só exercício nas 4 primeiras aulas e nas outras duas foi um vídeo. Dá pra você encontrar no YouTube.
- Okay.
Eles foram andando em silêncio para a sala. Depois de uns minutos Felipe Kidou chega na sala também.
- Vocês entraram cedo na sala hoje, hein?! - diz Felipe - Como você tá, desgraçado? Tu simplesmente não deu sinal que tava bem desde sábado.
- Coisas da vida... Enfim, depois eu conto. - diz Gustavo.
Eles passaram as 4 primeiras aulas sem conversar muito, já que o clima tinha ficado estranho.
Chega então o tão esperado intervalo. Estavam lá o grupinho do terceirão reunido, estavam conversando normal, até que Gustavo, Samuel e Felipe chegaram. Os outros perceberam (menos Enzo Mamoru, ele tava boiando um pouco) que havia algo errado. Os três pareciam tensos. Gustavo pelo que tinha que contar, Samuel e Felipe por perceberem que era grave.
- Caralho, Gustavo! - diz Matheus Kazemaru - A gente tava preocupado já contigo.
- O que aconteceu? - pergunta Isabela Aki.
- É algo... Complicado. - diz Gustavo.
- O que seria complicado? - pergunta Gabriela Natsume.
Gustavo respira fundo e começa a falar.
- Sábado eu recebi uma ligação. Nessa ligação eu fiquei sabendo de uma coisa que provavelmente vai mudar o resto da minha vida.
- Ganhou na loteria? - pergunta Matheus.
- Se ele tivesse ganhado na loteria não estaria triste. - diz Gabriel Gouenji.
- Deixem ele contar! - diz Gabriela.
- Depois de sábado eu tive que ter algumas conversas e tentei colocar um pouco os pensamentos em ordem... Mas ainda me parece difícil.
- Ih, deu muito ruim. - diz Matheus.
- Fala logo o que aconteceu, mano! - diz Samuel.
Gustavo respira fundo mais uma vez e solta a bomba.
- Eu vou ser pai.
Por alguns segundos o silêncio se instala no grupo. Estão todos em choque com a notícia.
- É o quê? - Enzo quebra o silêncio.
- Pelo que eu sei, ainda não é primeiro de abril, então para de brincadeira.
- Não é brincadeira, porra! - diz Gustavo.
- Caralho, não acredito... - diz Felipe.
- É sério mesmo? - pergunta Gabriela.
- É sério, infelizmente. - diz Gustavo abaixando a cabeça.
- O bom de ser gay é que isso não acontece. - diz Matheus.
- Quem é a mãe? - pergunta Isabela.
- A Bruna... - diz Gustavo.
Todo mundo para um pouco para lembrar quem é Bruna.
- Caralho... Ela é da nossa idade... Se fosse pelo menos mais velha um pouquinho. - diz Felipe.
- O que tu... Vocês vão fazer agora? - pergunta Gabriela.
- A gente já pensou em várias possibilidades... Até aborto... Mas ela decidiu que vai ter... Eu só concordei, apesar de não querer muito. - diz Gustavo.
- Mas você não vai deixar ela na mão, né?! - pergunta Isabela.
- Não vá comprar cigarro, Gustavo. - diz Matheus.
- Para de piada, mano! - diz Samuel.
- Oxe, quem tá de piada é ele. - diz Matheus - Eu não acredito nessa não. Só pode ser brincadeira.
- EU JÁ DISSE QUE NÃO É BRINCADEIRA! - diz Gustavo exaltado, quase indo pra cima de Matheus.
- Calma, cara... - diz Samuel. - E você para de piadas, Matheus!
- Tá... Desculpa.
Eles passam o resto do intervalo tentando cair na real que Gustavo vai ser pai. Na hora de ir embora Gabriel conta para Lucas Fubuki, que fica chocado com a notícia também.
- Meu Deus... - diz Lucas - Ele parecia ser tão responsável.
- Mas teve o descuido. - diz Gabriel - Ele pediu pra te contar, porque vc não apareceu na hora do intervalo.
- Eu tava com a Ana na biblioteca. - diz Lucas - Não imaginei que teria um assunto tão sério.
- Agora já sabe. - diz Gabriel - Mas não espalhe isso, mas acho que para o seu irmão pode contar.
- Tá bom, vou guardar esse segredo.
Enquanto isso, Gustavo vai saindo rápido pra encontrar Bruna. Eles ainda terão um longo dia.

Inazuma Beherri - Os relâmpagos em SampaOnde histórias criam vida. Descubra agora