Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]

Capítulo Trinta e Um

Capítulo Trinta e Um

Uma vez que viram o crepúsculo, foram rapidamente amordaçados, as mãos atadas e os olhos vendados. Mia não quis lutar, mesmo que seus raptores não estivessem dispostos a conversar, e pediu com o olhar que Lucky fizesse o mesmo. Foram levados às cegas, com seus corpos ameaçados por pontiagudas lanças, para certamente o que deveria ser o vilarejo. O ladrão o deduziu apenas pelos diversos cheiros que se diferenciavam na natureza selvagem e o barulho humano. Por fim, foram abandonados numa sala vazia.

Quando teve certeza de que estavam sozinhos, Lucky ligeiramente se desfez da corda que prendia seus pulsos, arrancou a venda e a mordaça da boca. Varreu com os olhos a cabana que se encontrava, livre de qualquer móvel ou objeto, somente uma longa sala escura de madeira velha. Assim que encontrou a princesa, do outro lado, pôs-se de pé e apressou-se para livrá-la das cordas. Seu súbito toque lhe causou um espasmo, e teve de dizer que era apenas ele.

Cuidadosamente, arrancou a mordaça que secava seus lábios carnudos, entreabertos e ofegantes. Em seguida, observando as gotículas de suor sobre seu rosto, levantou sem pressa a venda que cobria os olhos ariscos. Lucky deixou um sorriso torto escapar, e sussurrou:

– Admito que não era desta forma que tinha imaginado nós juntos e você amarrada, Norwood.

Mia primeiramente fez uma careta, mas terminou por soltar um riso involuntário. Com um tímido sorriso, ergueu os pulsos e ele a desamarrou, sem poder evitar deixar sua mente aproveitar um pouco da criatividade, e de como poderiam viver de outra forma aquela situação.

Livrando-a das cordas, colocou-se sobre as pernas e a puxou do chão. Sentiram corpos se colarem e inconscientemente, eles deixaram-se perder, mesmo que por meros segundos, um no olhar do outro.

– Alguém precisa ensinar a esse maldito povo que não é desta forma que se deve tratar seus salvadores. Mas, obviamente você é a pessoa menos indicada para fazê-lo, não sabe como demonstrar gratidão – ironizou, tentando concentrar-se no recinto a sua volta, afastando-se dela. Não queria parecer estupidamente apaixonado.

Sentiu Mia encostar os lábios úmidos em seu ouvido, certamente sobre as pontas dos pés, e sussurrou provocativamente:

– Não se preocupe, Berbatov. Compensarei suas magoas e sentirá como se nunca tivesse acontecido. – E quando menos esperava, já sorria naturalmente, e a espiou divertidamente por cima do ombro, arqueando as sobrancelhas, surpreso. Mia lhe dava as costas, fazendo-o apenas alcançar seu rebolado. – Ah, e para constar, seria você que estaria amarrado.

Ele forçou-se a arrancar os olhos de suas curvas, e tentou concentrar-se no que acontecia a sua volta, mas somente pôde levar a sério a situação que viviam quando entendeu um forte ranger da porta de entrada.

Berbatov vislumbrou do breu da noite surgir uma silhueta, escondida por um encorpado manto negro cobrindo todo centímetro de seu corpo, com exceção do rosto. Este revelava um uma face enegrecida, com pequenos olhos se exaltando atrás da escuridão, e um horripilante e longo bico, tal como um pássaro.

O ladrão se colocou por instinto diante a princesa, controlando o reflexo de buscar uma flecha na sua aljava, pois elas tinham sido tomadas. Eles observaram a criatura adentrar o âmbito, em silêncio, e examiná-los. Mia, por teimosia, desviou de Lucky, e tentou anunciar em kadawgi quem eram e o que faziam ali.

O ser do lado oposto deixou um longo silêncio pairar no ar, antes de arrancar o capuz que cobria sua cabeça, revelando que a pele enegrecida de seu rosto, junto do longo bico, era na verdade uma hedionda máscara. Ele a levantou, revelando sua face. A cabeça um tanto quadrada revelava traços simétricos de um homem branco que deveria ter seus sessenta anos. Rugas decoravam sua testa, e os olhos castanhos avermelhados enfatizados por bolsas fixaram-se sobre Amélia, e um sorriso depravado decorou seus lábios cobertos por uma barba grisalha.