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Consegui enganar minha mãe por uma semana. Fingi que estava doente só para não ir ao colégio e olhar a cara de Shawn Mendes, mas infelizmente fui dedurada pelo meu próprio irmão e agora estou aqui, pronta e sem ânimo para estudar ou ver pessoas.

— Não entendo essa sua cara de cú — é a primeira frase que escuto do meu irmão, assim que piso os pés na sala — Eu estou falando com você, Camily.

Reviro os olhos e sigo meu caminho ainda sem  ânimo até minha cozinha.

— Bom dia, filha — dona Gina cumprimenta de maneira fofa e carinhosa.

— Bom dia! Siera já foi viajar? — pergunto enquanto vasculhava meu armário a procura do meu cereal favorito.

 — Ela saiu bem de manhãzinha.

Coloco o cereal na tijela e pego uma colher na pia.

— Ela e Brent estão se dando bem, pelo visto — afirmo dando a primeira colherada no meu cereal — Você acha que essa relação vai durar, mamãe?

Minha mãe sorri, enquanto segurava sua xícara café com as duas mãos.

— Eu tenho fé que sim, meu amor!

Me encostei no armário e aproveitei meu cereal.

— Camily, Shawn vai nós dar carona hoje — meu gêmeo aparece na cozinha com os olhos vidrados no celular.

— Eu vou de ônibus!

Cameron me olha perplexo.

— Tá brincando, né? — ele ri, como se eu estivesse contado uma piada.

— Não, eu vou de ônibus.

Cameron nega.

— Não tem ônibus que vá direto para escola, Camily — ele ri novamente — Ou você vai com a gente ou vai andando.

Eu teria que andar por meia hora, ah não!

— Vou andando! — bato a tigela na pia e saio em passos firmes, dou um beijo na minha mãe antes de prosseguir.

— Melhor se apressar para não chegar em cima da hora — ele ri entre risadas.

Abro a porta e logo sou tomada pelo frio insuportável da minha cidade. Abraço meu corpo enquanto ando pela rua, o pior de tudo é que eu não estava com roupa sufiente para me livrar daquele frio.

Eu estava congelando por teimosia.

Vasculho o bolso de trás da minha calça à procura do meu fone de ouvido. Bufo ao ver o ninho com o qual meu fone estava envolvido, demorei segundos para desenrolar e finalmente poder apreciar minha música.

Coloco na minha playlist para caminhada, a primeira música a invadir meus tímpanos foi " Sucker For Pain ", a música do filme " Esquadrão Suicida" foi uma ótima escolha para  aquele momento, comecei a cantarolar mentalmente, enquanto em pensamento, eu tentava afastar o maldito frio que me impedia de sentir meus dedos e fazia minha cabeça latejar.

" I'm just a sucker for pain ". Ela que definitivamente era a frase que definia minha vida, eu era uma completa otária para a dor.

Uma otária apaixanada pelo seu melhor amigo, que tomava remédios controlados para emagrecer, por que achava que assim teria o amor da sua vida.

Shawn Mendes era o sinônimo de dor e eu amava a dor.

Estava tão perdida na minha seleção de músicas que nem reparei que já estava no estacionamento do colégio.

Um farol alto invade meu campo de visão, tive vontade de xingar o motorista que me cegou por alguns segundos, quando volto a conseguir enxerga a primeira coisa que olho é o motorista.

Eu reconheceria aquelas íris esverdeadas em qualquer lugar, volto a andar ignorando o pisca pisca dos faróis daquele Jeep preto.

Mesmo tentando ir o mais rápido possível, meu melhor amigo aparece na minha frente, com sua jaqueta de couro por cima do moletom do time de basquetebol da escola.

Ele retira a jaqueta de couro e avança para colocar ela sobre meus ombros, me afasto com força.

— Aceita, você está congelando — ele coloca a jaqueta sobre meus ombros, mesmo eu lutando contra o gesto.

— O que faz aqui? — rangi os dentes por conta do frio.

— Não importa, vamos para o carro! — sua voz estava rígida, o que me assustou um pouco.

— Não, eu vou apé — tento voltar a andar, mas sou impedida pelo sua mão no meu antebraço.

— Você vai ficar doente, Camy — reviro os olhos.

Olho por cima do seu ombro e vejo meu irmão e Meg se aproximando.

— Camily? O que deu em você? — Megan se põe a meu lado e me abraça.

— Ela está voltando a ser a sem noção de antigamente — acusa Cameron, pelo tom da sua voz, ele parecia estar triste.

— O que deu em você, Cam? — Meg pergunta, abraço ela na tentativa de afastar o frio.

— Você está se derrubando denovo, está repetindo tudo outra vez.

Arqueio a sobrancelha. Eu já sabia do que ele falava.

— Do que está falando, cara ? — Shawn questiona.

— Fala para eles, Camily — Cam cruza os braços, com os olhos lacrimejando — Conta que você voltou a se drogar, que voltou a querer acabar com a sua vida.

Fecho os olhos. Aquilo só podia ser um pesadelo.

Há três anos atrás, eu descobri por intermédio de um site clandestino um remédio para emagrecer, ele era faixa preta e extremamente raro. Passei um ano tomando aquele remédio por não me senti bem com meu corpo, por me senti insegura ao olhar no espelho. Shawn descobriu da existência desse remédio e me obrigou a parar, me fez prometer que eu nunca mais voltaria a ver aquela droga que me fez ficar na UTI após um ataque cardíaco, por pouco eu não morri.

— Olhe para mim, Camily — sua voz parecia a mais linda melodia, mas eu não queria, não posso olhar para ele — Abre a droga do olho.

Abro meus olhos e olho para baixo.

— Olha para mim — levanto o olhar e vejo a decepção em seu rosto — Você prometeu...

Reviro os olhos. Assim como ele prometeu que nunca me abandonaria.

— Promessas foram feitas para serem quebradas — tiro sua jaqueta e jogo sobre seu carro, sigo meu caminho sem ligar para seus gritos chamando meu nome.


















nudes | s.mOnde histórias criam vida. Descubra agora