(ou A Longa Saga do Buraco Assassino Numa Rodovia Estadual na Paraíba)Cara, acho que isso não é uma crônica. Talvez nem mesmo seja literatura. Eu o definiria sendo algo como um muito-longo-e-pirado-depoimento-de-gosto-duvidoso-sobre-uma-aventura-acontecida-no-último-sábado-à-noite, resumindo. Lá vai:
Certamente, você já ouviu aquela música (ao que me parece, composta por Lulu Santos), que fez um baita sucesso anos atrás, na voz de Toni Garrido e sua Cidade Negra. Sim, refiro-me à música "Sábado à Noite", título comum ao desta humilde crônica que ouso escrever. É até bem verdade quando ela diz que "todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite", mas a verdade é que ninguém esperaria o que aconteceu na noite do meu último sábado (melhor dizendo, espero que não o último da minha vida, mas até o presente momento).
Comecemos um pouco antes do acontecido. Na sexta-feira, ficamos sabendo de certo evento, uma festa numa fazenda, no sábado, a que fomos convidados. Caaporã, PB, divisa com PE, não é de todo longe de Recife. Em boa e clara verdade, é logo ali. Não à toa, o que mais se encontra no verão de Pitimbu (o município seguinte, indo ao norte) são os recifenses. O que isso tem a ver? Leia, e verá.
Falava-lhe do convite, não? Pois sim, que seja. Ainda que dado o tiro à queima-roupa, planejamos ir à festa em tal fazenda no sábado à noite, e depois passar lá o domingo, para uma feijoada e para ver o jogo da sofrível seleção de Dunga. E fomos que fomos.
A festa, à noite, foi muito boa. Bem, eu não sei bem, porque estava tomando conta da minha filha, e não deu para curtir muito. Mas minha filha adorou! Por isso, o objetivo de minha ida já estava satisfeito. E toda a minha família também gostou muito, o que significa que não foi nada má a festa. Ótimo! Até aqui, uma história ordinária, não? Pois, então, vamos dormir. Alguém teve a infeliz idéia de pernoitar em nossa casa em Praia Azul (distrito de Pitimbu, PB - não disse que a informação seria importante?), ao desconfiar que nos faltariam leitos na própria fazenda. Assim fizemos.
Logo após a saída da fazenda, tendo atravessado a zona urbana da pequena Caaporã numa rodovia estadual, nos deparamos com um buraco assassino. Sim, um buraco assassino. O sopapo que o carro levou foi grande, assustando toda tripulação e passageiros (meu pai dirigindo, minha mãe exercendo o papel de co-piloto sonolento, e eu e minha filhota brincando no banco de trás). Numa fração de segundos, passamos por um carro encostado à nossa direita, e jovens fazendo algum tipo de sinal para nós, que não entendemos.
Tudo bem, não entendemos até passar mais um segundo ou dois, quando tivemos também que encostar à direita. O tal buraco assassino nos havia condenado à morte nossos dois pneus esquerdos. Sim, os dois, o da frente e o de trás. Os jovens do carro de trás vieram empurrando o seu Palio na nossa direção. Logo, encostava, à nossa frente, o Gol do meu tio, único veículo incólume do cenário.
"Boa noite!", disseram os jovens, enquanto pegávamos os macacos de nosso Ka e do Gol do meu tio. "Boa noite!", respondemos. "Os dois, também?", ao que respondemos, surpresos, "O de vocês, também estourou os dois?", "Foi, vocês querem ajuda?". "Muita gentileza", dissemos, "mas, e vocês?". "Estamos esperando uns amigos com um estepe extra".
Pois bem, tirar o pneu, tão seguramente preso pelo borracheiro, não estava uma tarefa fácil, e resolvemos aceitar a ajuda. Enquanto mosquitos, muriçocas, pernilongos e quaisquer outros insetos voadores nos chupavam vorazmente, com mordidas bastante doloridas para o usual, tentávamos nos concentrar na dura missão de fazer sair os pneus. Tiramo-nos, enfim, e tenho certeza de que, se fossem dotados os pneus de sangue, teriam sido levados dali por aqueles vampiros minúsculos que nos chupavam o sossego.
Você me vê a tecer queixas sobre mosquitos, e deve estar pensando que sou muito fresco. Diga, se não estava pensando nisso! Se não, agora está. Pois saiba que está redondamente enganado(a), caro(a) leitor(a). O meu quarto é um autêntico criadouro de mosquitos, uma espécie de reserva ecológica involuntária, onde eu mato dez ou quinze por noite, mas nunca me livro delas. Outro dia, acordei e elas tentavam me jogar da janela, acredite-me! Em tempos de muita chuva, acordo pensando que tenho sarampo ou outra enfermidade que nos encha de pontos vermelhos ou caroços, mas depois descubro que se trata apenas de mordidas de muriçocas. Burro, eu? Não. É que nem o repelente dá conta. E se a isso já estou acostumado, imagine-se em meu lugar, querendo me queixar de chupadas mosquitais.
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