Prologo

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No silêncio profundo, afundando-se no abismo, agora estava. Envolto por sombras e vultos, todo o ambiente girava. As lembranças daquilo que fora não vinham mais à memória.

Deitado sobre o campo de cinzas, acordou ouvindo as batidas lentas do coração estremecendo por todo o corpo.

O homem de manto negro, com capuz cobrindo o rosto, levantou-se. Observava tudo à sua volta.

O céu estava amarelo e laranja com filetes de vermelho e dourado. Pilares brancos sobressaiam junto a templos em ruínas. Sobre eles, animais abertos ao meio e crucificados, davam cor às estruturas.

Enquanto caminhava sem destino, folhas caíam vindas do infinito acima. Um cervo, com centenas de chifres em sua galhada, caminhava onde a névoa se concentrava, próximo a troncos de faias que começaram a aparecer no ambiente brumoso.

O homem caminhou na mesma direção, mas não conseguiu alcançá-lo. Prosseguiu, sentindo suas lembranças e seus sonhos fluírem abaixo de seus pés descalços.

À frente estava uma clareira onde a névoa se dissipava. Podia-se sentir o aumento da umidade do chão. Deparou-se, enfim, nas margens de um riacho de águas calmas.

Uma garotinha o fitava, sentada em um banco de pedras, além da margem. Os olhos cor de prata refletiam a luz no espelho formado na água. Seus longos cabelos brancos, caíam-lhe sobre o corpo despido, escorrendo como um manto desfiado até tocar o chão.

– Há muito o esperei e sabia que viria. – Disse a menina.

– Perdoe-me, mas creio não conhecê-la ou não me recordo de já termos nos encontrado.

– Não faz diferença, está tudo bem...

Permaneceram em silêncio se olhando por um tempo, o homem se sentia em um sonho confuso, não sabia ao certo o que dizer.

– Você está fora da Roda da Vida por uma força maior e não teve escolha sobre isso. Por aqui não poderá avançar e terá de voltar, novamente. – Ela falou.

– Por quê? O que há de errado? – Novamente?

– O desequilíbrio que ocorreu há muito tempo pode ter causado isto, no entanto é um mistério. Você ainda tem uma longa jornada.

– Apenas pretendo retirar-me para o descanso...

– Não seja tolo como todos, Horus, eles não fazem questão de tentar, este caminho é deprimente. Se for por aqui, não poderá continuar.

– Como sabe o meu nome?

– Sou você, assim como você sou eu.

Ele a observava em silêncio.

– Continue seu caminho. Suas vibrações e sua energia vital a tudo estão ligadas. Entretanto, a tudo e em relação a todos, elas se diferem. Por isso seu destino o trouxe aqui.

– Não tenho motivos para me alegrar a respeito do que tive ou do que tenho. Creio ter deixado o Plano Material há tempos e só desejo partir...

– Este plano é só uma passagem e por aqui só há um caminho... Você vive e vai voltar. Um selo em sua existência você recebeu do Cosmus. Você não pereceu! Apenas dorme... Este é mais um sonho.

Notou uma movimentação atrás da menina e percebeu uma forma observá-lo do tronco de uma árvore. Um rosto sem expressões e com três olhos dispostos de forma triangular o encarava. Horus voltou o foco para a garota e tornou a olhar para o tronco, porém, ali não havia mais nada.

Faces / Caius AugustusOnde histórias criam vida. Descubra agora